Jornalista Ricardo Kotscho faz um balanço da destruição do
Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro. "Levamos mais de cinco séculos
para sermos respeitados pelo mundo e, em apenas 234 dias, o Brasil virou motivo
de preocupação mundial com o seu destino", diz Kotscho. "Pobre
Brasil, pobres de nós, que viramos motivos de chacota no mundo inteiro"
Ricardo
Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro
vezes o Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.
Terça-feira, 27
de agosto de 2019.
Esta semana, o
ex-tenente Jair Messias Bolsonaro, reformado pelo Exército como capitão, aos 33
anos, eleito com 57 milhões de votos, completa oito meses na Presidência da
República.
Algo que
parecia simplesmente inimaginável apenas um ano atrás, quando o deputado do
baixíssimo clero começou a subir nas pesquisas, tornou-se dramática realidade
desde a patética cerimônia de posse.
Até hoje tenho
dificuldades em escrever “presidente Bolsonaro”. Custo a acreditar que isso
aconteceu.
Foram
certamente os piores dias das nossas vidas e da história do país.
Em tão pouco
tempo, a destruição foi brutal, em todas as áreas, e não apenas na Amazônia em
chamas, o emblemático retrato deste governo.
A estagnação
econômica e a tragédia social dela decorrente são sintomas de uma nação doente,
sem rumo, sem capacidade de reação, sem esperanças.
De eterno país
do futuro, estamos sendo condenados agora a ser um país sem futuro.
Levamos mais
de cinco séculos para sermos respeitados pelo mundo e, em apenas 234 dias, o
Brasil virou motivo de preocupação mundial com o seu destino.
Mas parece que
a ficha ainda não caiu para boa parte dos brasileiros, que elegeram este
governo e ainda o defendem, como mostrou a pesquisa Veja/FSB, publicada na
última edição da revista.
Ao ler as
cartas de leitores na imprensa e os comentários nas redes sociais, bate um
desânimo danado.
Como foi
possível esta mudança tão radical no comportamento de pessoas aparentemente
normais, que se tornaram seguidores fanáticos deste Jim Jones dos trópicos?
Piores que
eles são os pulhas “isentões”, os que votaram nulo ou em branco, fizeram
campanha para o Amoedo, “por falta de alternativas”, fingindo que não têm nada
com isso..
A começar pelo
presidente, tenho a impressão de que estamos numa guerra fratricida movida por
vingança, ódio, frustrações e ressentimentos represados por muito tempo.
De outro lado,
grassa uma epidemia de depressão coletiva, com gente morrendo de angústia e
amargura, pela absoluta falta de perspectivas de uma vida melhor e mais digna.
Cada vez mais
gente desiste de procurar emprego, e os que ainda têm algum trabalho temem o
dia de amanhã.
A nuvem negra
de fumaça da floresta que escureceu São Paulo no meio do dia, na semana
passada, foi uma antevisão do que nos espera no futuro.
Os três
poderes da República viraram um só, nas mãos de um sujeito doente da cabeça,
que ignora e atropela as instituições, sem se importar com as consequências dos
seus atos.
Depois de
declarar guerra ao mundo e desdenhar da ajuda oferecida pelo G-7, achando que
todos só querem derrubá-lo para ocupar a Amazônia, inclusive os que o acolitam
no Palácio do Planalto, Bolsonaro partiu para agressões pessoais a jornalistas
e líderes de outros países.
Por isso, no
começo desta segunda-feira, resolveu declarar uma “greve de silêncio”, ao se
recusar a responder a perguntas de repórteres.
Trata a todos
como se ainda estivesse no quartel, dando ordens a um batalhão imaginário, em
seus delírios persecutórios.
Entra dia, sai
dia, e não saímos desta mesmice de declarações estapafúrdias, sem nenhuma
relação com a vida real.
Execrado pela
imprensa mundial, ataca quem está por perto, cercado por um batalhão de
seguranças e puxa-sacos.
A todo
momento, repete que quem manda é ele, e os ministros que tratem de obedecer, ou
serão defenestrados.
Como escolheu
os ministros a dedo, à sua imagem e semelhança, eles obedecem.
Ninguém escapa
da sua fúria crescente, a não ser os três príncipes herdeiros, cada vez mais
poderosos e beligerantes.
Se é assim
agora, com apenas oito meses de governo, como estará o país ao final dos quatro
anos de mandato, se é que ele conseguirá chegar até lá?
Até quando
nossa frágil democracia resistirá a esta escalada de atrocidades e insanidades
sem fim?
Eleito na onda
do combate à corrupção patrocinada pela Lava Jato, agora quer controlar
pessoalmente os órgãos de fiscalização e controle para evitar que cheguem à sua
família.
Sustentado
ainda pelo mercado, pelos fardados em geral, por setores da mídia, pelas milícias
e pelos agrotrogloditas (apud Elio Gaspari), que bancaram sua candidatura,
Bolsonaro não é nada original.
Governa pelo
medo, pelas ameaças e perseguições, como se viu na Europa conflagrada nos anos
30 do século passado.
Contrafação de
aprendiz de ditador, vai avançando os sinais da institucionalidade, agora sem
radares, como se o Brasil fosse um condomínio particular dele.
Pobre Brasil,
pobres de nós, que viramos motivos de chacota no mundo inteiro.
Vida que
segue.
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