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Moro e Malucelli (primeiro à esquerda), num show de Fagner |
Por Joaquim de
Carvalho | 09/03/2018
A 49a. Fase da
Operação Lava Jato jogou os holofotes da Polícia Federal para Delfim Netto,
poderoso no passado, hoje quase um zumbi.
Não significa
que não deva responder por crimes que tenha praticado.
Mas esta
investigação não será justa se não apresentar em todos os seus contornos o
papel do empresário Joel Malucelli, dono de uma empreiteira que participou do
esquema de corrupção que, segundo a Lava Jato, superfaturou a construção da
usina de Belo Monte. O consórcio de empreiteiras teria pago propina para Delfim
Netto.
Até aqui, o
nome de Malucelli tem sido preservado, o que é altamente suspeito, já que, em
Curitiba, é conhecida a sua amizade com o juiz Sergio Moro. O primeiro a tratar
dessa relação foi o empresário Mário Celso Petraglia, que foi presidente do
Atlético Paranaense.
Em 2014,
Petraglia compartilhou em sua página no Facebook uma nota que associava
Malucelli e Sergio Moro. Dizia a postagem:
– Segundo
informações de pessoas próximas à Operação Lava Jato, o informante do Juiz
Federal Sérgio Fernando Moro nas investigações seria Joel Malucelli, suplente
do Senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Segundo
Petraglia, Malucelli já era tratado de senador pelos amigos. A razão é que,
pela articulação em curso, Malucelli assumiria o senado na hipótese de Aécio
vencer as eleições.
É que o
empresário amigo de Moro é suplente do Álvaro Dias, na época cotado para
ministro num hipotético governo do PSDB.
É o que
explicaria o avanço da Lava Jato contra o PT, Lula e Dilma, que teve seu apogeu
no vazamento distorcido de um depoimento de Aberto Yousseff — uma espécie de
doleiro de estimação de Moro —, às vésperas da eleição.
Com o
vazamento, Veja antecipou a edição em que Lula e Dilma apareciam acima do
título com a informação falsa de que Yousseff teria dito que os dois sabiam do
esquema de corrupção na Petrobras.
Apesar do
golpe baixo, Aécio perdeu, mas a Lava Jato continuou mais poderosa e o que
aconteceu todos sabem: Dilma caiu, num ambiente político contaminado pelos
vazamentos cada vez mais frequentes dos processos sob condução de Moro.
A postagem de
Petraglia não está mais em sua página no Facebook e ele acabou implicado em uma
denúncia antiga, tirada dos arquivos da Polícia Federal, que se transformou em
um processo por lavagem de dinheiro, na Vara de Moro. Nada a ver com a Lava
Jato, mas com outras ações do ex-presidente do Atlético Paranaense.
Petraglia não
fala sobre o episódio (eu o procurei em Curitiba), mas registros da denúncia
que apontou a ligação de Moro com Malucelli ainda estão disponíveis na rede
social.
O grupo
Malucelli, com um patrimônio avaliado em R$ 2 bilhões, possui mais de 40
empresas, atuando desde a construção pesada até meios de comunicação,
intercalando usinas hidrelétricas, sistema financeiro, futebol entre outros.
Malucelli é
dono de emissoras de rádio, da TV Bandeirantes em Curitiba e Maringá, além de
ser banqueiro e empreiteiro , com participação em diversos pedágios no Paraná.
É proprietário
do Paraná Banco e, em 2008, constituiu a primeira resseguradora privada do
Brasil. O Grupo J. Malucelli foi, por meio de sua seguradora, a pioneira na
emissão de apólices pela internet.
A Band News,
uma de suas emissoras, teve acesso em 2006 a uma cópia de grampos de conversas
telefônicas e ambientais que mostravam
Moro em conversas constrangedoras
Em uma delas,
conversando com o amigo e advogado Carlos Zucolotto Júnior, Moro quebra o
sigilo de uma investigação ao comentar a prisão de algumas pessoas envolvidas
em denuncia de crime de colarinho branco — um desses presos é negro e Moro fez
referência à cor de sua pele com um vocabulário que, se a conversa fosse
vazada, comprometeria sua imagem de homem educado. Zucolotto ligou para dizer
que Moro estava famoso, e ouviu os comentários desairosos do amigo.
Mas a Band
News não divulgou o grampo. Os jornalistas envolvidos na cobertura dizem que
não foi por pressão de Malucelli. Teria sido avaliação dos próprios
profissionais, que não quiseram divulgar as conversas em razão da origem
clandestina das escutas.
O empresário,
entretanto, não é do tipo que dá carta branca a seus subordinados. Em outro
episódio, ele mandou embora jornalistas que fizeram a cobertura crítica da
tentativa de mudança do sistema de previdência da Assembleia Legislativa.
A lei acabou
não aprovada. Mais tarde, um dos jornalistas demitidos acabou descobrindo que
Malucelli perdeu muito dinheiro com essa derrota. Seu banco, o Paraná, é que
administraria o fundo de previdência que seria criado.
Malucelli
continua poderoso no Estado. Ele é presidente do Podemos, o partido a que o
senador Álvaro Dias se filiou depois de deixar o PSDB.
Com 4 anos de
seu terceiro mandato consecutivo, que vai até 2022, Álvaro Dias é pré-candidato
a presidente da República. Tem chances mínimas de se eleger, mas pode ocupar um
espaço que o leve a um ministério em 2019. Com isso, Malucelli poderia se
tornar senador e transformar em realidade o desejo dos amigos.
A Lava Jato,
até agora, não tem sido obstáculo a seus planos.
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Malucelli e Álvaro Dias, os manda-chuvas do Podemos |
PS: Há na rede
social uma foto em que Moro aparece com Malucelli. É de maio de 2015 e foi
publicada na coluna de Cícero Cattani. Ele diz:
O juiz Sérgio
Moro foi a figura mais assediada durante a festa de comemoração pelos dez anos
da Abrabar-PR (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), no bar Santa
Marta, na noite de segunda-feira. Cumprimentado pelas autoridades presentes
pelo trabalho que realiza a frente da Operação Lava Jato e muito solicitado
para selfies, ele assistiu ao show do cantor Fagner, principal atração da
festa, num camarote acompanhado da mulher, Rosângela, e alguns amigos.
Na foto, o
juiz federal Sérgio Moro (de camisa preta) com o deputado estadual Ney
Leprevost, o empresário Joel Malucelli (ambos à esq.), o Ouvidor Geral de
Curitiba, Clóvis Costa (de camisa branca), o cantor Fagner e o presidente da
Abrabar-PR, Fabio Aguayo (com a placa na mão), na festa pelos dez anos da
entidade no bar Santa Marta – Pedro Mariucci Neto.
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