"A reação democrática que impediu a consumação de um novo
ato de crueldade contra Lula revela que a Lava Jato e seus amigos tentaram
mostrar uma força que já não possuem", escreve Paulo Moreira Leite, do
Jornalistas pela Democracia
Paulo Moreira
Leite é colunista do 247, ocupou postos executivos na VEJA e na Época, foi
correspondente na França e nos EUA
8 de agosto de
2019
Quando circulou
a notícia de que Lula seria transferido para São Paulo, a reação esperançosa de
um bom número de advogados e militantes do Lula Livre foi de relativa
satisfação.
A impressão era
que Lula ficaria mais perto da família e que esta situação até poderia facilitar
o acesso a possíveis benefícios na condição de prisioneiro.
A revelação de
que seria transferido para Tremembé II desfez qualquer otimismo, confirmando um
contraste imenso entre a visão de brasileiros e brasileiras que compreendem a importancia de garantir um
tratamento justo a Lula e a postura do
governo Bolsonaro e seus aliados, que precisam dele como um troféu e pretendem
garantir sua permanência da prisão de qualquer maneira.
O chocante foi
constatar que a mudança não traria nenhum benefício a Lula. Só representava
mais um esforço de degradação a um presidente que, como o próprio Sérgio Moro
já admitiu, não perdeu o direito a um
tratamento compatível com a dignidade do cargo que ocupou.
Em Tremenbé II,
até sua aparência seria modificada: teria o cabelo raspado e a barba cortada.
Lula passaria a usar uniforme e, caso tivesse direito a progressão da pena, que
em muitos locais permite que o prisioneiro passe o dia fora para trabalhar,
seria forçado a permanecer na prisão. Em Tremembé II, três empresas privadas
têm autorização para empregar a mão de obra de prisioneiros, o que explica o
mórbido tuite de João Dória: "Lula, se desejar, terá oportunidade de fazer
algo que nunca fez na vida: trabalhar!".
A reconstituição
da jornada desta quarta-feira mostra uma máquina operando com uma finalidade
política óbvia -- rebaixar o tratamento dispensado ao preso político que se
tornou o ponto de encontro de muitas linhas que definirão nosso futuro como
nação.
A cronologia
mostra que tudo foi feito e preparado em casa. Na sequência de uma solicitação
da Polícia Federal de Curitiba, onde delegados maldiziam Lula e Dilma já no
segunto turno de 2014, a juiza Carolina Lebbos, responsável pela carceragem, determinou a transferência do prisioneiro
para São Paulo. A decisão caiu na mesa do juiz Paulo Eduardo de Almeida Sorci,
do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. O Conselho é um
órgão do Ministério da Justiça e o juiz Sorci foi nomeado por Sérgio Moro.
A reação
democrática que em poucas horas impediu a consumação de um novo ato de
crueldade contra Lula confirma um ponto importante: a Lava Jato e seus amigos
tentaram mostrar uma força que já não possuem.
A composição de
forças que ontem se uniram no STF lembrava, como uma fotografia atualizada, o
conjunto ecumêmico que em 1975 foi à missa da Sé, em São Paulo, para protestar
contra o assassinato de Vladimir Herzog no DOI-CODI paulista.
Herzog foi morto
por criminosos fantasiados de agentes do Estado, incapazes de compreender que
os tempos de impunidade estavam perto do fim.
A fracassada
transferência de Lula, ontem, traduziu um esforço para manter tudo como está
num país onde o mito Lava-Jato se desfaz dia após dia nas revelações da Vaza
Jato e a decepção de toda população cria
uma vontade de imensa de reação e mudança.
Lula continua
preso onde sempre esteve, sua condição segue injusta como sempre foi. Será
preciso enfrentar, ainda, novas fraudes em curso.
Ao lado de
possíveis acordos pelo alto, será necessário, também, mobilizar parcelas cada
vez maiores de homens e mulheres do povo para enfrentar as investidas que
virão.
Mas há algo de
bom em celebrar a derrota de uma nova injustiça.
Alguma dúvida?
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