"Para que essa comparação não fosse uma farsa, seria simples:
bastaria o DataFolha manter os dados da pesquisa anterior, ou seja, os mesmos
candidatos e os mesmos cenários. Só nesse caso, a comparação seria
metodologicamente legítima. Se novos candidatos entraram, e outros saíram, que
se fizesse uma pesquisa à parte. Já que era sabido, desde o início, que a atual
pesquisa, se destinava a fazer a comparação entre a situação de janeiro e esta
agora, após a prisão", diz o jornalista
16 DE ABRIL
DE 2018
Por Bajonas Teixeira, no Cafezinho – A pesquisa
divulgada neste domingo pelo DataFolha nos faz crer que Lula caiu de 37 para
31% nas intenções de voto, e que isso é consequência da sua
prisão. No entanto, ao analisar o artigo do diretor-geral do
DataFolha, Mauro Paulino, publicado no portal UOL, aparecem graves motivos para
duvidar desse resultado. O pior deles é que foram mudados os cenários e o
número de candidatos e isso, como diz o diretor-geral, impede que se compare as
duas pesquisas. No entanto, como vamos ver, ele mesmo foi o primeiro a fazer
essa comparação.
Mas, como evitar a comparação? A
pesquisa foi feita justamente para comparar o cenário atual, após a prisão, com
o de janeiro. E o país inteiro, nesse momento, está fazendo essa
comparação – ilícita, diz o diretor-geral do DataFolha – do Lula com 37 % em janeiro com o
Lula com 31% hoje.
E o primeiro a fazer o que não deveria ser feito foi o próprio
diretor-geral do DataFolha em seu artigo. Como pode isso? Vejamos a coisa de
perto.
O artigo do diretor geral do
DataFolha Mauro Paulino causa perplexidade. Como se sabe, a
consulta eleitoral é um caso extremo de expressão da opinião pública. E a
opinião pública mostra linhas de coerência, tendências gerais, que não podem
estar em relação assimétrica, ou inversa, sem nos despertar desconfiança. E é
esse o caso da pesquisa do DataFolha. Diz o diretor-geral comentando a pesquisa
que:
“o potencial do ex-presidente como cabo eleitoral oscila positivamente,
e a rejeição à sua candidatura, ao invés de crescer com sua prisão, cai quatro
pontos percentuais.”
Isso é totalmente incompatível com
uma queda nas intenções de voto em Lula. Não é possível que duas tendências se acentuem positivamente para
Lula (ou seja, que se torne um cabo eleitoral mais forte e que sua rejeição
caia quatro pontos percentuais) e outra variável, derivada dessas duas, a
intenção de votos nele, siga trajetória negativa, ou seja, que passe de 37 (em
janeiro) para 31% das intenções de voto (em abril).
Só num país de loucos varridos, se poderia crer que esse saco de gatos
disparatado de tendências (positivas e negativas) poderia descer goela abaixo
dos leitores. Ou seja, parece que estão servindo gato por lebre.
O pior é que os dados positivos para
Lula não constam do artigo principal em que o UOL hoje, o portal da Folha,
divulgou a pesquisa: Prisão enfraquece Lula e põe Marina
perto de Bolsonaro, diz Datafolha
Além disso, outra surpresa, justamente na pergunta principal do
DataFolha. Diz o seu diretor:
“Nas respostas espontâneas, sem o
estímulo do cartão que contém os nomes dos candidatos, menções ao ex-presidente
caem quatro pontos percentuais em relação ao levantamento de janeiro.”
Ou seja, pergunta-se algo como “Em quem você votaria para presidente
esse ano?”, sem mostrar nomes ou imagens de candidatos, e aí verifica-se que as
“menções ao ex-presidente caem quatro pontos percentuais em relação ao
levantamento de janeiro”.
A primeira coisa curiosa, é que segundo o artigo “os demais candidatos
não crescem”. Para isso, porém, ensaia-se uma explicação: a do aumento
significativo das declarações de voto nulo ou em branco: “21% dizem que votarão
em branco ou nulo, um patamar inédito em pesquisas eleitorais a seis meses do
pleito.”
No entanto, o que mais acende o
alerta crítico em relação à pesquisa é que, precisamente após trazer essa
informação fazendo a comparação com a pesquisa de
janeiro, se diz que essa comparação não pode ser feita. Repito para
o leitor, para que esse ponto fique absolutamente claro. O diretor do DataFolha
acaba de afirmar o seguinte: “menções ao ex-presidente caem quatro pontos
percentuais em relação ao levantamento de janeiro”.
E ai, quase na frase seguinte, nos brinda com essa pérola:
“Os resultados das perguntas sobre o primeiro turno não permitem
comparações com os da pesquisa de janeiro porque os cenários testados são
diferentes, com inclusão de novas candidaturas e exclusão de outras.”
Ora, como não se o diretor-geral do DataFolha inicia seu artigo
justamente com essa comparação? Além disso, como não fazer a comparação se toda
a pesquisa é destinada justamente a fazer essa comparação, isto é, comparar as
intenções de voto em Lula de janeiro com a mudança nessas intenções de voto
após sua prisão?
Para que essa comparação não fosse uma farsa, seria simples: bastaria o
DataFolha manter os dados da pesquisa anterior, ou seja, os mesmos candidatos e
os mesmos cenários. Só nesse caso, a comparação seria metodologicamente
legítima.
Se novos candidatos entraram, e outros saíram, que se fizesse uma
pesquisa à parte. Já que era sabido, desde o início, que a atual pesquisa, se
destinava a fazer a comparação entre a situação de janeiro e esta agora, após a
prisão.
Sem ter feito isso, foi como se vândalos mudassem inteiramente não o
cenário mas sim a cena do crime.
É preciso lançar todas as luzes da suspeita sobre essa pesquisa. Sobre
esse estranho procedimento metodológico e sobre a própria estratégia de
divulgação. O PT deve pedir o estudo pormenorizado dos seus dados, das suas
perguntas e dos seus cenários. Ver o quanto essas alterações podem ter tido
efeito manipulatório e, se for o caso, denuncia-la.
Não podemos esquecer que não há um abismo entre a situação de Lula em
janeiro e a situação dele em abril. Se agora ele está preso, em janeiro já
estava condenado e, mais que condenado, massacrado diuturnamente, e isso há
mais de dois anos, pelas forças coligadas da mídia brasileira, da justiça e do
fascismo. Nada mudou entre janeiro e abril.
0 comentários:
[ Deixe-nos seu Comentário ]