Foto: Kid Junior
Administradora do Cipp prevê, nesse prazo, a construção de um
terminal de tanques para armazenamento e transbordo de combustíveis, conexão de
trem com o Porto e projeto para fornecer GNL a nova usina termelétrica
Por Bruno Cabral
/ 03 de Outubro de 2019
À frente das
operações do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) desde dezembro do
ano passado, a Autoridade do Porto de Roterdã planeja, para os próximos três
anos, a construção de um terminal de tanques para armazenamento e transbordo de
combustíveis, uma conexão de trem com o Porto e um projeto para fornecer Gás
Natural Liquefeito (GNL) a uma nova usina termelétrica.
A autoridade
holandesa também se prepara para movimentar o dobro da atual produção da
siderúrgica (maior empreendimento do complexo), que deverá passar de 3 para 6
milhões de toneladas de aço por ano, conforme declarou o novo diretor
operacional do Porto do Pecém, Corné Hulst, em um artigo publicado em julho no
site do Porto de Roterdã.
"O objetivo
é expandir o Porto, e nós precisamos do conhecimento e da experiência de
Roterdã para isso. Os bancos irão investir se souberem que os negócios serão
bem gerenciados", escreveu Corné Hulst, que também gerencia o departamento
de engenharia do Porto.
Segundo o
diretor, durante o período de transição, sua tarefa é aplicar o conhecimento e
experiência da Autoridade do Porto de Roterdã, principalmente, no manuseio de diferentes
cargas, na logística e no gerenciamento das expectativas dos clientes.
Ele classifica o
Pecém como um "bom negócio com baixo risco e alto potencial de
crescimento", o que oferece "consideráveis" oportunidades de
investimento. "Nós nos diferenciamos vendendo nosso conhecimento no
mercado. Fazemos isso demonstrando o quão bem organizados, transparentes e
confiáveis nós somos", diz o diretor operacional. "Grandes clientes
internacionais querem estabelecer escritórios aqui". Antes de chegar ao
Pecém, Hulst trabalhou em operações portuárias no Egito, Oman e em Moçambique.
Nova cultura
Ao longo dos
últimos 10 meses, a Autoridade do Porto de Roterdã vem, pouco a pouco,
implantando no Pecém, sua cultura. Uma das mudanças apontadas por operadores de
cargas é a desburocratização de procedimentos e maior eficiência no atendimento
a importadores e exportadores. Para isso, o porto vem investindo em inovações
digitais, que reduzem custos logísticos de seus clientes.
Há apenas quatro
meses como diretor executivo financeiro do Cipp, Tiemo Arkesteijn, disse ao
Diário do Nordeste ter uma avaliação "muito positiva" das pessoas que
trabalham no Porto, das operações e dos parceiros. "Estamos fazendo um bom
progresso com os nossos projetos estratégicos, bem como as melhorias do dia a
dia em relação a processos e operações", diz. "Temos muito a fazer
ainda, mas o progresso e a mudança já está visível".
Hub logístico
Além dos planos
de expansão do Porto, a autoridade holandesa terá o desafio de consolidar o
Pecém como um grande hub logístico no Nordeste, concretizando, assim, o
objetivo do Governo do Estado para o Pecém. Para clientes e operadores do
terminal, a expectativa é de que, com a parceria, o Porto do Pecém atraia novos
armadores e passe a disponibilizar novas rotas de longo curso.
Além da posição
geográfica privilegiada, pela proximidade aos Estados Unidos e ao continente
europeu em comparação a outros portos brasileiros, o Porto do Pecém fica a
apenas algumas dezenas de quilômetros ao sul de uma "avenida" com intenso
fluxo de grandes cargueiros, que cruzam o Canal do Panamá, bastando que haja
demanda para que essas embarcações atraquem no Pecém.
"O Porto já
está preparado para receber esses grandes navios, agora depende dos armadores.
Nós temos berços (de atracação) disponíveis, temos calado (profundidade) e
retroárea. Mas precisamos redesenhar o fluxo de cargas", diz Carlos Maia,
diretor da Tecer Terminais, uma das maiores operadoras de cargas do Pecém. Para
Maia, o Ceará pode aproveitar essa infraestrutura portuária para concentrar
importações e exportações não só do Nordeste, mas também do Norte.
"Da Bahia
até Manaus, nós somos o único porto que não tem restrição de calado e de berço.
E essas duas regiões têm cerca de 20% do PIB (Produto Interno Bruto) do País. Se
os armadores olharem com esses olhos, há um grande potencial", diz Maia.
Hoje, boa parte dos produtos importados pelo Ceará chega ao Brasil pelo Porto
de Santos, de onde seguem ao Pecém por cabotagem.
Do lado das
exportações, o uso dessas rotas internacionais representa redução do custo
logístico, tornando o produto cearense mais competitivo lá fora. Segundo Luiz
Roberto Barcelos, proprietário da Agrícola Famosa, maior exportadora de melão
do País, caso o mercado chinês se torne um comprador da fruta cearense, já
existe uma linha marítima apta para levar melões diretamente ao país a partir
do Pecém, em um trajeto de 34 dias, via África do Sul. "Nossa expectativa
é de que, em um segundo momento, quando o volume aumentar, possamos fretar um
navio para ir direto para a China via Canal do Panamá, com 10 dias a menos de
viagem".
Balanço
De janeiro a
agosto deste ano, a movimentação do Porto do Pecém cresceu significativamente
ante igual período do ano passado. O número de contêineres movimentados
(130.698) cresceu 37,8%, o total de navios (458) aumentou 17,1%, e o volume
movimentado (11.918 mil toneladas) avançou 3,1%. Do total, 52% foi de navegação
por cabotagem e 48% de longo curso.
Na navegação de
longo curso, os principais destaques nos desembarques foram o carvão mineral,
gás de petróleo e produtos siderúrgicos.
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