Alan Santos/PR
Integrante do Instituto de Debates, Estudos
e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum
Social Mundial
23 de Janeiro de 2019
A avalanche de denúncias gravíssimas que
atingem o filho Flávio, retira de Bolsonaro a condição de preservar o mandato
presidencial.
Bolsonaro virou um defunto político. A
essas alturas, a saída mais honrosa e digna para ele seria a renúncia, se é que
já não lhe reservaram alguma “coincidência” no procedimento cirúrgico a que se
submeterá nos próximos dias.
A imagem do presidente da oitava economia
planetária almoçando sozinho em Davos, sem compromissos de trabalho com
autoridades e líderes mundiais, dimensiona o desprestígio e a insignificância
do mandatário brasileiro na arena internacional.
A descoberta de crimes de lavagem de
dinheiro, ocultação de patrimônio, associação criminosa, enriquecimento ilícito
e, para assombro geral, envolvimento com a milícia Escritório do Crime,
confirmam suspeitas antigas acerca da atuação dos Bolsonaro nos porões da
criminalidade.
O escândalo é não menos que chocante. Abre
uma crise profunda que pode levar ao impeachment do presidente recém-empossado.
Em sociedades civilizadas e não dominadas
pela bandidagem, o simples fato de haver denúncias dessa natureza – que
inclusive não são desmentidas pela família – causaria uma hecatombe.
A constatação, entretanto, de que tais
fatos têm materialidade comprovada, torna a situação do chefe do clã
insustentável.
Os militares continuam observando e
monitorando, em silêncio, as encrencas da família Bolsonaro. Os militares, que
colonizaram todas as áreas estratégicas e controlam os setores prioritários do
governo, mantêm as rédeas do jogo nas mãos.
Do ponto de vista das FFAA, a presença de
Bolsonaro à frente do governo, mesmo como mero fantoche, passou a ser
extremamente inconveniente, e sua continuidade, por isso, passou a ser
indesejável.
Com o impeachment do Bolsonaro, assume a
Presidência o general Mourão, vice-presidente eleito no contexto conhecido, de
uma eleição “anormal”, para dizer diplomaticamente.
A destituição do Bolsonaro em razão desses
fatos aterradores coloca em dúvida a legitimidade não só do governo eleito de
maneira atípica em outubro passado com a cumplicidade do TSE e do STF, mas
sobretudo questiona a legitimidade do regime de exceção, que pariu esta
aberração dantesca [ler aqui].
A substituição do Bolsonaro por Mourão,
portanto, ainda que seja o remédio previsto na Constituição, não solucionaria a
profunda crise de legitimidade do regime.
A solução estável e legítima que, todavia,
demandaria um amplo acordo democrático e que poderia criar as condições para o
Brasil restaurar a democracia e encontrar o caminho do desenvolvimento, da
geração de empregos e da reconstrução econômica e social, é a realização de
eleição livre, limpa e soberana.
Fora disso, haverá a instalação de um
governo militar num ambiente de instabilidade, conflito social crescente e
ilegitimidade do regime.
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