(Foto: José Cruz/Agência Brasil)
"Depois de destruir o país numa operação baseada na palavra
de empresários que confessavam ter pilhado o Estado, o ministro da Justiça
tenta questionar a credibilidade dos hackers de Araraquara", escreve Paulo
Moreira Leite, articulista do 247; "O problema é que, no Senado, ele disse
que não havia 'nada demais' no conteúdo das gravações"
Paulo Moreira
Leite é colunista do 247, ocupou postos executivos na VEJA e na Época, foi
correspondente na França e nos EUA
25 de julho de
2019, 16:49 h
A menos que
esteja preparando uma auto-crítica radical das condenações mais pesadas da Lava
Jato, o ministro da Justiça e da Segurança Pública Sérgio Moro deveria ser mais
cuidadoso nos tuítes sobre os quatro suspeitos de vazar diálogos eletrônicos
para o Intercept-Brasil.
Embora tenha se
negado a fazer reparos à substância das mensagens quando depôs no Senado (
"Quanto ao conteudo, não vejo nada demais"), assim que a prisão dos
russos de Araquaquara foi anunciada Moro
passou a questionar a credibilidade dos diálogos que lhe foram
atribuídos. Referiu-se ao grupo como "pessoas com antecedentes criminais,
envolvidas em várias espécies de crimes." Tentando avançar com ironia
sobre o Intercept-Brasil, acrescentou: "Elas, as fontes de confiança
daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime".
Por uma questão
de coerência se Moro tiver razão nos argumentos de hoje, os tribunais
superiores deveriam iniciar, desde já, a revisão das condenações que a partir
de 2014 como titular da 13a Vara Criminal de Curitiba.
Vamos combinar
que, salvo pela conta bancária, até agora não dá para questionar os depoimentos
de pessoas "envolvidas em várias espécies de crime" sem pensar como
seria possível qualificar os executivos das grandes empreiteiras que produziram
o filé mignon da Lava Jato no mercado milionário das delações premiadas.
Para Deltan
Dallagnol, parceiro de Moro em todas as horas, a corrupção é um "crime que
mata mais do que homicídio. Ela mata quando tira R$ 200 bilhões dos cofres
públicos por ano no Brasil. Ela mata quando a estrada fica esburacada porque o
administrador corrupto não pode aplicar uma multa na empresa porque está com o
rabo preso com aquela empresa."
Ainda que essa
opinião do chefe da força-tarefa servisse como slogan para cobrar cachês milionários
em palestras pelo país inteiro, a palavra de executivos responsáveis por um
crime que "mata mais do que homicídio" jamais foi colocada em
questão.
Nunca foi
desprezada como uma única opção de quem só queria recuperar uma parte do butim
acumulado através de crimes e sair da cadeia para gozar nababescos prazeres da
vida. Pelo contrário: a veracidade de suas palavras alimenta imensas sentenças contra os
verdadeiros alvos politicos da Operação, a começar por Lula.
Por essa razão,
não há motivo para que a veracidade das mensagens recolhidas pelos hackers seja
colocada em questão.
Quem tem motivo
para isso são autoridades que até agora não mostraram a menor disposição para explicar os diálogos
comprometedores em que foram apanhados, a começar por Moro e Dallagnol.
Vamos lembrar as
palavras do Ministro da Justiça no Senado: "Quando ao conteúdo, não vejo
nada demais".
Alguma dúvida?
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