"Minha condenação injusta e minha prisão ilegal, há mais de
um ano, são mais que o resultado de uma farsa jurídica. São consequências
diretas do fracasso social, econômico e político do golpe político do
impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff em 2016. Aquele golpe começou a
ser preparado em 2013 quando a Rede Globo de Televisão usou sua concessão
pública para convocar manifestações de rua contra o Governo e até contra o
sistema democrático. Tudo valia para tirar o PT do Governo, inclusive a mentira
e a manipulação pela mídia", disse o ex-presidente Lula, antes do início
da entrevista aos jornalistas Florestan Fernandes Júnior e Mônica Bergamo
29 DE ABRIL DE
2019
Antes do
início da entrevista histórica concedida aos jornalistas Florestan Fernandes
Júnior e Mônica Bergamo, o ex-presidente Lula fez um pronunciamento, que não foi
registrado nas transmissões do El Pais e da Folha. Leia, abaixo, a íntegra do
que foi dito por Lula aos jornalistas:
“Minha
condenação injusta e minha prisão ilegal, há mais de um ano, são mais que o
resultado de uma farsa jurídica. São consequências diretas do fracasso social,
econômico e político do golpe político do impeachment contra a presidenta Dilma
Rousseff em 2016. Aquele golpe começou a ser preparado em 2013 quando a Rede
Globo de Televisão usou sua concessão pública para convocar manifestações de
rua contra o Governo e até contra o sistema democrático. Tudo valia para tirar
o PT do Governo, inclusive a mentira e a manipulação pela mídia.
Isso aconteceu
quando nossos governos tinham alcançado nossas maiores marcas: multiplicamos o
PIB por várias vezes, chegamos a 20 milhões de novos empregos formais, tiramos
36 milhões de pessoas da miséria, levamos quase 4 milhões de pessoas às
universidades, acabamos com a fome, multiplicamos de modo espetacular a
produção e o comércio da agricultura familiar, multiplicamos por quatro a
oferta do crédito, isso em meio a uma das maiores crises do capitalismo da
história. E, ainda assim, quase quadruplicamos as nossas exportações.
O novo Brasil
que estávamos criando junto com o povo e as forças produtivas nacionais, foi
retratado pela Rede Globo e seus seguidores na imprensa como um país sem rumo e
corroído pela corrupção. Nem em 1954 com Getúlio nem em 1964 contra Jango se
viu tanta demonização contra um partido, um governo ou um presidente. Centenas
de horas do Jornal Nacional e milhares de manchetes de revistas contra nós.
Nenhuma chance de defender nossas opiniões.
Mesmo assim,
em 2014, derrotamos os poderosos nas urnas pela quarta vez consecutiva. Para
quem não conhece o Brasil, nossas elites dizimaram milhões de indígenas desde
1500, destruíram florestas, enriqueceram por 300 anos a custas de escravos
tratados como se fossem bestas. Colonos e operários tratados como servos.
Divergentes como subversivos, mulheres como objetos. Diferentes, como párias.
Negaram terra, dignidade, educação, saúde e cidadania ao nosso povo.
Mas a Globo, o
mercado, e os representantes dos estrangeiros, os oportunistas da política, e
os exploradores da gente simples, disseram que era preciso tirar o PT do
Governo para resolver os problemas do Brasil e do povo brasileiro. Hoje, o povo
sabe que foi enganado. Criamos o PT em 1980 para defender as liberdades
democráticas, os direitos do povo e dos trabalhadores.
O acúmulo das
lutas do PT e da esquerda brasileira, do sindicalismo dos movimentos sociais e
populares nos levou a consolidar um pacto democrático na constituinte de 1988.
Esse pacto foi rompido pelo golpe do impeachment em 2016 e por seu
desdobramento que foi a minha condenação sem culpa, e minha prisão em tempo
recorde para que eu não disputasse as eleições.
Reafirmo minha
inocência, comprovada por todos os meios de prova nas ações que fui
injustamente condenado pelo ex-juiz Sergio Moro, sua colega substituta e três
desembargadores acumpliciados do TRF-4. Repudio as acusações levianas dos
procuradores da Lava Jato e denuncio [Deltan] Dallagnol, que nunca teve a
coragem de sustentar, ante meus olhos, as mentiras que levantou contra mim,
minha esposa e meus filhos.
Mais de um ano
depois da minha prisão arbitrária, está cada dia mais claro para o povo
brasileiro que fui injustiçado para não ser candidato às eleições presidenciais
do ano passado. Nas quais, segundo todas as pesquisas de opinião pública, teria
sido eleito em primeiro turno contra todos os adversários.
O povo sabe
que minha prisão teve motivos políticos. Posso reafirmar com a consciência
tranquila por ser inocente, os que me condenaram, não. Fui condenado sem prova
e sem crime. Minha pena ilegal foi agravada pelo arbítrio de três
desembargadores do TRF-4, tão parciais como o juiz Sergio Moro. Os recursos da
minha defesa lastreados em argumentos sólidos foram ignorados burocraticamente
pelo STJ.
Meus direitos
políticos foram negados contra a lei, a jurisprudência e uma decisão da ONU
pela Justiça Eleitoral. Mesmo assim, minhas ideias e meus ideais continuam
vivos na memória e no coração do povo brasileiro.
Mantenho minha
esperança e a confiança no futuro em um julgamento justo, por causa das
generosas manifestações de solidariedade que recebo todos os dias aqui em
Curitiba por parte dos companheiros maravilhosos da vigília e de todos os
cantos do Brasil e do mundo.
Eu sei muito
bem qual o lugar que a história nos reserva, meus companheiros e companheiras,
e sei também quem estará na lixeiras dos tempos quando o povo vencer mais essa
batalha.
Mais
importante do que isso, sei que a injustiça cometida contra mim recai sobre o
povo brasileiro que perdeu direitos, oportunidades, salários justos, emprego
formal, renda e esperança num futuro melhor.
Hoje estou
aqui para falar com jornalistas como sempre fiz ao longo da minha vida. Na
verdade, para falar com o nosso povo. Esse direito me foi negado por sete meses
e durante o processo eleitoral e que estava absolutamente fora da lei.
Mas guardo
comigo uma certeza. Preso ou livre, censurado ou não, tenho com o povo
brasileiro uma comunhão eterna que o tempo não vai apagar. Contra todos os
poderosos, contra a censura e a opressão, estaremos sempre juntos por um Brasil
melhor, mais justos com oportunidades para todos. Obrigado”
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