"O Brasil está pegando fogo, com a Amazônia queimando para
transformar a maior floresta do mundo em pasto do agronegócio bolsonariano.
Este é o maior crime praticado não só contra o país, mas contra a
civilização", afirma Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia.
"É o caso de uma intervenção do Conselho de Segurança da ONU",
defende
21 de agosto de
2019
Ricardo Kotscho
é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o
Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.
Vamos parar com
essa conversa mole de que os incêndios na floresta são provocados por bitucas
de cigarro jogados na beira da estrada, por algum descuido ou acidente.
Nada disso:
trata-se apenas do cumprimento de mais uma promessa de campanha do “Capitão
Motoserra” (assim ele se autodenominou), transformada em projeto de governo,
como escreveu hoje Gregorio Duvivier em sua coluna na Folha (“Queimar era um
prazer”).
Resultado: já
foram contabilizados 72.843 focos de incêndio nos oito meses de governo
Bolsonaro.
O Brasil está
pegando fogo, com a Amazônia queimando para transformar a maior floresta do
mundo em pasto do agronegócio bolsonariano.
Este é o maior
crime praticado não só contra o país, mas contra a civilização _ e as
“instituições que estão funcionando” nada fazem para impedir o avanço da
barbárie planejada.
Durante toda a
campanha, ele prometeu que iria liberar seus seguidores fanáticos para atirar,
matar, tacar fogo nas matas e nas aldeias.
Bolsonaro
declarou guerra aos índios, aos quilombolas, aos sem-terra, à flora e à fauna.
Faz meses que a
onda de queimadas começou em áreas protegidas, mas só nesta quarta-feira ele
deixou de falar do filho embaixador para tratar do assunto.
Como era de se
esperar, já encontrou um inimigo para culpar, com a leviandade de sempre, sem
apresentar nenhuma prova:
“O crime existe.
Isso temos que fazer o possível para que não aumente, mas nós tiramos dinheiro
das ONGs. Não tem mais. De modo que esse pessoal está sentindo falta do
dinheiro Então pode, não estou afirmando, ter ação criminosa desses ongueiros
para chamar atenção contra minha pessoa, contra o governo do Brasil”.
A agência
Reuters já transmitiu esta barbaridade para a imprensa mundial, colocando o
Brasil mais uma vez em destaque no noticiário como um país governado por um
assassino cada vez mais ensandecido.
Pior que ele é
seu ministro do Meio Ambiente, o inacreditável Ricardo Salles, que nega a
realidade das queimadas e atribui tudo a “sensacionalismo” da imprensa e dos
inimigos do Brasil.
Em sua fala rude
e grosseira, o presidente não foi capaz de citar o nome de nenhuma ONG, muito
menos disse quais providências seu governo está tomando para combater os
incêndios que se alastram por toda parte e cujos efeitos já foram sentidos até
em São Paulo.
Não por acaso,
as maiores vítimas são as aldeias indígenas, como mostra a reportagem “Onda de
queimadas já atinge 68 áreas protegidas só nesta semana”, publicada na Folha.
“Em Mato Grosso,
o Parque Nacional Chapada dos Guimarães perdeu 12% de sua vegetação e a Terra
indígena Parque do Araguaia (TO), localizada na Ilha do Bananal, teve 1.127
focos registradois desde o ano passado”.
No Mato Grosso
do Sul, o fogo chegou à Terra Indígena Kadiweu e, em Rondônia, foi atingida a
Reserva Extrativista Jaci-Paraná.
O Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) relata que os dez municípios amazônicos
que mais registraram focos de incêndios têm também as maiores taxas de
desmatamento.
Em Porto Velho,
capital de Rondonia, a fumaça das queimadas já provocou desvios de avião,
triplicou os atendimentos na saúde e coloca em perigo o trafego de veículos na
BR-364.
Até a última
segunda-feira, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou
5.533 pontos de queimada no estado, um aumento de 190% em relação ao mesmo período
de 2018.
“É uma hecatombe
ecológica que vai atingir o mundo inteiro”, alerta o médico neurocientista
Miguel Nicolelis, um dos cientistas brasileiros mais reconhecidos mundialmente,
com quem falei esta manhã.
Nicolelis
escreveu um longo relatório em inglês sobre o que está acontecendo na Amazônia,
que enviou para seus colegas no exterior.
Com o país
acoelhado, sem reagir à destruição de um patrimônio ambiental da humanidade,
vários países europeus já estudam aplicar sanções econômicas ao Brasil.
Já é o caso de
uma intervenção do Conselho de Segurança da ONU, pois o que está acontecendo
aqui, com a guerra deflagrada contra o meio ambiente pelo governo brasileiro,
afeta todos os países do mundo.
A mídia e os governos
dos países civilizados parecem mais preocupados com a destruição da Amazônia do
que nós.
Enquanto isso, o
fogo avança por toda parte, como informa nota do ICMBio (Instituto Chico
Mendes), que registrou a destruição de 32,5 mil hectares no Parque Nacional de
Ilha Grande, no Paraná, o equivalente a 206 parques do Ibirapuera.
Isso deveria
estar diariamente nas manchetes de toda a imprensa brasileira, mas aqui ficamos
discutindo se o filho 03 do “Capitão Motoserra” vai ou não ser o embaixador
brasileiro nos Estados Unidos.
Estamos
brincando com fogo, literalmente, nas mãos de um celerado ex-capitão, que até
hoje procura comunistas debaixo da cama, e do silêncio obsequioso das Forças
Armadas, que deveriam defender a nossa soberania, mas a tudo assistem passivamente.
S.O.S. Brasil!
E vida que
segue, por enquanto.
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