Ricardo Stuckert | ABr | Reuters
Aquiles Lins é
editor do 247. Jornalista, pós-graduado em Comunicação e mestrando em Ciência
Política pela UFSCar
15 de Junho de
2019
Por Aquiles
Lins, editor do 247, e para o Jornalistas pela Democracia
As novas
revelações do The Intercept Brasil,
de que Sérgio Moro pediu a procuradores da Lava Jato para atacarem o
ex-presidente Lula e sua defesa na imprensa, após o primeiro depoimento de Lula
a Moro, em 10 de maio de 2017, mostram, de maneira inequívoca, como duas das
mais importantes instituições da República, o Judiciário e a Mídia, se uniram
numa guerra contra um líder político popular, solapando a democracia.
Em conhecido
artigo acadêmico de 1993, o pesquisador Robert Entman, professor de Mídia e
Assuntos Públicos da Universidade George Washington, fez uma das definições
mais aceitas para o termo enquadramento ("framing") na mídia. Para
Entman, enquadrar é "selecionar algum aspecto de uma realidade percebida e
torná-lo mais saliente num texto comunicativo, de tal forma a promover uma
definição de um problema particular, interpretação causal, avaliação moral e/ou
uma recomendação de tratamento para o item descrito".
No caso do
depoimento de Lula na ação do tríplex do Guarujá, o que o Intercept mostrou,
além do conluio entre juiz e Ministério Público, foi a construção do
enquadramento do tema pelos procuradores, a pedido de Sérgio Moro. Nas
mensagens reveladas, Carlos Fernando dos Santos Lima, então decano da Lava
Jato, diz: "Eu iria direto na jugular, falando que culpar quem morreu é
uma tática velha de defesa". Ele defendeu o enquadramento – e a
consequente avaliação moral para o público -, de que Lula, de maneira sórdida,
culpou sua esposa, que já morreu, para se livrar do crime que supostamente
cometera.
As conversas
mostram que houve resistências entre os procuradores, mas a tese de Santos Lima
venceu. No mesmo dia, começaram a sair, praticamente em unívoco, reportagens
nos principais veículos de comunicação massificando o argumento de que Lula
colocou a culpa em dona Marisa Letícia para se livrar da acusação de que o
tríplex do Guarujá, reformado pela OAS, seria dele. Folha de S. Paulo, O Globo,
O Estado de S. Paulo, Istoé, Veja, Jornal Nacional... enfim, a totalidade da
mídia adotou o enquadramento sugerido pelo procurador Santos Lima, para atender
a um pedido do juiz Sérgio Moro. E assim uma mentira virou "verdade",
e uma realidade foi construída para manipular a opinião pública.
No livro
"Como as Democracias Morrem", o renomado professor de Harvard Steven
Levitsky defende que as democracias modernas estão morrendo por meio da eleição
de líderes políticos demagógicos, que usam instrumentos previstos na democracia
para enfraquecer as instituições e seus "checks and balances". Tudo
"por dentro". As novas revelações do Intercept reforçam o argumento
que venho defendendo, de que as democracias também podem morrer pelas mãos das
próprias instituições, quando elas se aliam contra determinado líder político,
forjando narrativas para elimina-lo da disputa eleitoral e democrática pelo
comando de uma nação. Resta comprovado, e restará cada vez mais, que foi o que
fizeram o Poder Judiciário e os veículos de comunicação contra Lula.
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