(Foto: REUTERS/Adriano Machado)
O sociólogo e presidente do Vox Populi, Marcos Coimbra, observa
que a queda na popularidade de Bolsonaro demonstrada nas últimas pesquisas
"impressiona pela velocidade em que a piora de conceito vem
acontecendo". "Se os inimigos da democracia, fardados, togados e
enfatiotados, permitirem, teremos eleições no ano que vem. Pelo andar da carruagem,
Bolsonaro pode ter que enfrentá-las como uma espécie de plebiscito e é grande a
chance de que saia delas ainda menor", afirma
Marcos Coimbra
é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
1 de setembro
de 2019
A mais recente
pesquisa Vox Populi é péssima para Bolsonaro. Em todas as dimensões
pesquisadas, os números são muito ruins para ele e o governo.
Ela foi
realizada entre os dias 23 e 26 de agosto e, na amostra nacional, foram ouvidas
2000 pessoas. Suficientes para identificar como a opinião pública vê a situação
do País e o ocupante do Palácio do Planalto, seu comportamento e algumas
políticas.
Como pior que
uma notícia ruim só duas notícias ruins, a pesquisa Vox foi a segunda, na mesma
semana, com resultados assim. Também o MDA, para a Confederação Nacional dos
Transportes, mostrou que a imagem de Bolsonaro está em adiantado processo de
decomposição.
Segundo os
dados do Vox, o governo Bolsonaro tem a avaliação positiva de 23% dos
entrevistados, entre os quais estão 5% que enxergam motivos para classificá-lo
como “ótimo”. Na outra ponta, há cinco vezes mais pessoas que o consideram
“péssimo”, perfazendo 27% do total, além de 13% que dizem que é apenas “ruim”.
Por enquanto, ainda há um terço, 35%, que acha que o governo é “regular”.
Um desavisado
poderia supor que essa avaliação negativa, superior à de qualquer presidente
brasileiro em época parecida, é fruto das dificuldades que o País enfrenta.
Esse, no entanto, não é o caso, pois a pesquisa indica que a imagem pessoal do
capitão também é ruim.
Dizem “gostar
muito” de Bolsonaro 11% dos entrevistados, metade dos 22% que afirmam que o
“detestam”. Há outros 19% que alegam que “gostam um pouco, mas não muito” e 23%
que desgostam, sem detestá-lo. Restam 24%, que respondem ser indiferentes. Para
os que fantasiam que o capitão é um “mito”, é bom lembrar que seus seguidores
fiéis não vão além de uma em cada dez pessoas. Algo que não chega a ser
impressionante.
O que
impressiona é a velocidade em que a piora de conceito vem acontecendo. Há menos
de dois meses, na safra anterior de pesquisas, feitas pelo Datafolha e o Ibope,
Bolsonaro ainda mantinha uma avaliação positiva em torno de 30%, o que foi
saudado até por ele próprio. Sabe-se lá o porquê, ele e alguns comentaristas
imaginaram que esses 30% eram seu piso e que, com ele, poderia não apenas
disputar a reeleição, como seria favorito a vencê-la, pois nenhum adversário
partiria de tal base.
Balela.
Passaram-se algumas semanas e o tal terço virou poeira. Esqueceram-se que era
somente um estádio na descida da ladeira. Depois dos trinta, vieram os vinte e
logo estaremos nos dez.
O prognóstico
para o capitão é negativo. O horizonte de erosão acelerada da popularidade era
previsível e está sendo confirmado. Nada tem de conjuntural, ainda que as
inacreditáveis atitudes tomadas em relação à devastação causada pelos incêndios
na Amazônia tenham que ser contabilizadas nos resultados obtidos.
Bolsonaro vai
mal porque é detestado por mais de uma em cada cinco pessoas e porque não
consegue oferecer às outras motivos para aprová-lo. Ainda pensando em um grupo
de cinco, para cada três, faz um governo incompetente e sem realizações.
Considerando a
soma de “ótimo” e “bom”, apenas 15% dos entrevistados aprovam as politicas do
governo para a geração de empregos, 15% para o meio ambiente, 11% para a
valorização do salário mínimo, 21% para a educação, 14% para a saúde, 14% para
a projeção da imagem do Brasil no Exterior. Os melhores números são os das
áreas em que o marketing de Bolsonaro insiste, a segurança pública e o “combate
à corrupção”. As ações do governo em nenhuma, no entanto, ultrapassam um terço
de aprovação: 33% na luta anticorrupção e 26% na segurança (ambas temas do
finado Sergio Moro).
O relógio anda
depressa e logo chegará a hora em que as pessoas que ainda não tomaram posição
(a maioria das que estão no “regular”) se resolverá. Muito provavelmente, até o
fim deste ano, o desgaste será maior. De 23% agora, a aprovação ficará próxima
a 10% e a desaprovação alcançará 50%.
Sempre restará
a Bolsonaro uma tropa na sociedade, disposta a brigar (até no soco) com a
maioria do País e a desafiar a opinião pública internacional. Há gente bizarra
para tudo, que acredita em qualquer coisa.
Se os inimigos
da democracia, fardados, togados e enfatiotados, permitirem, teremos eleições
no ano que vem. Pelo andar da carruagem, Bolsonaro pode ter que enfrentá-las
como uma espécie de plebiscito e é grande a chance de que saia delas ainda
menor. Talvez não dure dois anos a lamentável experiência a que fomos levados
em 2018.
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