"Seu discurso sobre a Amazônia não ajudou a derrubar a
impressão de que está havendo falta de controle no desmatamento. Bolsonaro
apenas repetiu o que vem dizendo, sem qualquer evidência e dados. O grande prejudicado
com isso é o setor do agronegócio exportador, que precisa que seus clientes
internacionais possam ampliar os negócios com o Brasil sem a pressão dos seus
mercados consumidores", diz a jornalista
25 de setembro
de 2019
A jornalista
Miriam Leitão avalia que os ruralistas brasileiros, que apoiaram a ascensão de
Jair Bolsonaro, pagarão caro por seu discurso insano nas Nações Unidas.
"Aquele é
um ambiente onde a serenidade é bem-vinda e o tempo é usado para lançar pontes
nas quais passarão os diplomatas para fazer acordos e parcerias. E apontar
princípios que defenderá nas negociações bilaterais", diz ela, em sua
coluna.
"Seu
discurso sobre a Amazônia não ajudou a derrubar a impressão de que está havendo
falta de controle no desmatamento. Bolsonaro apenas repetiu o que vem dizendo,
sem qualquer evidência e dados. O grande prejudicado com isso é o setor do
agronegócio exportador, que precisa que seus clientes internacionais possam
ampliar os negócios com o Brasil sem a pressão dos seus mercados consumidores.
Saiba mais em
reportagem da Reuters:
NAÇÕES UNIDAS
(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro usou o discurso na Assembleia Geral da
ONU, nesta terça-feira, para garantir o compromisso de seu governo com a
preservação do meio ambiente, e atacou como falácia o argumento de que a
Amazônia é um patrimônio da humanidade.
Em fala
recheada com posições caras à sua plataforma eleitoral e de governo, Bolsonaro
criticou presidentes anteriores, a quem se referiu como socialistas, disse que
a ideologia inundou todas as áreas da sociedade brasileira e defendeu a
liberdade de religião, mas também procurou vender a imagem de um país aberto
para o mundo em busca de parcerias para o desenvolvimento.
O presidente
aproveitou o discurso também para fazer um elogio a seu ministro da Justiça e
Segurança Pública, Sergio Moro, por sua atuação prévia como juiz da operação
Lava Jato.
Alvo de críticas
e polêmicas devido à política ambiental, Bolsonaro afirmou que ataques
sensacionalistas, por grande parte da mídia internacional, devido aos incêndios
na Amazônia despertaram um sentimento patriótico no Brasil.
Aproveitou
para criticar países que disse terem embarcado “nas mentiras da mídia”, mas
agradeceu outros líderes, em especial a atuação do presidente norte-americano,
Donald Trump.
“É uma falácia
dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os
cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo”, disse Bolsonaro,
em tom irritado
no discurso de cerca de 31 minutos.
“Valendo-se
dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da
mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista”,
acrescentou, numa aparente referência ao presidente francês, Emmanuel Macron,
com quem entrou em atrito por conta da região, e lembrando que durante reunião
do G7 foi sugerido sanções sobre o Brasil.
“Agradeço
àqueles que não aceitaram levar adiante essa absurda proposta. Em especial, ao
presidente Donald Trump, que bem sintetizou o espírito que deve reinar entre os
países da ONU: respeito à liberdade e à soberania de cada um de nós.”
Bolsonaro
reiterou no discurso que o Brasil não vai aumentar para 20% sua área já
demarcada como reservas indígenas, “como alguns chefes de Estado gostariam que
acontecesse”.
O presidente
voltou a reafirmar as riquezas das terras indígenas e afirmou que se preocupa
em defender os reais interesses desses povos. Criticou algumas lideranças
indígenas, citando especificamente o cacique Raoni, dizendo que muitas vezes
são usadas “como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra
informacional para avançar seus interesses na Amazônia”.
“O índio não
quer ser latifundiário pobre em cima de terras ricas”, disse.
Procurou
deixar claro, no entanto, a defesa do meio ambiente.
“Em primeiro
lugar, meu governo tem um compromisso solene com a preservação do meio ambiente
e do desenvolvimento sustentável em benefício do Brasil e do mundo”, disse.
“Nossa política é de tolerância zero para com a criminalidade, aí incluídos os
crimes ambientais.”
CONFIANÇA
Bolsonaro
disse que seu governo trabalha para abrir a economia e para o Brasil
reconquistar a confiança do mundo.
“Estamos
abrindo a economia e nos integrando às cadeias globais de valor”, disse.
Mencionou os acordo fechados entre o Mercosul, do qual o Brasil faz parte, com
a União Europeia e com a Área Europeia de Livre Comércio, e garantiu que outros
virão.
Destacou
também que o país está pronto para iniciar o processo de adesão à Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“Já estamos
adiantados, adotando as práticas mundiais mais elevadas em todo os terrenos,
desde a regulação financeira até a proteção ambiental.”
Listando
viagens que já fez aos Estados Unidos, Israel, Argentina, ao Fórum Econômico
Mundial, na Suíça, entre outras, Bolsonaro disse que fará visitas ainda este
ano a Japão, China, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar, que
aprofundarão as relações com esses países.
“Em busca de
prosperidade, estamos adotando políticas que nos aproximem de países outros que
se desenvolveram e consolidaram suas democracias”, disse.
“Como os
senhores podem ver, o Brasil é um país aberto ao mundo, em busca de parcerias
com todos os que tenham interesse de trabalhar pela prosperidade, pela paz e
pela liberdade.”
CUBA E
VENEZUELA
O presidente
aproveitou ainda seu discurso para atacar os regimes de Cuba e da Venezuela, e disse
que seu governo trabalha para que outros países não trilhem este caminho,
destacando que o Brasil esteve muito próximo disso nos últimos anos.
“A Venezuela,
outrora um país pujante e democrático, hoje experimenta a crueldade do
socialismo”, disse. “O socialismo está dando certo na Venezuela. Todos estão
pobres e sem liberdade”, ironizou.
“Trabalhamos
com outros países, entre eles os EUA, para que a democracia seja restabelecida
na Venezuela, mas também nos empenhamos duramente para que outros países da
América do Sul não experimentem esse nefasto regime.”
MORO
Bolsonaro
aproveitou o momento em que atacou presidentes anteriores pelos escândalos de
corrupção para fazer um afago público ao ministro Sergio Moro.
“Há pouco,
presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de
dólares comprando parte da mídia e do Parlamento, tudo por um projeto de poder
absoluto”, disse.
“Foram
julgados e punidos graças ao patriotismo perseverança e coragem de um juiz que
é símbolo no meu país, o doutor Sérgio Moro”, acrescentou o presidente.
Em alguns
momentos nos últimos meses, circularam informações de que as relações entre
Bolsonaro e Moro não estavam boas, e o próprio presidente deu indícios de que
não estava feliz com seu ministro mais estrelado.
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