Governo informou que briga entre facções rivais deu origem ao
massacre em Altamira, e que boa parte das vítimas foi decapitada
29 JUL 2019
Ao menos 57
presos morreram nesta segunda-feira durante rebelião no Centro de Recuperação
Regional de Altamira, a cerca de 800 quilômetros de distância de Belém (Pará).
De acordo com a Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe), ao
menos 16 deles foram decapitados durante o conflito entre facções rivais. Os
detentos chegaram a fazer agentes penitenciários como reféns, mas eles foram
liberados após negociações com as autoridades. Parte das vítimas pode ter sido
asfixiada depois que os presos atearam fogo a colchões dentro das celas, de
acordo com as autoridades. A Susipe informou que a confusão começou por volta
das 7h, durante o café da manhã. O Centro tem capacidade para 208 internos, mas
contava com 311 pessoas presas no local.
Na tarde desta
segunda-feira, o Ministério da Justiça e Segurança Pública ofereceu ao Governo
do Pará vagas em presídios federais para a transferência dos líderes da
rebelião. "O ministro Sergio Moro lamentou as mortes e determinou a
intensificação das ações de inteligência e que a Força Nacional fique de
prontidão", informou o Ministério em nota. Na mesma mensagem, Moro
ressalta acompanhar a situação de perto e diz que conversou com o governador
Hélder Barbalho "ainda na manhã desta segunda". No início da tarde
foi realizada uma reunião de emergência para tratar do assunto com o secretário
Nacional de Segurança Pública Adjunto, Freibergue Rubem do Nascimento, entre
outras autoridades.
O secretário do
Sistema Penitenciário, Jarbas Vasconcelos Carmo, afirmou após o ocorrido que a
unidade abriga duas facções, o Comando Vermelho, originário no Rio, e o Comando
Classe A, um grupo local. Segundo ele, este último "rompeu seu pavilhão e
rompeu o do Comando Vermelho, foi um ataque rápido e dirigido com o objetivo de
exterminar os rivais". Carmo lamentou o ocorrido, e chamou o ataque de
"inesperado": "Nós não tínhamos relatório da nossa inteligência
aportando um possível ataque, desta magnitude", completou o secretário.
Relatos iniciais
dão conta de que a maioria das vítimas seria integrantes da facção fluminense.
O secretário disse ainda que foram encontrados "corpos decapitados e
também outros mortos por asfixia". "Não tiramos todos [os cadáveres]
porque o local ainda está quente. É uma unidade antiga, em formato de
contêiner", informou. Por fim, ele afirmou que uma vistoria preliminar na
unidade realizada após o massacre não encontrou armas de fogo no local, apenas
"estoques".
Nos últimos anos
a região Norte se tornou uma das principais linhas de frente de embate entre
facções rivais, como o Primeiro Comando da Capital, criado em São Paulo, o
Comando Vermelho, originário do Rio, e a Família do Norte, manauara. Como
consequência, a disputa pelo domínio de rotas de tráfico e o recrutamento de
novos filiados dentro dos presídios acabam levando a confrontos atrás das
grades, que envolvem também grupos menores, como o Comando Classe A, do Pará.
Há pouco mais de dois meses outro massacre prisional deixou 55 mortos no
Amazonas em quatro unidades distintas. Não foi a primeira vez que o Estado viu
um banho de sangue em seus presídios: em janeiro de 2017 foram assassinados 56
detentos no Complexo Penitenciária Anísio Jobim (Compaj), em Manaus.
A violência
atrás das grades contrasta com a queda dos índices de letalidade fora delas.
Nas ruas, acordos de paz firmados entre estes grupos criminosos na maioria dos
Estados levaram à redução dos índices de homicídio no país, algo que já era
verificado em São Paulo, onde o PCC tomou para si o papel de regular os
assassinatos nas periferias do Estado. De acordo com dados do Monitor da
Violência, a letalidade violenta no Brasil caiu 10% já em 2018, ano em que
foram registrados 57.117 homicídios.
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