REUTERS/Daniel Derevecki
Gilvandro
Filho é jornalista e compositor/letrista, tendo passado por veículos como
Jornal do Commercio, O Globo e Jornal do Brasil, pela revista Veja e pela TV
Globo, onde foi comentarista político. Ganhou três Prêmios Esso. Possui dois
livros publicados: Bodas de Frevo e “Onde Está meu filho?”
20 de Janeiro
de 2019
Por Gilvandro
Filho, dos Jornalistas pela Democracia – Dia desses, a coluna disponibilizou
uma questão tipo ENEM, sobre quem sairia perdendo mais nesse imbróglio em que
se meteu o governo Bolsonaro. Tudo por causa do primeiro-filho Flávio, enrolado
cada dia mais numa denúncia escabrosa envolvendo alguns milhões oriundos, ao
que tudo indica, do salário de funcionários, um ex-assessor misterioso e, como
pano de fundo, um desejo incontrolável de poder.
Uma das
alternativas da questão era o juiz de primeira instância e atual ministro da
Justiça Sérgio Moro. “Herói” de uma legião de eleitores ávidos por mandar o PT
plantar batatas e conhecido pela ousadia de suas medidas ao longo da Operação
Lava Jato, Moro está num mato sem cachorro. Ou pendurado no pincel. Ou, para
seguir a profissão de fé do novo governo, entre a cruz e a espada.
Por mais
crítica que se tenha ao magistrado – e olhe que o pessoal do PT tem muita -,
não dá para deixar de reconhecer que o papel dele na gestão Bolsonaro é dar
credibilidade à coisa. Tem gente que nem gosta do presidente e votou nele para
derrotar um sistema de governo que odeia. Bolsonaro foi a oportunidade real e
barulhenta de tirar do páreo o petismo. Ou o “lulopetistmo”, esse termo bizarro
que a direita criou. E nessa “operação terra arrasada” em cima do partido de
Lula, Moro foi preponderante, tirando de cena, e da disputa, o próprio Lula.
Ao convidar
Moro, Bolsonaro buscou dar um ar mais crível ao seu mandato que, 20 dias depois
da posse, ainda não tem sequer um plano de governo. E numa equipe que tem
Damares Alves, Ernesto Araújo, Ricardo Vélez Rodríguez e quejandos, ter Moro
constitui uma espécie de “fachada legal”, como chamava na ditadura a esquerda
que Bolsonaro a vida inteira tanto malhou.
Mas, de novo,
no meio do caminho não tinha uma pedra, mas uma pedreira cujos responsáveis
atendem pelos nomes de Flávio, Carlos e Eduardo, o tripé de armação de boa
parte das trapalhadas que assolam o País nesse tempo tão curto de governo do
pai Jair. E esse rolo em que mergulhou de cabeça o primogênito da família e
senador eleito (ainda não empossado) faz com que o noticiário do trio deixe o
campo do folclore e da simples ostentação e passe, célere, para o terreno
complicado da corrupção.
É nesse campo
que a relação com Moro desanda. Foi para combater a corrupção que Moro foi
chamado, pelo menos é isso que existe no imaginário de uma legião que bateu
panela e piscou luzinha de varanda gourmet para tirar do poder o “governo
bandido” do PT. Foi com esse discurso que Bolsonaro anunciou o seu ministro da
Justiça, um dos primeiros a ter o nome ungido.
Por mais que
não se creia em nada disso – e muita gente não crê – quebrar o encanto em tão
pouco tempo, e através da família do próprio presidente, é um troço difícil de
justificar. Para Moro, sobretudo. O desconforto do ministro da Justiça deixa
ele em situação difícil. Se mantém a pose de justiceiro e reafirma que está ali
para combater a corrupção, Flávio Bolsonaro estará ferrado. O pai-presidente
topará? Se não faz isso, fica desmoralizado diante boa parte do seu fã-clube.
Moro, cujo
semblante não tem deixado dúvidas quanto ao constrangimento que o abate, não
deve estar a fim de ser apanhado para Cristo. Como no filme de Martin Scorsese,
deve estar torcendo para tudo não passar de um sonho. Mas parece que não é.
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