Ag. Senado | Reuters
Helena Chagas
é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia
4 de Maio de
2019
Um pedido de
demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro, por divergências em relação a
posições do governo seria, a esta altura, um desastre político para o
presidente Jair Bolsonaro – que já anda às voltas com uma insistente queda de
popularidade. Por isso, Moro vem esticando a corda, numa investida pública, com
seguidas entrevistas e manifestações, contra a transferência do Coaf de sua
pasta para a Economia – o que, a depender do Congresso, hoje é muito provável.
Insatisfeito
com essa e muitas outras trombadas que vem tendo no governo, onde já percebeu
que não é prioridade, o que restaria a Moro? Pedir o boné e ir para casa?
Afinal, quase
todas as suas derrotas têm o dedo do Planalto e de seus aliados. No caso do
Coaf, por exemplo, o próprio presidente chegou a admitir negociar o retorno do
órgão ao Ministério de origem em troca da aprovação da medida provisória que
reestruturou administrativamente o governo sem outras mudanças mais danosas.
Com isso,
Bolsonaro deixou Moro exposto ao sol e aos ventos da política, assim como em
outros episódios constrangedores, como o da revogação da nomeação da socióloga
Ilona Szabo e o quase engavetamento do pacote de mudanças penais enviado pelo
ministro ao Congresso. Tudo indica que esse comportamento "quem manda sou
eu" de Bolsonaro, meio semelhante ao que ele tem adotado em relação aos
militares que supostamente o tutelariam, vai continuar.
E Moro, se
derrotado mais uma vez, terá que avaliar se vale a pena continuar no governo
para uma sucessão de desgastes e vexames. A possibilidade de sair tem sido
aventada nos últimos dias por interlocutores próximos do ex-juiz, embora ainda
cheire a pressão, sobretudo sobre o próprio chefe, para rever sua posição
inicial sobre a devolução do Coaf.
O que se
comenta nos meios jurídicos de Brasília é que a recente afirmação do ministro
da Justiça de que seria "ganhar na loteria" ser nomeado para uma vaga
no STF veio do fundo do coração. Foi um recado direto.
O grande
problema é que nem isso está garantido para Moro, sobretudo se ele deixar o
governo chutando o balde. Vaga no STF só haverá em 2020, e a nomeação depende
da caneta de Jair Bolsonaro e, principalmente, da aprovação do Senado Federal –
ou seja, daquele pessoal que não quer ver o ex-juiz da Lava jato nem pintado.
Tudo indica
que Sérgio Moro, apesar da popularidade, deve estar arrependido de ter deixado
a toga pelo governo Bolsonaro. Caiu numa ratoeira.
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