MPF/DIVULGAÇÃO-MARCELO CAMARGO/ABR
Procuradores,
"orgulhosos", posam para foto promocional da Lava Jato. Ex-ministro
Eugênio Aragão (no detalhe) repudia conduta aética da força-tarefa
Ainda é tempo de porem a mão na consciência, mostrarem sincero
remorso e arrependimento. Do contrário, a história não lhes perdoará, por mais
que os órgãos de controle os queiram proteger
GGN – Sim.
Ex-colegas, porque, a despeito de a Constituição me conferir a vitaliciedade no
cargo de membro do Ministério Público Federal, nada há, hoje, que me
identifique com vocês, a não ser uma ilusão passada de que a instituição a que
pertenci podia fazer uma diferença transformadora na precária democracia
brasileira. Superada a ilusão diante das péssimas práticas de seus membros, nego-os
como colegas.
Já há semanas
venho sentindo náuseas ao ler suas mensagens, trocadas pelo aplicativo Telegram
e agora reveladas pelo sítio The Intercept Brasil, num serviço de inestimável
valor para nossa sociedade deformada pela polarização que vocês provocaram. Na
verdade, já sabia que esse era o tom de suas maquinações, porque já os conheço
bem, uns trogloditas que espasmam arrogância e megalomania pela rede interna da
casa.
Quando aí
estava, tentei discutir com vocês, mostrar erros em que estavam incidindo no
discurso pequeno e pretensioso que pululava pelos computadores de serviço. Fui
rejeitado por isso, porque Narciso rejeita tudo que não é espelho. E me
recusava a me espelhar em vocês, fedelhos incorrigíveis.
A mim vocês
não convencem com seu pobre refrão de que “não reconhecem a autenticidade de
mensagens obtidas por meio criminoso”. Por muito menos, vocês “reconheceram”
diálogo da presidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff com o ex-presidente
Lula, interceptado e divulgado de forma criminosa.
Seu guru, hoje
ministro da justiça de um desqualificado, ainda teve o desplante de dizer que
era irrelevante a forma como fora obtido acesso ao diálogo, pois relevaria mais
o seu conteúdo. Tomem! Isso serve que nem uma luva nas mãos ignóbeis de vocês.
Quem faz coisa errada e não se emenda acaba por ser atropelado pelo próprio
erro.
Subiu-lhes à
cabeça. Perderam toda capacidade de discernir entre o certo e o errado, entre o
público e o privado, tamanha a prepotência que os cega. Não têm qualquer autocrítica.
Nem diante do desnudamento de sua vilania, são capazes de um gesto de
satisfação, de um pedido de desculpas e do reconhecimento do erro. Covardes,
escondem-se na formalidade que negaram àqueles que elegeram para seus inimigos.
Esquecem-se
que o celular de serviço não se presta a garantir privacidade ao agente público
que o usa. Celulares de serviço são instrumentos de trabalho, para comunicação
no trabalho. Submete-se, seu uso, aos princípios da administração, entre eles o
da publicidade, que demanda transparência nas ações dos agentes públicos.
Conversas de
cunho pessoal ali não devem ter lugar e, diante do risco de intrusão, também
não devem por eles trafegar mensagens confidenciais. Se houver quebra de
confidencialidade pela invasão do celular, a culpa pelo dano ao serviço é do
agente público que agiu com pouco caso para com o interesse da administração e
depositou sigilo funcional na rede ou na nuvem virtual.
Pode por isso
ser responsabilizado, seja na via da improbidade administrativa, seja na via
disciplinar, seja no âmbito penal por dolo eventual na violação do sigilo
funcional. Não há, portanto, que apontarem o dedo para os jornalistas que
tornaram público o que público devesse ser.
De qualquer
sorte, tenho as mensagens como autênticas, porque o estilo de vocês – ou a
falta dele – é inconfundível. Mesmo um ficcionista genial não conseguiria
inventar tamanha empáfia. Tem que ser membro do MPF concurseiro para chegar a
tanto! Umas menininhas e uns menininhos “remplis de soi-mêmes”, filhinhas e
filhinhos de papai que nunca souberam o que é sofrer restrições de ordem
material e discriminação no dia a dia.
Sempre tiveram
sua bola levantada, a levar o ego junto. Pessimamente educados por seus pais
que não lhes puxaram as orelhas, vocês são uns monstrengos incapazes de
qualquer compaixão. A única forma de solidariedade que conhecem é a de uma
horda de malfeitores entre si, um encobrindo ao outro, condescendentes com os
ilícitos que cada um pratica em suas maquinações que ousam chamar de “causa”.
Matilhas de hienas também conhecem a solidariedade no reparto da carniça, mas,
como vocês, não têm empatia.
Digo isso com
o asco que sinto de vocês hoje. Sinto-me mal. Tenho vontade de vomitar. Ao ler
as mensagens trocadas entre si em momentos dramáticos da vida pessoal do
ex-presidente Lula, tenho a prova do que sempre suspeitei: de que tem um quê de
psicopatas nessa turma de jovens procuradores, uma deformação de caráter
decorrente, talvez, do inebriamento pelo sucesso. Quando passaram no concurso,
acharam que levaram o bilhete da sorte, que lhes garantia poder, prestígio e
dinheiro, sem qualquer contrapartida em responsabilidade.
Sim, dinheiro!
Alguns de vocês venderam sua atuação
pública em palestras privadas, em troca de quarenta moedas de prata. Mas
negaram ao ex-presidente Lula o direito de, já sem vínculo com a administração,
fazer palestras empresariais. As palestras de vocês, a passarem o trator sobre
a presunção de inocência, são sagradas. Mas as de Lula, que dão conta de sua
visão de Estado como ator político que é, são profanas. E tudo fizeram na
sorrelfa, enganando até o corregedor e o CNMP.
Agora, a
cerejinha do bolo. Chamam Lula de “safado”, fazem troça de seu sofrimento,
sugerem que a trágica morte de Dona Mariza foi queima de arquivo… chamam o luto
de “mimimi” e negam o caráter humano àquele que tão odienta e doentiamente
perseguem!
Só me resta
perguntar: onde vocês aprenderam a ser nazistas? Pois tenho certeza que o
desprezo de vocês pelo padecimento alheio não é diferente daqueles que
empurravam multidões para as câmaras de gás sem qualquer remorso, escorando-se
no “dever para com o povo alemão”. Ao externarem tamanha crueldade para com o
ex-presidente Lula, vocês também invocarão o dever para com o Brasil?
Declarem-se
suspeitos em relação ao alvo de seu ódio. Ainda é tempo de porem a mão na
consciência, mostrarem sincero remorso e arrependimento, porque aqui se faz e
aqui se paga. A mão à palmatória pode redimi-los, desde que o façam com a
humildade que até hoje não souberam cultivar e empreendam seu caminho a
Canossa, para pedirem perdão a quem ofenderam.
Do contrário,
a história não lhes perdoará, por mais que os órgãos de controle, imbuídos de
espírito de corpo, os queiram proteger. A hora da verdade chegou e, nela, Lula
se revela como vítima da mais sórdida ação de perseguição política empreendida
pelo judiciário contra um líder popular na história de nosso país. Mais cedo ou
mais tarde ele estará solto e inocentado, já vocês…
Despeço-me
aqui com uma dor pungente no coração. Sangro na alma sempre que constato a
monstruosidade em que se transformou o Ministério Público Federal. E vocês são
a toxina que acometeu o órgão. São tudo que não queríamos ser quando lutamos,
na Constituinte, pelo fortalecimento institucional. Esse desvio de vocês é
nosso fracasso. Temos que dormir com isso.
Eugênio Aragão
é jurista e advogado, integrou o Ministério Público Federal de 1987 a 2017 e
foi ministro da Justiça em 2016, no governo Dilma Rousseff
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