Leonardo
Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247, além de colunista das
revistas Istoé e Nordeste
12 de Março de
2018
Abatida pela
Operação Carne Fraca 2, a Brasil Foods, uma das maiores empresas nacionais,
fruto da associação entre Sadia e Perdigão, duas das marcas mais respeitadas
pelos consumidores brasileiros, foi a bola da vez no alucinante processo de
destruição de riquezas que tem sido consequência da hipertrofia judicial no
País. Num único dia, as ações da companhia perderam 20% de seu valor. Ou seja:
um quinto de um trabalho construído por milhares de trabalhadores, ao longo de
oitenta, anos, simplesmente evaporou. Um dia depois, as exportações de três
frigoríficos da empresa para mercados da Ásia, da União Europeia e para Israel
foram suspensas. O motivo: as suspeitas levantadas por uma funcionária numa
ação trabalhista, que acabaram motivando uma espalhafatosa operação policial
decidida em primeira instância.
Depois dessa
operação, a BRF se soma a várias outras grandes multinacionais brasileiras que
vêm sendo varridas em investigações sobre corrupção. Basta citar Odebrecht,
Andrade Gutierrez, Camargo Correa, JBS e a própria Embraer, que está prestes a
ser vendida para a Boeing, depois de também ter sido acusada de pagar propina
para vender aviões na América Central. Será que tudo isso acontece por acaso?
Será que o mais intenso ataque à burguesia nacional, que conta com o apoio
operacional de instituições do próprio País, não acaba servindo –
intencionalmente ou não – a interesses internacionais?
No caso da
BRF, a primeira questão a se colocar é simples? Consumidores da China, da
França, da Alemanha e de outros países que importam produtos da Sadia e da
Perdigão comerão menos carne de frango? Provavelmente, não. E quem se
beneficia? Hoje, o Brasil é o maior exportador do mundo, com vendas anuais da
ordem de US$ 6,3 bilhões. Depois do Brasil, quem aparece? Estados Unidos, com
exportações de US$ 3,5 bilhões, e Holanda, com vendas anuais de US$ 2,5
bilhões. Ou seja: como diria Tim Maia, um nasce pra sofrer, enquanto o outro
ri.
Se isso não
bastasse, executivos da empresa, incluindo um ex-presidente, foram presos
porque a Justiça buscou uma forma de driblar decisão do ministro Gilmar Mendes,
do Supremo Tribunal Federal, de proibir conduções coercitivas – que, na
prática, são prisões para ouvir investigados. Como o STF disciplinou a questão,
a resposta do Judiciário empoderado foi decretar prisões temporárias, com a
única finalidade de se obter depoimentos. Ou seja, um juizado de primeira
instância decidiu aplicar o drible da vaca no STF.
Diante de
tanta destruição de empregos e riquezas, a questão que fica pairando no ar é
muito simples: até quando a burguesia nacional vai assistir impassível à sua
própria destruição? Ou será que vamos todos nós nos conformar em sermos
vendidos a fundos americanos ou estatais chinesas? Coincidência ou não, a BRF
já é vista como presa fácil para uma eventual venda.
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