(Foto: ADRIANO MACHADO - REUTERS)
"O fato de ele apoiar políticos de um perfil que seja
próximo ao dele não está beneficiando esses políticos. O que se vê lá fora a
respeito de comentários sobre o governo Bolsonaro é, no mínimo, de tristeza.
Quem gosta do Brasil fica até triste. É um baixíssimo perfil que nós temos
atualmente, muito baixo. Algo que nunca houve", diz o o professor de
Relações Internacionais Fernando Almeida, da Universidade Federal Fluminense
26 de outubro de
2019
Sputinik – Após
polêmica vitória de Evo Morales nas eleições bolivianas, os olhos dos
sul-americanos se voltam agora para dois outros países da região, em meio a
expectativas de uma retomada do crescimento da esquerda no subcontinente.
No poder desde
2006, o atual presidente da Bolívia ganhou o direito, nesta semana, de governar
o seu país por mais um mandato, derrotando, ainda no primeiro turno, o
centrista Carlos Mesa, em uma disputa marcada por trocas de acusações e muitos
protestos.
Morales, apesar
de algumas críticas, se mantém no cargo com uma boa popularidade e amplo
reconhecimento internacional por suas conquistas, que incluem um sólido
crescimento econômico e políticas muito bem sucedidas de combate à pobreza e ao
analfabetismo.
Escândalos de
corrupção associados a alguns problemas econômicos levaram a um desgaste da
esquerda sul-americana que, em muitos países, propiciou um crescimento bastante
significativo de representantes da direita, culminando, por exemplo, na eleição
de nomes como o de Mauricio Macri na Argentina, Mario Abdo Benítez, no
Paraguai, e Jair Bolsonaro, no Brasil.
Passado pouco
tempo do início dessa chamada guinada à direita na América do Sul, com boa
parte desses governos em crise, já há quem veja, no entanto, uma tendência de
interrupção desse processo, evidenciada pela vitória de Evo Morales e pelas
posições de destaque nas pesquisas de intenção de votos de
"esquerdistas" como o argentino Alberto Fernández e o uruguaio Daniel
Martínez, além de recentes manifestações vistas por alguns analistas como
protestos contra o neoliberalismo.
Para o
professor de Relações Internacionais Fernando Almeida, da Universidade Federal
Fluminense (UFF), confirmado um novo mandato para Evo Morales na Bolívia, tudo
indica que a o Brasil voltará a ser "cercado" por governos de
esquerda no subcontinente, com o provável retorno do Partido Justicialista ao
poder na Argentina e a possível permanência do partido Frente Amplio no governo
do Uruguai.
Em entrevista à
Sputnik Brasil, o especialista atribui em parte esse estancamento da direita na
região ao cenário que se desenhou aqui no Brasil, com a administração de Jair
Bolsonaro.
"O fato de
ele apoiar políticos de um perfil que seja próximo ao dele não está
beneficiando esses políticos. O que se vê lá fora a respeito de comentários
sobre o governo Bolsonaro é, no mínimo, de tristeza. Quem gosta do Brasil fica
até triste. É um baixíssimo perfil que nós temos atualmente, muito baixo. Algo
que nunca houve", opina o acadêmico.
Segundo Almeida,
o atual governo brasileiro demonstra um "desconhecimento muito grande do
mundo real", o que acaba se refletindo em equívocos na relação com outros
países. Um desses casos, ele destaca, é justamente o da Argentina, um dos
principais parceiros do Brasil, onde a administração Bolsonaro chegou a tentar
interferir demonstrando apoio a um dos lados em disputa na eleição e falando em
possíveis represálias no caso de uma eventual volta do kirchnerismo.
"Isso é
desconhecimento de muita coisa, né?", comenta. "Houve uma ocasião em
que o atual presidente disse que o fato de estarmos enviando três caminhões com
abacate para a Argentina mostrava que o comércio exterior brasileiro com a
Argentina ia muito bem. Eram três caminhões de abacate. Isso aí é abastecimento
de feira. É um raciocínio ridículo."
Ainda de acordo
com o professor, a equipe que compõe o atual governo brasileiro vem errando
tanto por falta de conhecimento quanto por "preconceito ideológico".
"O nosso
atual chanceler teve, em vários momentos, posições bastante radicais em relação
a vizinhos. E até foi necessário que o vice-presidente, um general,
interviesse, contendo esses impulsos um tanto belicosos. Espero que a coisa se
desenvolva bem."
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