Leonardo Boff é
o principal teólogo brasileiro e um dos fundadores da Teologia da Libertação.
Escreveu 118 livros e é um dos principais pensadores da espiritualidade
planetária
31 de Maio de
2019
As práticas
políticas do atual governo estão destruindo as possibilidades de uma governança
que traga alguma melhoria para o povo e aos mais destituídos. Não possui
projeto de nação nenhum e mostra comportamentos indignos do cargo que ocupa.
Quando todas as
portas se fecham e um governo não vê mais nenhuma saída para sua sobrevida, a
alternativa é o suicídio. Este pode ser físico ou político. Com Vargas, foi
físico: deu um tiro no coração. Com Jâno Quadro, foi político sob o pretexto de
insuportável coação de forças ocultas. Com Collor, foi também político,
renunciando antes da conclusão do impeachment. Com Bolsonaro pode ocorrer algo
semelhante, por reconhecer o Brasil como ingovernável e por causa da fortíssima
pressão das corporações. Não o evitarão as manifestações do dia 26/5 nem o
estranho pacto entre os três poderes, no qual o ministro Toffoli jamais deveria
estar.
Bolsonaro
escolheu o pior caminho: o confronto com o Congresso, com o Centrão, com o STF,
com a imprensa e com parte do exército. Tal estratégia debilita toda sua
política. A saída seria abandonar a cena e cuidar de salvar a si mesmo e os
seus familiares do alcance da justiça.
Efetivamente, o
governo Bolsonaro desmantelou as quatro pilastras básicas que sustentam uma sociedade
para que minimamente funcione.
A primeira, já
herdada de seu antecessor, acusado em vários processos, Michel Temer: a
destruição e precarização completa das leis trabalhistas. Uma nação vive do
trabalho das grandes maiorias operárias que garantem a vida e a continuidade de
uma nação. Concedeu tantos privilégios aos patrões que os operários foram
conduzidos a uma situação similar aos inícios do capitalismo selvagem da
Inglaterra, sem direitos garantidos e o desmantelamento da estrutura sindical.
A segunda foi o
desmonte da salvaguarda dos direitos fundamentais, penalizado especialmente
minorias como LGBT, indígenas e quilombolas As instituições que as
implementavam foram em muito esvaziadas.
A terceira é o
ataque direto à educação, às escolas, às universidades, à ciência e a suas
instituições técnico-científicas. Tentou-se implantar uma "escola sem
partido" para dar lugar à ideologia do partido do governo de viés
conservador, ultra-direitista, intolerante e fundamentalista. Sob a questionável
alegação de contingenciamento mas, na verdade, uma espécie de punição às
críticas por parte da inteligência nacional e acadêmica, fizeram-se cortes
substanciais à toda a rede de ensino superior e aos centros de pesquisa
científica e tecnológica. Junto a isso se distorceu totalmente a preocupação
pelo meio ambiente, para privilegiar o agro-negócio, descuidando da preservação
da Amazônia e negando o aquecimento global por razões meramente ideológicas e
até de supina ignorância.
A quarta foi a
desidratação do SUS, um dos maiores programas mundiais de saúde pública, com o
propósito de privatizar grande parte do sistema de saúde. Os cortes atingiram
as farmácias populares e os medicamentos gratuitos para várias doenças como
diabetes, HIV e outras.
À frente dos
ministérios foram colocadas pessoas sem a menor qualificação para o cargo,
algumas bizarras, como a dos direitos humanos e da mulher ou incompetentes como
o da educação, do meio ambiente e o das relações exteriores.
A sensação que
se tem, é o propósito de conduzir o país aos moldes pré-modernos, congelar o
parque industrial, um dos mais avançados dos países em desenvolvimento,
privatizar o mais possível tudo e tudo, a ponto de o ministro da Fazenda,
despudoramente dizer a investidores em Dallas que até o palácio do Planalto
poderia ser privatizado e o BB funcionado com Bank of America. Por fim,
submeteu-se à recolonização do país, condenado a ser mero exportador de
commodities; compô-se como sócio agregado ao projeto de hegemonia mundial
pretendido pelos EUA. O presidente visitou aquele país e lá cumpriu um rito de
explícita vassalagem.
A consequência é
a condenação do país à irrelevância. A seguir a política de cortes, poderemos
ter uma grande parte da população reduzida à condição de párias. Sabemos que o
Brasil é decisivo para o futuro ecológico-social da vida e do planeta.
Um povo
ignorante por lhe negarem um ensino de qualidade e doente por não cuidarem de
sua saúde, jamais conhecerá um desenvolvimento sustentado e dar uma
contribuição importante à humanidade.
Bolsonaro faria
bem ao país e ao mundo se renunciasse à presidência, para a qual confessou não
ter vocação. Ideal seria se tivesse a generosidade mínima e um pouco de amor ao
povo, para fazê-lo por si mesmo, antes de ser obrigado a isso pelo total
solapamento do solo que o sustenta.
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