Jornalista Tereza Cruvinel relata a série de manifestações que
terão o governo brasileiro como alvo em Nova York na próxima semana, seja do
lado de fora do prédio das Nações Unidas, onde "entidades farão um 'ato de
resistência' contra Bolsonaro na cidade", ou na parte interna, onde o
Brasil foi vetado na cúpula do clima e Bolsonaro pode encontrar um
"plenário esvaziado" quando discursar
Colunista do
247, Tereza Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País
21 de setembro
de 2019
A passagem de
Bolsonaro por Nova York no início da semana que vem dará a medida da decadência
do Brasil no chamado concerto das Nações. Nas ruas, os protestos começarão já
no domingo, mas diplomatas receiam que muitos governantes retirem-se do
plenário, quando ele for discursar na abertura da Assembléia Geral da ONU, no
dia 24, em número bem maior que o dos seis presidentes latino-americanos que
bateram em retirada quando Michel Temer começou a falar, em 2016, por
considerá-lo golpista e usurpador.
Na
segunda-feira, a prova viva de que o Brasil perdeu o protagonismo e a
relevância que conquistou nas últimas décadas na questão ambiental. Vetado pela
ONU, nenhum representante do país discursará na Cúpula do Clima.
No dia seguinte,
Bolsonaro pode ser recebido por um plenário esvaziado. Agora, mais países têm
razões mais fortes e consistentes que aqueles de 2016 para não quererem
prestigiar a fala do presidente brasileiro, temendo serem associados com
qualquer uma das marcas negativas que lhe conferem uma quase “unanimidade na
repulsa”, como o antiambientalismo, a defesa de ditaduras, o homofobismo e o
misantropismo e a vulgaridade extrema no exercício do cargo. Certamente ele contará com Trump, que como
segundo a falar, já deve estar no plenário.
A diplomacia
acha também que terá enorme dificuldade, neste ambiente, para marcar encontros
bilaterais paralelos, atividade a que todos os governantes se dedicam durante a
Assembleia Geral. Bolsonaro, por sinal,
já fez circular a notícia de que deixará Nova York logo depois de discursar
para comparecer a um encontro empresarial no Texas. Muito oportuno.
O recente ataque
de Bolsonaro à Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, a ex-presidente
chilena Michele Bachelet, também deve contribuir para que o ambiente na
instituição não seja exatamente amigável ao visitante brasileiro. Como vimos há
poucos dias, por ter ela declarado que o espaço democrático no Brasil se
reduziu, algo sabido até pelas ararinhas azuis, que são tão poucas, Bolsonaro
desferiu-lhe um ataque sórdido, louvando a ditadura de Pinochet por ter
liquidado com os comunistas que tentavam fazer do Chile uma Cuba, entre eles o
pai dela – torturando até à morte pelos torcionários.
Ao confirmar a
viagem, após autorização médica, ele disse que vai lá “enfrentar os europeus”.
Seja lá o que isso signifique, os europeus são mesmo os que têm menos razões
para prestigiar sua fala. Noruega e Alemanha foram destratadas com a recusa dos
recursos do Fundo Amazônia. Da Europa partiram e continuam vindo as críticas
mais duras ao aumento das queimadas e do desmatamento da floresta, que
culminaram nos atritos com o presidente francês Emmanuel Macron. Da Áustria
veio a notícia de que o Acordo União Européia-Mercosul foi para o vinagre. O
parlamento austríaco determinou ao governo nacional que vete o acordo no
Conselho Europeu. E sem unanimidade no conselho, não haverá acordo. Bolsonaro
poderá atacá-los à vontade com a retórica da “Amazônia é nossa”, mas é mesmo
bastante provável que fale para mais cadeiras vazias do que ocupadas.
Nas ruas, a
coisa será quente. Nesta sexta-feira, houve protestos em várias partes do mundo
contra as mudanças climáticas. Na segunda-feira, em Nova York, entidades farão
um “ato de resistência” contra Bolsonaro na cidade e protestos acontecerão
também durante seu pronunciamento, na terça-feira, sob a égide da campanha nas
redes "cancelBolsonaro".
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