(Foto: REUTERS/Nacho Doce)
Integrantes da Operação Lava Jato ironizaram a morte da
ex-primeira-dama, Marisa Letícia, e o luto do ex-presidente Lula. É o que
revelam mensagens vazadas pelo site The Intercept, no novo capítulo da Vaza
Jato
27 de agosto de
2019
Em 24 de janeiro
de 2017, Marisa Letícia sofreu um AVC hemorrágico. A internação no hospital
Sírio-Libanês, em São Paulo, é comentada em chat no aplicativo Telegram.
Quando foi
confirmada a morte encefálica da ex-primeira-dama, em 3 de fevereiro de 2017, a
procuradora da República Laura Tessler, do MPF (Ministério Público Federal) em
Curitiba, sugere que Lula faria uso político da perda da mulher.
Minutos após a
confirmação da morte de Marisa Letícia ser noticiada, o tema volta a ser
comentado no chat entre os procuradores da Lava Jato.
Após nota da
colunista do jornal Folha de S.Paulo Mônica Bergamo sobre a agonia vivida por
Marisa em seus últimos dias de vida ter sido compartilhada no grupo, a
procuradora Laura Tessler refuta a possibilidade de o agravamento do quadro da
ex-primeira-dama ter acontecido após busca e apreensão na casa dela e dos
filhos e condução coercitiva de Lula, determinada pelo então juiz Sergio Moro
no ano anterior. "Ridículo... Uma
carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão... ou a descoberta
de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula", afirma Laura.
Na mesma
conversa, o procurador Januário Paludo, que também integra a força-tarefa da
Lava Jato em Curitiba, coloca sob suspeita as circunstâncias da morte de Marisa
Letícia. "A propósito, sempre tive uma pulga atrás da orelha com esse
aneurisma. Não me cheirou bem. E a segunda morte em sequência", diz ele,
sem especificar à qual outra morte se referia.
A suspeição em
relação às circunstâncias da morte da ex-primeira-dama já havia sido exposta
por Paludo em 24 de janeiro de 2017, quando Marisa Letícia fora internada. Na
ocasião, o chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol,
afirma que Marisa havia chegado debilitada ao hospital. "Um amigo de um amigo de uma prima disse
que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal", afirma
Deltan. Paludo reage à frase dizendo: "Estão eliminando as testemunhas".
Em 4 de
fevereiro, o corpo de Marisa Letícia foi velado em São Bernardo do Campo, no
ABC Paulista. A fala de Lula na despedida da mulher é compartilhada pela
procuradora Laura Tessler no chat.
Na ocasião, Lula
afirmou: "Eles que têm que provar que as mentiras que estão contando são
verdade. Então, Marisa, descanse em paz porque esse Lulinha paz e amor vai
continuar brigando muito".
Deltan define a
manifestação de Lula como "uma bobagem". "Bobagem total... nguém
mais dá ouvidos a esse cara", diz.
O tema volta ao
grupo no dia seguinte, quando o procurador Antônio Carlos Welter diz que
"a morte da Marisa fez uma martir [sic] petista e ainda liberou ele pra
gandaia sem culpa ou consequência politica".
A morte de
Marisa também foi comentada por outros integrantes do MPF em chats no Telegram.
Ainda em 4 de fevereiro, a procuradora da República Thaméa Danelon, da
força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, critica a participação da procuradora
Eugênia Augusta Gonzaga no velório da ex-primeira-dama, o que, para ela,
equivaleria a ir ao enterro da "esposa do líder de uma facção do
PCC".
"Olhem quem
estava no velório da Ré Marisa Leticia", escreve às 14h07 no grupo
Parceiros/MPF - 10 Medidas, ao citar fotografia de Eugênia na cerimônia. Outros
procuradores questionam qual seria o problema da presença no velório de Eugênia
Gonzaga, que chefiou a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos
de 2014 até o começo de agosto.
"Acho um desrespeito ao Janot e a todos os colegas envolvidos na
LJ. Além disso, demonstra partidarismo. Algo q temos q evitar Apenas isso.
Abraços", responde Thaméa às 15h16. Ela se referia a Rodrigo Janot, então
procurador-geral da República. "É como um colega ir ai enterro da esposa
do líder de uma facção do PCC. No mínimo inapropriado", compara.
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