"Como pode ter no governo um ministro tão poderoso e
ambicioso com popularidade superior a do próprio presidente? Era óbvio que esta
conta, cedo ou tarde, iria desandar", destaca o colunista Ricardo Capelli
sobre a fritura a que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, vem sendo submetido
por Jair Bolsonaro. "Sem alternativa de curto prazo, restou ao maior
expoente da “República de Curitiba” engolir o orgulho, suportar a solitária e
rezar para que Luís XIV não decida decapitá-lo", avalia
Ricardo
Cappelli é secretário da representação do governo do Maranhão em Brasília e foi
presidente da União Nacional dos Estudantes
01 de setembro
de 2019
Qual será o
destino do ministro da Justiça? Resistirá na Esplanada? Que alternativas
possui?
Nicolas
Fouquet, ministro das finanças francês, esperava ser nomeado primeiro-ministro
por Luís XIV em 1661, quando o cargo ficou vago. Temendo estar perdendo
prestígio, o ministro organizou uma festa em homenagem ao “Rei Sol” que
espantou a Europa pela beleza.
O ministro
passeou ao lado do monarca pelos jardins impressionantes de seu suntuoso
Castelo de Vaux-le-Vicomte. Logo em seguida, assistiram a uma peça de Molière
escrita especialmente para a ocasião. Poucas vezes o mundo tinha visto festa
tão grandiosa.
Fouquet foi
dormir acreditando ter recuperado seu prestígio. No dia seguinte, por ordem do
rei, foi preso e acusado de conspiração e roubo. Considerado demasiadamente
poderoso e ambicioso, viveu os últimos anos de sua vida numa solitária.
Regra básica
da política: nunca ofusque o brilho do rei.
Como pode ter
no governo um ministro tão poderoso e ambicioso com popularidade superior a do
próprio presidente? Era óbvio que esta conta, cedo ou tarde, iria desandar.
Bolsonaro, que
assumiu o governo afirmando que não seria candidato à reeleição, jamais desceu
do palanque.
Com o ex-juiz
procurando delimitar espaços e se diferenciar o tempo todo, não restou
alternativa ao presidente. Jair não economiza poder e artilharia. Atira com
força em qualquer um que possa representar ameaça ao seu projeto de poder.
A gota d’água
foi a ligação do ministro para Toffoli, sem consultar o presidente, reclamando
da decisão sobre o COAF que beneficiou Flávio Bolsonaro.
Indignado, o
Capitão abriu a metralhadora: “troca-troca com Ricardo Salles”, “ele não estava
comigo na campanha”, “vou intervir na PF”, “o pacote anticrime do ministro não
é prioridade” e todo tipo de humilhação.
Moro se viu na
pele daquele recruta indesejado, apanhando de mão aberta na cara de um Capitão
Nascimento enfurecido gritando: “pede pra sair!” Mas, por que ele não sai?
O ex-juiz teve
suas arbitrariedades expostas pela Vaza Jato. Coleciona uma série de inimigos
poderosos. Saindo da Esplanada, perde o foro. Além do que já apanha da
esquerda, viraria alvo da rede bolsonarista. Não é fácil sobreviver na planície
com leões famintos no seu encalço.
Doria, na
ejaculação precoce de tornar-se rei, correu para estender-lhe a mão. Não faria
sentido sair da capital do poder para ficar pendurado num castelo menor.
Quais seriam
as outras hipóteses? Candidato a prefeito em alguma capital? Sairia do jogo
nacional e, mesmo ganhando, encolheria.
Encurralado, a
saída possível parece ser engolir as humilhações e apostar num futuro eleitoral
no longo prazo. Com as revelações do Intercept, o STF pode ter virado um sonho
mais distante.
Candidato a
presidente num eventual naufrágio do Capitão, vice de Bolsonaro na chapa da
reeleição, ou mesmo disputar o Senado. O caminho até 2022 será longo e penoso.
Sem
alternativa de curto prazo, restou ao maior expoente da “República de Curitiba”
engolir o orgulho, suportar a solitária e rezar para que Luís XIV não decida
decapitá-lo.
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