(Foto: Brasil 247)
"A portaria 666, número da Besta, baixada diabolicamente
por Sergio Moro, confirma todos os temores sobre o risco de uma ditadura de
novo tipo no Brasil – com censura, perseguições aos jornalistas e ataques
mortais à liberdade de expressão", escreve o jornalista Altamiro Borges
Altamiro Borges
é responsável pelo Blog do Miro - Uma trincheira na luta contra a ditadura
midiática
2 de agosto de
2019
Há muito tempo
já se sabia que a midiática Operação Lava-Jato, com toda sua seletividade e
seus abusos de autoridade, não tinha como objetivo combater a corrupção – como
a mídia falsamente moralista alardeava para milhões de “midiotas”. Seu intento
era eminentemente político em um contexto de guerra híbrida para assaltar o
poder. Na essência, a judicialização da política visava derrubar governos
democrático-populares, com seu reformismo brando e seu republicanismo ingênuo.
Essa manobra resultou no golpe do impeachment de Dilma Rousseff, na prisão
política do ex-presidente Lula, na breve ascensão da gangue de Michel Temer e
no avanço do neofascismo no país, com a corrompida eleição do miliciano Jair
Messias Bolsonaro em 2018.
Desde 9 de julho
de 2019, porém, o que já era convicção das forças mais críticas da sociedade
ganhou provas irrefutáveis com as revelações do site “The Intercept”. O
vazamento das mensagens trocadas pelo Telegram entre Sergio Moro, o ex-juiz que
ganhou de presente um cargo no laranjal bolsonariano, Deltan Dallagnol, o
lobista do PowerPoint, e outros farsantes do Judiciário confirmou os crimes de
abuso de autoridade e várias sujeiras cometidas pela famigerada República de
Curitiba. A bombástica “Vaza-Jato” evidenciou a existência do conluio entre o
falso juiz e os falsos procuradores, que formaram uma quadrilha com objetivos
políticos e mercenários e estupraram a jovem democracia brasileira impondo um
típico Estado de Exceção no Brasil.
O escândalo, já
tratado por vários veículos da imprensa internacional como um dos piores crimes
judiciais da história recente, não produziu de imediato maiores abalos no
Brasil. Se o país não estivesse submetido a um novo tipo de ditadura, Sergio
Moro seria defenestrado do governo, processado e execrado pela sociedade; já
Deltan Dallagnol seria preso por sua ação de lobista; e a própria eleição de
Jair Bolsonaro, que se baseou nas truculências e ilegalidades da Lava-Jato,
sofreria questionamentos no Supremo Tribunal Federal (STF). Mas nada disso
ocorreu até agora, o que pode ser debitado mais uma vez na conta da imprensa
golpista do Brasil.
Emissoras de
tevê e rádio, jornais, revistas e sites da mídia monopolista – tendo à frente o
Grupo Globo com sua propriedade cruzada no setor – tiveram papel decisivo na
projeção de Sergio Moro e de seus capachos do Ministério Público Federal. Esses
veículos nunca questionaram os crimes cometidos pela Lava-Jato, apesar da
abundância de ações ilegais e truculentas contrárias à Constituição e ao
Direito. Derrotado quatro vezes nas urnas, o Partido da Imprensa Golpista (PIG)
– como ficou conhecido através da irreverência do saudoso Paulo Henrique Amorim
– não vacilou em se unir ao Partido da Lava-Jato (PLJ) para desfechar o golpe
parlamentar-judicial-midiático no Brasil, a exemplo do que já havia ocorrido
com sucesso em Honduras e no Paraguai.
A chegada ao
poder de Jair Bolsonaro – com os seus milicianos laranjas, milicos rancorosos,
fundamentalistas neopentecostais e filósofos de orifício, entre outros dejetos
– não estava nos planos originais da mídia feudal, em especial da Rede Globo.
Com sua escandalização da política e a criminalização das forças de esquerda,
ela ajudou a chocar o ovo da serpente fascista, mas pretendia uma saída mais
segura e tranquila. A eleição gerou um cenário esquizofrênico. Toda a mídia
monopolista apoia a agenda econômica ultraneoliberal liderada pelo abutre Paulo
Guedes; mas parte dela discorda do conservadorismo nos costumes e teme o
autoritarismo na política do governo. Essa maluquice também se expressa diante
das bombásticas revelações da Vaza-Jato.
As emissoras de
tevê, que projetaram Sergio Moro como “herói nacional”, seguem blindando o
“marreco de Maringá”. Receiam que seu desmoronamento prejudique o projeto de
poder que tomou de assalto o Palácio do Planalto. Também temem que os
vazamentos comprovem o conluio das “celebridades” midiáticas com os fascistas
de toga contra a democracia nativa. O renomado jornalista Glenn Greenwald,
criador do Intercept, já sinalizou que tem provas da “parceria da Globo” nos
crimes da Lava-Jato. Essa ligação incestuosa explica a omissão da TV Globo
(aberta), da Globo News (assinante) e da rádio CBN na cobertura da Vaza-Jato.
Outros canais – como o SBT (Sistema Bolsonarista de TV), do “topa tudo por
dinheiro” Silvio Santos, e a Record, do “mercador da fé” Edir Macedo – são
ainda mais descarados e amadores no apoio ao “justiceiro” Sergio Moro.
Já os jornais
impressos, que afundam na crise e hoje não tem tanto poder na formação da
“opinião pública”, estão divididos na cobertura. Segundo pesquisa diária do
site Manchetômetro, produzida pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera
Pública, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Estadão e O Globo tentam
desqualificar os vazamentos, evitam o contraditório em suas páginas e protegem
o miliciano que ocupa o cargo de ministro da Justiça do fascistoide Jair
Bolsonaro. Já a Folha, talvez por motivos mercadológicos, fez parceria com o
Intercept e adotou uma linha editorial mais crítica diante dos crimes de Sergio
Moro. Entre as revistas, CartaCapital sempre denunciou os abusos da República
de Curitiba. A Veja, famosa por sua postura ultradireitista, surpreendeu ao
firmar parceria na difusão da Vaza-Jato. Já a IstoÉ – ou QuantoÉ – não conta!
Mas a
cumplicidade de parte da mídia com a Lava-Jato pode ainda sofrer alterações com
o recrudescimento da postura autoritária do governo. Diante da gravidade dos
vazamentos publicados pelo site The Intercept – mas também pelos jornais Folha
de S.Paulo e Correio Braziliense, pela revista “Veja” e pelo blogueiro tucano
Reinaldo Azevedo –, o vaidoso Sergio Moro viu sua popularidade derreter, o que
o transformou em um mero miliciano no laranjal de Jair Bolsonaro. Com o abalo
da falsa imagem de ético, fabricada pela mídia udenista, o “marreco de Maringá”
tira de vez a máscara e assume seu DNA fascista – já expressos nos abusos
impostos como “juiz” punitivista ou no seu pacote anticrime, da “licença para
matar”, como ministro da Justiça.
A portaria 666,
número da Besta, baixada diabolicamente por Sergio Moro, confirma todos os
temores sobre o risco de uma ditadura de novo tipo no Brasil – com censura,
perseguições aos jornalistas e ataques mortais à liberdade de expressão. Apesar
dos desmentidos, ela tem como alvo evidente o jornalista Glenn Greenwald, de
origem estadunidense, abrindo brecha legal para sua deportação e criando um
clima de terror e medo nas redações da imprensa. Mesmo veículos que tentaram
desqualificar os vazamentos do Intercept, deixando de lado seu conteúdo
bombástico e atacando os “hackers” – que antes eram russos, agentes de Vladimir
Putin, e que depois foram descobertos em Araraquara (SP), talvez sejam levados
a repassar as suas manipulações.
A conferir!
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