ADRIANO MACHADO REUTERS
No Brasil já se fala, sem meias palavras, que o presidente e a
maior parte de seu Governo parecem ineptos para confrontar os grandes desafios
que têm pela frente
04/06/2019
O atual mandato
presidencial no Brasil começou há pouco mais cinco meses, mas já começam a se
escutar alarmes sobre a possibilidade de que Jair Bolsonaro não termine seu
mandato. Não só porque ele aparece sem um projeto de país concreto, mas também
porque o pouco já realizado é alvo de duras crítica até por parte de muitos que
o elegeram e hoje não o fariam, conforme mostram todas as pesquisas em que,
apesar dos 57 milhões de votos conquistados nas urnas, seu apoio desvanece.
Recente pesquisa da Atlas Político mostrou que apenas 28% dos entrevistados
consideravam sua gestão boa ou ótima, contra 36,2% que a veem como ruim ou
péssima. Entre os que o apoiam estão um exército de radicais que desejaria
devolver o Brasil aos tempos do pior obscurantismo, com uma política apoiada em
messianismos alucinados, com suas preocupações fálicas e uma mórbida obsessão
pelas armas.
Poderia parecer
incrível num país normal que em cinco meses de Governo já se fale abertamente na possibilidade de impeachment
do presidente, não só pelo que ele não fez, mas também pelo que fez até agora,
que está revelando uma forte desconfiança sobre sua capacidade de governar um
Brasil-continente com 207 milhões de pessoas que já começaram a sair às ruas. E
sobre como deseja conduzir o tema da educação, um ponto crucial deste país com
ainda milhões de analfabetos funcionais e da qual depende também seu futuro
econômico.
O presidente da
Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, acaba de dizer ao jornal O Globo que o
Brasil “caminha para um colapso social” com o novo Governo, que ainda não soube
apresentar um projeto para fazer frente às graves crises que o afligem e que
poderia levá-lo a uma catástrofe econômica se em vez de apoiar as reformas
urgentes acabar boicotando-as para favorecer propostas milagrosas e às vezes
até patéticas.
Preocupa à
sociedade democrática um presidente que parece alheio às reformas enquanto se
perde em fantasia messiânicas, como quando afirma que ainda “não nasceu para
ser presidente”, pois foi algo que Deus lhe impôs. E assim repete, às vezes
chorando diante das câmeras de televisão, enquanto levanta a camisa e mostra as
cicatrizes do atentado que sofreu durante a campanha eleitoral. Deus, segundo
ele, está ao seu lado e o escolheu como um novo Messias.
Junto a esse
messianismo profético, o presidente continua tão obcecado em armar os
brasileiros que seu primeiro decreto foi para ampliar a posse de armase seu
porte para toda a sociedade, decreto contra o qual acabam de se manifestar 73%
dos brasileiros, segundo a última pesquisa de Ibope. Multiplicar as armas nas
mãos das pessoas deve parecer melhor para o país que multiplicar o pão nas mãos
dos ainda milhões de pobres e as possibilidades para os jovens de um ensino que
os prepare para se realizarem em liberdade e criatividade. E sem absurdas
receitas de escolas sem partido, de alunos espiões e denunciantes de seus
professores e o pavor de que nelas se possa falar de sexo, que é como proibir
falar da vida.
Há uma história
que revela o absurdo de uma presidência em seus temores relacionados com o
sexo. Em abril passado, saindo do Ministério da Educação, coração do futuro
nacional, o presidente confiou a um grupo de jornalistas uma de suas maiores
preocupações no momento. Sobre o drama da educação no país? Não. “Temos por ano
mil amputações de pênis por falta de água e sabão”, contou-lhes, e acrescentou:
”Quando se chega a este ponto, a gente vê que estamos no fundo do poço”. Essa
preocupação com a higiene masculina e as proporções de suas genitálias perturba
tanto o presidente que poderia ter criado uma crise diplomática com o Japão, ao
dizer que naquele país “tudo é pequeno”, referindo-se ao órgão masculino.
A obsessão do
presidente por tudo o que é fálico está preocupando até os psicólogos e
psicanalistas, como Contardo Calligaris, que na Folha de S.Paulo, analisando
estas obsessões fálicas do presidente, afirmou: “Não se pode entender uma
posição repressora contra os outros, seja qual for, a não ser como um modo da
pessoa reprimir e lutar com a sua própria dificuldade”.
0 comentários:
[ Deixe-nos seu Comentário ]
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor