13/02/2018 - O
que teve início no domingo (11) com a Estação Primeira de Mangueira e a
estreante Paraíso do Tuiuti – que alvejou o governo Temer em seu primeiro
desfile na Marquês de Sapucaí – se
repetiu de forma ainda mais chocante na avenida do samba carioca. Com um enredo
que caprichou na crítica ao poder e à corrupção no Brasil, a Beijar-Flor de
Nilópolis levou ao grande público um Congresso com ratos. E, para traduzir a
revolta popular com os poderosos, retratou a cena em que o ex-governador Sérgio
Cabral, preso em desdobramentos da Operação Lava Jato, celebra a gastança com
dinheiro público em uma patética performance com guardanapos na cabeça,
acompanhado pela esposa Adriana Ancelmo, também condenada, e alguns de seus
aliados na corrupção em um restaurante de luxo em Paris.
Na escolha da
simbologia, a Beija-Flor caprichou na ilustração do famoso jantar, em um
restaurante luxuoso na capital francesa, em que Cabral, auxiliares e
empresários que tinham negócios com o estado confraternizam com guardanapos na
cabeça. O episódio ficou conhecido como a “farra dos guardanapos”. E, na triste
crônica política do Rio e do Brasil, demonstra a que ponto podem chegar agentes
públicos e privados no deboche à sociedade desamparada.
Com o enredo
“Monstro é aquele que não sabe amar – Os filhos abandonados da pátria que os
pariu”, a agremiação liderada pelo intérprete Neguinho da Beija-Flor decidiu
arriscar e, se não primou pelo rigor técnico, segundo especialistas,
privilegiou o impacto. Para tanto, mostrou os efeitos da corrupção para a
principal vítima, as classes menos assistidas, de uma forma aguda: crianças em
caixões, policiais mortos e até uma encenação de um aluno disparando tiros com
arma de fogo em colegas. No lugar das fantasias luxosas e alegorias suntuosas,
farrapos e trapos a conotar a miséria do povo enganado. Nas alas, diversas
referências a políticos corruptos com suas malas de dinheiro e cédulas mal
escondidas em ternos.
Na sinopse do
enredo disponível em sua página na internet, a agremiação já havia sinalizado o
que levaria para a passarela do samba. “Somos parte de um sistema doentio, onde
uma desigualdade se alimenta do descaso, formando uma geração dominada pelo
caos e vitimada pelo abandono. […] Cavaleiros do Apocalipse político camuflados
com ternos e gravatas espalham a morte, a fome e a violência. O favelado não
tem pra onde fugir e o refugiado da seca continua sem esperança de encontrar a
terra prometida. Há aves de rapina no poder!”, registra a escola de samba,
partindo para a referência ao prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella
(PRB), sem citar seu nome. Ontem (segunda, 12), depois dos protestos diretos da
Mangueira – que instalou um boneco gigante do político em um carro alegórico,
em alusão ao Judas bíblico –, a Prefeitura do Rio emitiu nota para lamentar a
“falta de respeito e ofensa gratuita”.
“Em templos
luxuosos, falsos profetas exploradores da boa fé cobram dízimos celestiais,
perseguem crenças diferentes, sufocam manifestações culturais e fomentam uma
guerra santa: o sagrado versus o profano, a batucada proibida, a roda de samba
coibida, a bebida no boteco, tudo é coisa do ‘coisa ruim’! […] Não, não será
agora que o ‘bispo’ dará um xeque-mate no nosso ‘rei’ que é Momo, que é da
folia, que é do povo. Mais uma vez a vitória será da velha ‘dama’ e dos
‘peões’”, acrescenta a Beija-Flor, referindo-se ao fato de que o evangélico
Crivella, um dos líderes da Igreja Universal do Reino de Deus, anunciou como
uma de suas primeiras providências como prefeito, no início de 2017, o corte no
financiamento das escolas de samba, abrindo uma guerra com diversas comunidades
e o setor cultural como um todo.
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