"Não dá para entender de outra maneira. Não é possível
defender os métodos inquisitoriais de Sérgio Moro que violam o estado
democrático de direito e achincalhar o STF – só porque a liberdade do
ex-presidente Lula está em questão - sem que isso signifique ataque à
constituição de 1988 e à liberdade conquistada nos últimos 34 anos", diz
Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia
1 de julho de
2019
Alex Solnik é
jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor,
Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais
"Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A
guerra do apagão" e "O domador de sonhos"
Numa reunião de
pauta da revista Brasileiros, em 2012, meu amigo Ricardo Kotscho me desafiou a
desvendar o que era um tal de Instituto Millenium. Aceitei o desafio. Nas
semanas seguintes mergulhei no tema. Fiquei chocado com o que descobri.
O Millenium congregava
as mais importantes empresas de comunicação do país, as líderes em TV, rádio,
jornais, sites e revistas. Em seus veículos escreviam mais de 400 colunistas.
Tinham em comum o fato de serem críticos à esquerda, sobretudo ao PT, que
iniciava seu terceiro período presidencial.
Mas tinha mais:
em torno do Millenium orbitavam dezenas de ONGs de direita – como Instituto
Mises, Endireita Brasil etc – que faziam frenética campanha de destruição da
esquerda usando os métodos... da esquerda.
Vendiam camisetas,
chaveiros e outros adereços com imagens de Che Guevara com as orelhas do
Mickey, avacalhando com Lula, com dizeres tais como a direita é legal e a
esquerda medonha e outras mentiras mais. Um trabalho em massa copiando o que o
PT fazia para se financiar: camisetas, chaveirinhos. Eles não começaram ontem.
A campanha de
desmoralização da esquerda e apologia da direita me assustou. Não se via aquilo
desde o fim da ditadura. Se a direita existia, não tinha coragem de sair à luz.
Mas agora era diferente. Os caras não tinham vergonha de defender, abertamente,
a violência e a tortura, desde que fosse contra a esquerda.
No ano seguinte,
2013, a direita saiu às ruas. O tabu havia sido quebrado. Não acontecia desde
1964, ano da malfadada Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
As ruas de São
Paulo, do Rio e de Minas ficaram, então, lotadas de gente da classe média – a
mesma que saiu às ruas ontem – para, hipoteticamente, protestar contra uma
possível e eventual ditadura comunista. Mas, na prática, eles estavam
avalizando a ditadura militar. Tal como ontem: a direita saiu às ruas pedir
ditadura.
Não dá para
entender de outra maneira. Não é possível defender os métodos inquisitoriais de
Sérgio Moro que violam o estado democrático de direito e achincalhar o STF – só
porque a liberdade do ex-presidente Lula está em questão - sem que isso
signifique ataque à constituição de 1988 e à liberdade conquistada nos últimos
34 anos.
Eu não imaginava
no que aquele movimento liderado pelo Millenium ia dar. Não havia um líder para
encarnar aqueles absurdos.
O projeto de
poder da direita obteve êxito em 2018, com a eleição de Bolsonaro. Foram 13
anos de desconstrução do PT e exaltação da ditadura. Alguns expoentes daquelas
ONGs estão no Planalto, caso do atual ministro Ricardo Salles.
Capturaram o
poder copiando métodos da esquerda – camisetas, chaveiros, passeatas - e
pretendem manter-se nele dessa maneira por um longo tempo.
Agora eles têm
também o WhatsApp e o twitter para fazer a lavagem cerebral.
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