Jornalista e
blogueiro paranaense, Esmael Morais é responsável pelo Blog do Esmael, um dos
sites políticos mais acessados do seu estado
12 de Julho de
2017
A Origem
O sertanejo é
antes de tudo um forte. Cunhada pelo escritor Euclides da Cunha, a frase parece
se ajustar à personalidade de Lula desde seu nascimento. Nordestino, pobre,
sétimo filho de um casal de lavradores analfabetos, Luiz Inácio Lula da Silva
nasceu em 1945 numa casa de dois cômodos e chão de terra batida no Semiárido
pernambucano. Sem luz, água encanada, banheiro ou sapatos, o menino tinha 7
anos quando montou num pau-de-arara e, cumprindo a sina de milhares de outros
brasileiros, “despencou” para o sul-maravilha com a mãe e os irmãos, a fim de
reencontrar o pai, que havia retirado semanas antes de Lula nascer, em busca de
uma vida melhor longe da seca e da miséria. Instalado no litoral paulista, Lula
começa a trabalhar ainda criança, no cais de Santos, para ajudar nas despesas
de casa. Ambulante aos 8 anos e engraxate aos 9, vira ajudante de tinturaria no
início da adolescência, quando muda-se para São Paulo com a mãe, agora separada
do pai, e os irmãos solteiros. Conclui o ginásio e, empregado numa metalúrgica
aos 14 anos, é admitido no curso técnico de torneiro mecânico do Senai.
O Brasil
avança com a lufada desenvolvimentista promovida pelo presidente Juscelino
Kubitschek. A região do ABC, na Grande São Paulo, torna-se a mais
industrializada do país, atraindo algumas das principais metalúrgicas do mundo,
como as motadoras Scania e Volkswagen. Sertanejo e forte, Lula é um dos muitos
migrantes nordestinos a se instalar no chão da fábrica e fazer da metalurgia a
sua profissão. Ele tem 17 anos quando perde o dedo mínimo da mão esquerda num
acidente de trabalho, em 1963, e 18 por ocasião do golpe militar, em 1964. O
fim das liberdades democráticas, a disseminação da censura e a instalação do
aparato repressivo coincidem com um longo período de retração da economia,
acompanhada de desemprego, abusos trabalhistas e inflação.
Ainda
fascinado com o tamanho e as possibilidades da cidade grande, uma realidade
muito melhor do que a da seca de Pernambuco, Lula é convencido por um irmão,
militante do então clandestino Partido Comunista Brasileiro, a frequentar
reuniões no sindicato. Pela primeira vez, trava contato com as agruras da
classe trabalhadora e aprende expressões como arrocho salarial, caristia e
fundo de greve. Negociador habilidoso, é convidado a ocupar uma vaga de
suplente na diretoria do sindicato que viria a ser eleita no início de1969,
inaugurando assim sua trajetória de líder sindical.
A Atividade Sindical
A vida
continua a impor desafios a Lula e cobra um preço alto. “Vai melhorar”, ele
ouve constantemente de sua mãe, Dona Lindu. Torneiro mecânico e suplente da
diretoria do sindicato, Lula se casa aos 23 anos. Dois anos depois, perde a
mulher, grávida de oito meses, vítima de uma hepatite agravada por uma anemia e
pela negligência dos profissionais de saúde que a atenderam. O filho, um
menino, também não resiste. Para driblar a depressão, mergulha no trabalho e,
habilidoso, é convocado a assumir um cargo na diretoria do sindicato, trocando
pela primeira vez o turno na fábrica por uma sala na sede da entidade.
Elaborado o luto pela morte de Lourdes, volta a frequentar bares e festas e
engata um namoro atrás do outro. Com Miriam Cordeiro, uma das namoradas, tem a
primeira filha, Lurian. Casa-se pela segunda vez, com a também viúva Marisa
Letícia, com quem teria três filhos (Lula também registraria o enteado Marcos,
filho de Marisa que não chegou a conhecer o pai biológico). Em 1975, antes de
completar 30 anos, é Lula quem assume a presidência do sindicato.
A segunda
metade dos anos 1970 é caracterizada pela radicalização dos movimentos
reivindicatórios da classe trabalhadora. Uma vez reprimida violentamente toda
forma de oposição à ditadura, do movimento estudantil às organizações armadas,
passando pela cassação de parlamentares e proibição de partidos, a atividade
sindical vira uma espécie de ponta de lança da contestação, atraindo o
entusiasmo e a solidariedade de militantes de esquerda que já não encontravam
espaço para atuar em suas áreas de origem, da Igreja à Universidade. Entre 1978
e 1980, Lula comanda greves gerais que assumem proporções impensáveis,
firmando-se como o maior nome da oposição no cenário político do país. Em 19 de
abril de 1980, é preso e passa 31 dias na cadeia. Libertado, retoma a atividade
sindical e política. Fundar um partido para conquistar espaço nas esferas
decisórias, tanto no Executivo quanto na formulação de leis mais justas para os
trabalhadores, torna-se uma meta, uma missão inevitável.
A Trajetória Política
Surge o maior
e mais importante partido político da redemocratização. Concebido no cotidiano
de lutas do movimento sindical, o PT é prontamente apoiado e influenciado por
intelectuais, religiosos, artistas, estudantes e militantes egressos da luta
armada. Lula é seu primeiro presidente. Em pouco mais de duas décadas, sua
presença incisiva e quase onipresente como porta voz dos trabalhadores, e
principal líder da oposição, deixaria marcas importantes no modelo de
democracia instalado no país. Nesse período, foi provavelmente o principal
articulador e incentivador da Central Única dos Trabalhadores, cuja diretoria
não pôde integrar em razão da atividade política partidária; organizou um
comitê supra-partidário em prol das eleições diretas e promoveu o primeiro
grande comício das Diretas Já, ainda em 1983; foi o deputado federal mais
votado do Brasil em 1986; atuou na formulação da Constituinte, garantindo a
inclusão de direitos civis e sociais como o direito à greve, a
licença-maternidade de 120 dias e a redução da jornada de trabalho de 48 para
44 horas semanais; epor muito pouco não foi eleito o primeiro presidente da
República após 29 anos sem eleições diretas.
Nos anos 1990,
esteve à frente do Instituto Cidadania, no qual foram formuladas algumas das
mais significativas políticas públicas implementadas na década seguinte, como o
Fome Zero, e presidiu o PT na campanha pelo Impeachment de Collor e por ocasião
da implementação de algumas das mais importante CPIs do período, como a que
denunciou a violação do painel do Senado, em 1991, e o escândalo dos anões do
Orçamento, em 1993. Ao longo dos oito anos de administração de Fernando
Henrique Cardoso, fez oposição à política econômica recessiva, à manipulação do
câmbio de modo a manter a moeda artificialmente forte, à compra de votos em
troca da aprovação do projeto de lei que garantiu o direito à reeleição, em
1997, e à mal gestão do dinheiro público em programas como o Proer, de
recuperação de instituições financeiras, e em privatizações de empresas como a
Vale, leiloada por um preço bem abaixo do que de fato valia. Após três
campanhas eleitorais frustradas, Lula foi finalmente eleito presidente da
República em 27 de novembro de 2002.
A Presidência da República
Lula é o
primeiro operário a instalar-se como inquilino no Palácio do Alvorada. Seus
dois governos são marcados principalmente pela implementação bem sucedida de
programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, e de acesso dos mais
pobres a linhas de crédito, salários mais altos, geração de empregos e melhor
qualidade de vida em educação (Prouni, 14 universidades criadas…), moradia
(Minha casa, minha vida), infra-estrutura e saneamento (Luz para Todos,
Programa de Aceleração do Crescimento) e outros. A relação do governo com a
população ganha uma outra qualidade, com a realização de mais de 70 conferências
nacionais e a abertura sistemática do Palácio do Planalto a diferentes grupos
da sociedade civil organizada. Reeleito para um segundo mandato, Lula realiza o
feito inédito de eleger sua sucessora, Dilma Rousseff, e chega ao final do
governo com recorde de popularidade: sua administração é aprovada por 87% da
população em dezembro de 2010, diz o Ibope. As estatísticas de desemprego e de
famílias abaixo da linha de pobreza são as menores desde o início dessas
medições.
Blog do Esmael
0 comentários:
[ Deixe-nos seu Comentário ]