(Foto: Lula Marques)
Marcos Coimbra é
sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
O sociólogo
Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi, escreve sobre a decadência de Moro, que
riscou o céu da política brasileira como um raio: "Em si, Sergio Moro não
tem mais importância na politica brasileira. Todos os verbos que se referem a ele
estão no passado"
6 de julho de
2019
Em si, Sergio
Moro não tem mais importância na politica brasileira. Todos os verbos que se
referem a ele estão no passado.
Chegou a ser uma
hipótese de figura de primeira grandeza, quando surgiu para a opinião pública
nacional como o juiz ferrabrás de uma tal Lava Jato. A maioria não o conhecia e
somente os mais interessados no dia a dia do Judiciário sabiam quem era.
Às vezes, acende-se uma pequena luz no quadro
da política. Pode ser um prefeito que chama a atenção, um procurador inovador, um ministro que se
destaca, um empresário com boas ideias. Ser governador de estado aumenta a
chance de ser visto.
A luz se acende, mas costuma apagar-se. É
preciso mais que a oportunidade para criar um personagem relevante. No mínimo,
é necessário ter carisma e substância.
Tome-se o caso
de alguém cujo conceito original se enraizava em lugar semelhante ao de Moro no
imaginário da sociedade. A luz de Fernando Collor faiscou em 1987, quando
assumiu o governo de um dos menores estados do País com a bandeira da “guerra
aos marajás”. Recebeu toda a ajuda que teve (e não foi pouca), mas só virou
presidente porque a matéria prima de sua imagem era forte, várias vezes mais
forte que a do ex-juiz.
O nome de Moro
chegou a ser incluído em algumas pesquisas na ultima eleição. Em uma do
Datafolha de final de setembro de 2017, não alcançava 10%, apesar de ser
conhecido por quase 80% dos entrevistados (Collor, em condições semelhantes - a
onze meses da eleição e entre quem o conhecia -, passava de 40%). Números
decepcionantes para alguém com tantas pretensões, que devem tê-lo ajudado a
desistir da aventura.
Percebendo que
seu cacife era pequeno, Moro provavelmente avaliou que o melhor caminho seria tornar-se
um “grande eleitor”, assumir o governo com o vitorioso e, a partir daí,
garantir uma poltrona na primeira fila da política nacional. A esse projeto se
dedicou desde o começo de 2018, esperando, pelo menos, o prêmio de consolação
de uma cadeira no Supremo.
Cumpriu o
combinado com Bolsonaro e o antipetismo, correndo para tirar Lula da eleição,
custasse o que custasse, passando por cima das normas mais básicas do Direito.
Graças ao The Intercept Brasil, temos agora uma ideia de como ele e sua turma
agiram para interferir na eleição. Nada, porém, que surpreenda quem se lembra
de suas fotos debochadas com Michel Temer e os amigos tucanos.
Deu o passo
seguinte tornando-se logo ministro de Bolsonaro, mas, outra vez, foi além do
que as pernas alcançavam.
Com ignorância e
arrogância, supôs que o ministério da Justiça seria um trampolim, achando que
conseguiria tirar de letra o problema da segurança no Brasil.
De novembro de
2018 até ser abatido pela exposição de suas manobras, Moro foi incapaz de dar
sequer o primeiro passo para alcançá-lo. Não mostrou ter noção, visão,
interpretação ou proposta para lidar com a questão.
As revelações
até agora publicadas do Intercept (e deve haver outras) bastam para colocar uma
pá de cal nas ambições de Moro. Sua inépcia administrativa já havia, no
entanto, feito com que sobrevivessem apenas na fantasia.
Bolsonaro e o
bolsonarismo erram, contudo (como é regra), ao rir-se das desventuras de Moro e
de seus patéticos esforços de se agarrar a eles para não afundar. O ex-juiz
ainda tem apoio na sociedade, mesmo que cadente e cada vez menos determinado
pelo que objetivamente é e faz hoje. Destituído de futuro, sem um presente que
possa ser defendido, resta como símbolo de um passado, em que era ampla a sustentação
da Lava Jato e da hipotética renovação que representaria. Os que permanecem
presos a essa ilusão não podem admitir a morte de Moro.
Quem o
patrocinou lá atrás, como o sistema Globo, um pedaço da cúpula do Judiciário e
do Exército, só o jogará fora se não houver jeito. É o único herói da
“revolução gloriosa” que fabricaram, a luta para acabar com Lula e o PT a
pretexto de erradicar a corrupção. Sem Moro, a imagem do projeto que
arquitetaram é o constrangedor retrato do zoológico bolsonarista. Para todos,
bem como para Bolsonaro e seu governo de figuras ridículas e inexpressivas, a
morte politica de Moro é um revés.
Há outra
hipótese, de Moro ser capaz de resolver seu problema e Bolsonaro mostrar-se um
presidente competente na solução de crises, mas podemos descartá-la. Os
próximos meses serão piores para o capitão.
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