Por Carlos
Fernandes - 28 de setembro de 2019
É bem verdade
que tudo que surgiu no Brasil pós-2016 transitou numa seara de absurdos de
magnitude tal que fica difícil escalonar o que de pior aconteceu no país.
Mas o fato do
chefe do Ministério Público confessar que ingressou nas dependências do STF com
uma pistola carregada com a intenção de assassinar um dos ministros da mais
alta Corte da República, é daquelas coisas que estarrecem de inúmeras formas.
Fora tudo o que
está implicado naquilo que muito bem poderia ser descrito como uma verdadeira
tragédia nas mais altas esferas da justiça brasileira, um ponto em particular
precisa ser devidamente apontado.
Muito mais do
que aquilo que juridicamente seria categorizado como crime passional,
independentemente de o fato narrado não ter tido o seu desfecho consumado, o
que resta evidente é a natureza descompensada, criminosa e cruel que tomou
conta de uma das mais importantes instituições de nossa já cambaleante
democracia.
Rodrigo Janot,
que segundo ele próprio não se transformou num homicida de fato por questões de
segundos, é, por outro lado, um contumaz assassino de reputações e
irrecuperável infrator das leis que, por dever de ofício, deveria mais do que
ninguém as respeitar.
E para muito
longe do que alguém mais desavisado poderia supor como um caso isolado, o que o
então representante máximo do Ministério Público fez e “quase-fez”, não pode
ser definido como outra coisa senão como a mais fiel representação do que
atualmente está se passando no seio de suas mais importantes operações.
Se pegarmos a
Lava Jato como exemplo – da qual Janot utilizou-se à exaustão como meio de
autopromoção e perseguição pessoal aos seus adversários – veremos que os mesmos
sintomas se replicam de maneiras similares.
A mesma
crueldade demonstrada pelo Procuradores de Curitiba reveladas através das
conversas vazadas pelo Intercept em relação às mortes do irmão e do neto de
Lula, é, por assim dizer, efeito direto dos sentimentos nauseabundos que se
espalharam entre aqueles que viram na função pública o meio decisivo para a
instalação de um perigoso projeto de poder.
Da mesma forma,
a desumanidade dessa mesma Lava Jato de tentar impor a prisão comum a um
septuagenário que não por acaso já foi presidente da República por dois
mandatos, também representa uma maneira bastante eficaz de apontar e disparar
uma arma carregada contra a cabeça de alguém que pessoalmente se considera um
inimigo.
É preciso sermos
claros com o que definitivamente está se passando nesse país.
A desmoralização
da justiça brasileira é apenas mais um efeito colateral da violenta luta por
poder que está sendo travada à luz do dia pelos pilares da República Federativa
do Brasil.
Absolutamente
corrompidos, os poderes Executivo, Judiciário e Legislativo disputam a
hegemonia no que sobrou de terra arrasada pelo golpe parlamentar de 2016.
O MPF, que pelo
menos nesse país jamais representou efetivamente a luta pela promoção da
justiça, mostra que para ganhar está disposto a tudo. Até a matar.
E, não custa
lembrar, prova disso é que Rodrigo Janot, que chegou a engatilhar uma pistola a
esse propósito, foi ninguém menos do que o escolhido legítimo pela classe dos
procuradores na lista em que julgam quem melhor os deveria representar.
Justiça seja
feita, é realmente o retrato definitivo do que se transformou o MPF.
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