12 de setembro
de 2019
O Ministério
Público estadual do Rio abriu dois procedimentos para investigar as denúncias
de uso de funcionários fantasmas e a eventual prática de “rachadinha”, como é
conhecida a devolução de salários, no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro
(PSC-RJ). As investigações foram abertas com base em reportagem publicada por
ÉPOCA em junho que revelou que Carlos empregou sete parentes de Ana Cristina
Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro e sua madrasta. Dois admitiram à
reportagem nunca terem trabalhado para o vereador, embora estivessem nomeados.
O MP ainda apura suspeitas de que outros três profissionais nunca deram
expediente na Câmara.
A partir de um
pedido com base na Lei de Acesso à Informação, o MP confirmou os dois
procedimentos, mas informou que ambos tramitam sob segredo de justiça. A
investigação criminal está a cargo do procurador-geral de Justiça, Eduardo
Gussem, com apoio do Grupo de Atribuição Originária Criminal (Gaocrim). Já na
esfera cível, onde se apura eventual improbidade administrativa, a investigação
ocorre na 8ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania da
Capital.
Um dos
principais alvos da investigação é a situação de Marta Valle — professora de
educação infantil e cunhada de Ana Cristina Valle. Moradora de Juiz de Fora, em
Minas Gerais, ela passou sete anos e quatro meses lotada no gabinete entre
novembro de 2001 e março de 2009. Procurada por ÉPOCA, Marta disse que nunca trabalhou
para Carlos. “Não fui eu, não. A família de meu marido, que é Valle, que
trabalhou”. O salário bruto de Marta Valle chegou a R$ 9,6 mil, e, com os
auxílios, chegava a R$ 17 mil. Segundo a Câmara de Vereadores, ela não teve
crachá como assessora.
Outro caso
descoberto pela reportagem foi Gilmar Marques, ex-cunhado de Ana Cristina Valle
e morador de Rio Pomba, em Minas Gerais. Com a correção inflacionária, o
salário bruto dele chegou a R$ 7,9 mil, mas somados os auxílios chegou a R$ 14
mil. Questionado, não se recordava da nomeação e disse: “Meu Deus do céu. Ah,
moça, você está me deixando meio complicado aqui. Eu ganhava? Isso aí você deve
estar enganada”. Ele também nunca teve identificação funcional da Câmara
Municipal do Rio.
A situação se
repetiu em relação ao advogado Guilherme Henrique de Siqueira Hudson que
constou como assessor-chefe do vereador Carlos Bolsonaro durante dez anos -
entre abril de 2008 e janeiro de 2018. Guilherme é primo de Ana Cristina
Siqueira Valle e, apesar de todo o tempo em que ficou lotado na chefia do
gabinete, ele jamais teve crachá. Desde 2012, possui residência fixa em
Resende, onde casou e abriu um escritório de advocacia, além de uma loja de
decoração. Desde 2012, o site do Tribunal de Justiça do Rio mostra que ele
atuou em 68 processos na região de Resende e em cinco na capital. Resende fica
a cerca de 170 quilômetros da capital.
No período em
que Hudson foi relacionado como assessor-chefe, Ananda Hudson, sua mulher, foi
nomeada no gabinete para ocupar o cargo e salário deixados por Marta Valle,
quando ela foi exonerada, em 1º de março de 2009. Ananda constou como assessora
até agosto de 2010. No mesmo período, porém, ela cursava faculdade de Letras em
Resende.
Depois que
Ananda Hudson saiu, o cargo dela foi repassado a Monique Hudson, cunhada de
Guilherme. Monique é outra que nunca teve crachá da Câmara. Ela também mantém
residência fixa em Resende há pelo menos duas décadas. Monique ficou lotada no
gabinete da Câmara Municipal até dezembro de 2014, mas, nesse período, também
cursou Letras na Associação Educacional Dom Bosco, mesma faculdade de Ananda.
A investigação
também inclui Andrea Siqueira Valle, irmã de Ana Cristina. Ela constou como
servidora de Carlos entre os anos de 2006 e 2008. Fisiculturista, ela também
foi nomeada nos gabinetes de Jair e de Flávio. Ao todo, ficou lotada por 20
anos. Mas, fora as listas de frequência entregues pelos próprios parlamentares,
não há registro do trabalho dela. Andrea também não teve crachá da Câmara do
Rio.
Segundo a
Câmara Municipal do Rio, "a emissão dos crachás dos servidores ocorre
preferencialmente no dia da sua posse".
Procurado por
meio de seu chefe de gabinete, Carlos Bolsonaro não respondeu à ÉPOCA. A
reportagem também não teve retorno de Marta, Gilmar, Guilherme, Ananda e
Monique.
Revista Época
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