O colunista Jeferson Miola critica a falta de atitude da
procuradora-geral da República, Raquel dodge, diante as ilegalidades reveladas
pela Vaza Jato; "Com seu silêncio e sua omissão, Raquel Dodge descumpre
seu dever funcional e, implicitamente, pode ser acusada de cumplicidade e
conivência"
Integrante do
Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi
coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial
15 de julho de
2019
Raquel Dodge
recebe pedido para investigar Sérgio Moro
Raquel Dodge
recebe pedido para investigar Sérgio Moro (Foto: Fabio Rodrigues
Pozzebom/Agência Brasil)
É estarrecedor
o silêncio da Procuradora-Geral da República Raquel Dodge acerca do escândalo
que atinge em cheio o coordenador da autodenominada força-tarefa da Lava Jato e
vários procuradores e procuradoras.
É
inquestionável que estamos diante de um abrangente e corrosivo escândalo de
corrupção no Ministério Público brasileiro, com respingos escabrosos sobre
desembargadores, juízes e ministros das instâncias superiores do judiciário.
No mínimo,
trata-se de improbidade administrativa, desvio funcional, organização criminosa
e aparelhamento do Estado para satisfazer interesses privados, políticos e de
um projeto de poder coordenado desde os EUA.
Tudo
documentalmente provado e trazido ao público pelo Intercept com o apoio de
outros órgãos de imprensa.
Os/as
procuradores/as responsáveis pelos graves desvios, ao invés de já estarem
afastados e submetidos aos procedimentos da Lei e aos códigos legais e de ética
da corporação, seguem, entretanto, nos respectivos cargos públicos, recebendo
os mais altos salários do país, destruindo provas e obstruindo as
investigações.
Além do
inacreditável silêncio diante deste escândalo que ultrapassa as fronteiras nacionais
e espanta o mundo inteiro, a omissão da Raquel Dodge envergonha.
A omissão da
chefe da PGR só fortalece o corporativismo que protege os implicados – como no
âmbito do Conselho Nacional do Ministério Público, que decidiu arquivar pedido
de investigação do Deltan Dallagnol; e da Associação Nacional dos Procuradores
da República, com seus comunicados que flertam com o delírio, tamanho nonsense.
Com seu
silêncio e sua omissão, Raquel Dodge descumpre seu dever funcional e,
implicitamente, pode ser acusada de cumplicidade e conivência.
Não há lugar
para ilusões. Como o Estado de Direito foi estuprado e o Brasil está sob a
vigência do regime de exceção, não surpreenderá se a própria Chefe do MP
continuar prevaricando e descumprindo sua obrigação legal e funcional.
Assim como já
não surpreende a complacência dos órgãos judiciais de controle [CNJ, CNMP] e
das instâncias superiores do judiciário.
Essa inação,
se não for revertida, não só manchará a gestão e a carreira da Raquel Dodge,
mas afetará de modo indelével, e para pior, a imagem e a confiança no
Ministério Público e da justiça.
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