(Foto: Ag. Senado | ABr)
Sergio Moro também palpitou em investigações feitas internamente
na Superintendência do Departamento de Polícia Federal do Paraná, em
sindicância instaurada para apurar o uso de um grampo ilegal na cela em que
ficou preso o doleiro Alberto Youssef
18 de julho de
2019
Por Marcelo
Auler, em seu blog - Não foi apenas junto ao Ministério Público Federal que o
então juiz Sérgio Moro, quando magistrado à frente da 13ª Vara Federal de
Curitiba, interferiu apresentando provas, sugerindo testemunhas e palpitando
sobre investigações e peças de acusação, tal como mostraram diálogos revelados
pelo The Intercept – ‘Não é muito tempo sem operação?’ .
Embora na função
de julgar com imparcialidade os casos que lhe chegassem, Moro também palpitou
em investigações feitas internamente na Superintendência do Departamento de
Polícia Federal do Paraná (SR/DPF/PR). Ocorreu, pelo menos, na Sindicância
SI-04/2014-SR/DPF/PR, instaurada para apurar o uso de um grampo ilegal na cela
em que ficou preso o doleiro Alberto Youssef, dentro daquela superintendência.
A própria
corregedora da SR/DPF/PR, delegada Rosicleya Baron de Albuquerque Barradas,
encaminhou ao juiz a sindicância antes dela ter sido concluída. Atendeu um
pedido do juiz, como revelou, em depoimento oficial, o delegado federal
Maurício Moscardi Grilo, em fevereiro de 2017. Foi Moscardi quem presidiu
aquela investigação interna que, segundo ficou provado posteriormente, tinha o
intuito de abafar a utilização de uma escuta ambiental na cela, sem qualquer
autorização legal.
A confirmação do
grampo sem autorização judicial, logo no início da Operação Lava Janto – março
de 2014 -, poderia (pode ainda?) contaminar todas as investigações que se
seguiram, motivo da tentativa de abafar o caso.
Protesto do DPF
Magno contra o arquivamento
Revelação
Sigilosa – O depoimento de Moscardi é praticamente desconhecido. Encontra-se no
Inquérito Policial 01/2017 – COAIN/COGER/DPF 01, instaurado em 2017 pela
Coordenadoria de Assuntos Internos da Corregedoria Geral do DPF. Ele foi aberto
a partir da conclusão de uma segunda sindicância – SI 04/2015 COGER/DPF -,
realizada um ano depois da Sindicância presidida por Moscardi. Esta segunda
investigação sobre o grampo ilegal foi presidida pelo delegado Alfredo
Junqueira, da Corregedoria do DPF em Brasília.
O IPL 01/2017
deveria apurar possíveis responsabilidades criminais sobre o grampo. Mas acabou
arquivado, a pedido dos procuradores da República da Força Tarefa da Lava Jato,
em Curitiba, pelo juiz Nivaldo Brunoni, da 23 Vara Federal de Curitiba, onde
ele tramitava tombado com o número 5003191-72.2017.4.04.7000/PR. O arquivamento
contrariou a manifestação feita pelo delegado federal Marcio Magno de Carvalho
Xavier, responsável pela investigação, que em 20 de julho de 2017, deixou claro
que o seu trabalho ainda não estava concluído. No despacho consignou:
“Deste modo,
como os procuradores atipicamente requereram o arquivamento do Inquérito
Policial, antes mesmo da realização de diligências básicas e da confecção do
relatório final, requer, que esse MM Juízo se digne a conceder a dilação de
prazo para a conclusão deste Inquérito Policial“.
Ele, porém, não
foi atendido. Rapidamente o inquérito foi arquivado e ninguém responsabilizado
criminalmente pela ordem da colocação do grampo ilegal. Jamais, também, vieram
a público o conteúdo das gravações captadas. Tudo foi jogado para debaixo do
tapete.
O caso foi
arquivado e mantido longe do acesso público. Com isso, a interferência de Moro
na primeira sindicância, tal como admitiu Moscardi em depoimento prestado pelo delegado
Magno, jamais tornou-se pública.
O relato do
delegado pode ser conferido no vídeo abaixo.
260 horas de
gravações – Na segunda sindicância em que a Corregedoria refez o trabalho de
Moscardi, não apenas se confirmou que o grampo ilegal existiu como ainda captou
conversas dos presos, tal como o Blog noticiou em outubro de 2015 – Surgem os
áudios da cela do Youssef: são mais de 100 horas. Foram, ao todo, 260 horas de
gravação, bem acima das 100 horas inicialmente noticiadas.
Na verdade, a
captação de diálogos entre os presos da primeira fase da Lava Jato já tinha
sido admitida na primeira reportagem que o Blog fez sobre o caso, em 20 de
agosto de 2015 – Lava Jato revolve lamaçal na PF-PR. Na época, a partir de
informações prestadas pelo advogado do doleiro Youssef, Antônio Augusto Lopes
Figueiredo Basto, noticiamos:
“Figueiredo
Basto admite que seu cliente teve fortes indícios de que suas conversas na
custódia com os outros presos chegavam ao conhecimento dos delegados, “Tivemos alguns
indícios disso sim. Houve indícios, isso não tem dúvida. Mas, não em
interrogatórios. Em conversas assim… que
não tem como serem recuperadas. Eles nunca interrogaram diretamente sobre isso,
mas os assuntos acabavam sendo abordados pelos delegados”.”- O recente depoimento
do doleiro Alberto Youssef levou a grande imprensa a falar do grampo ilegal
como se fosse novidade.
Advogados se
calaram – O medo de que tais gravações pusessem a perder a Operação Lava Jato
falou mais alto do que o dever legal de que os possíveis crimes cometidos
fossem devidamente apurados. Curiosamente até os advogados de defesa, a começar
pelo do doleiro Alberto Youssef, se calaram sobre o assunto. Para Figueiredo
Basto falou mais alto o interesse em um acordo de delação premiada do cliente.
Como ele,
certamente outros advogados se calaram, diante da possibilidade de acordos de
delação, que como a Folha de S. Paulo e The Intercept mostraram nesta
quinta-feira, (Mensagens apontam que Moro interferiu em negociação de delações)
também tiveram interferência ilegal de Moro.
Correndo atrás
do prejuízo – Com raras exceções, como recentemente mostrou a reportagem de
Vasconcelos Quadros, na Pública – Agência de Jornalismo Investigativo (Moro
teria ignorado investigação da PF sobre provas ilegais em caso Odebrecht), as
defesas dos réus da Lava Jato desistiram das cobranças destas apurações. Até
porque a maioria desconhece a instauração do IPL 01/2017.
Embora a
investigação sobre os possíveis crimes ali cometidos tenha sido abortada,
continua a perseguição interna ao Agente de Polícia Federal Dalmey Werlang; Ele
confessou, em 2015, a instalação do grampo ilegal a mando doa delegados Igor
Romário de Paula, então Coordenador do Combate ao Crime Organizado, Rosalvo
Ferreira Franco, na época superintendente do DPF no Paraná, e Márcio Adriano
Anselmo, que coordenava a Operação Lava Jato dentro da SR/DPF/PR. Até hoje
Werlang responde a Processo Administrativo Disciplinar o que o impede de se
aposentar.
Foi nesse
processo administrativo que o doleiro Youssef prestou depoimento em 27 de
junho. Motivo que levou a chamada grande imprensa a falar da existência do
grampo e da confirmação de que ele realmente captou conversas como se fosse
algo desconhecido.
Embora tenha
falado do grampo à época em que ele foi encontrado, a mídia tradicional jamais
correu atrás da história e da devida apuração pois estava toda apoiando Moro,
Dallagnol e os lavajateiros de Curitiba. Foram os Blogs que sustentaram essas
cobranças, sem que a chamada grande mídia lhes dessem atenção. Agora, ela corre
atrás do prejuízo.
Ao publicar esta
reportagem, o Blog respalda-se em diversas decisões do Supremo Tribunal Federal
que não considera crime jornalistas darem divulgação a documentos e peças de
processos em segredo de Justiça. Trata-se de um dever de a imprensa levar a
informação que recebe ao grande público, tal como o The Intercept vem fazendo.
Mesmo se tratando de documento sigiloso.
Aos leitores e
seguidores do Blog – Para participar da campanha que conseguiu eleger a chapa
ABI: Luta Pela Democracia, de oposição à antiga diretoria da Associação
Brasileira de Imprensa, o editor do Blog ausentou-se do mesmo nos últimos
meses, deixando de atualizar as postagens. Por isso esperamos a compreensão dos
leitores e seguidores com as limitações de nossas postagens que aos poucos
tentaremos retornar. Desde já renovamos os agradecimentos àqueles que, mesmo
com nossa ausência, não deixaram de contribuir para a sobrevivência do Blog e
de seu editor. Tais contribuições sustentam, inclusive, viagens como a atual a
Curitiba, cujas passagens e hospedagens estão sendo ofertadas por duas
leitoras/apoiadoras do Blog, às quais deixamos registrado nosso agradecimento.
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