(Foto: Nelson Jr./SCO/STF)
"O Supremo, no momento em que parece tentar restaurar sua
credibilidade, está sofrendo as consequências da sua cumplicidade passada com a
força- tarefa de Curitiba", escreve Ribamar Fonseca. "O que está
acontecendo com o Supremo é o mesmo que ocorre com a chamada grande
imprensa", complementa
9 de outubro
de 2019
O Supremo
continua de cócoras. E amedrontado diante de manifestações raivosas que incluem
até o lançamento de pedras contra o seu prédio-sede, além de ameaças e insultos
nas redes sociais. O Supremo, na verdade, no momento em que parece tentar
restaurar sua credibilidade, buscando reparar os abusos cometidos pela
Lava-Jato, está sofrendo as consequências da sua cumplicidade passada com a
força- tarefa de Curitiba. Se, ao invés de endossar os atos daquela operação,
fazendo vista grossa para suas ilegalidades, tivesse logo de inicio estancado
sua atuação criminosa e ambição de poder, conforme revelado pelo site The
Intercept, certamente não estaria hoje vivendo sob um clima de medo, criticado
por gregos e troianos. Enquanto não recuperar sua austeridade e o respeito do
povo, com decisões realmente justas e sem coloração política, a Corte Suprema
será alvo de radicais que não hesitam, inclusive, em pedir o seu fechamento,
indiferentes à sua importância para a sobrevivência da própria democracia. E
não adianta adiar julgamentos que podem anular atos da Lava- Jato, com medo das
reações, ou manipular interpretações, porque mais cedo ou mais tarde terá de
enfrentar a realidade.
O que está
acontecendo com o Supremo é o mesmo que ocorre com a chamada grande imprensa
que, com sua campanha sistemática contra Lula e o PT e o seu apoio à Lava-Jato
e ao golpe que destituiu a presidenta Dilma Roussef, foi a grande responsável,
junto com o Supremo, pela prisão do ex-presidente petista e a eleição de
Bolsonaro. Agora também sofre as consequências da sua cumplicidade com os
acontecimentos que culminaram com a ascensão do capitão que, vingativo, não
admite críticas e tenta asfixiar a mídia tradicional cortando as verbas de
publicidade do governo e pressionando os anunciantes a fazerem o mesmo. Os
efeitos já se fazem sentir com as demissões nos grandes veículos. Bolsonaro,
que aprendeu durante a campanha eleitoral, com Donald Trump, que pode
prescindir da imprensa substituindo-a pelas redes sociais ( com o uso do whatsapp
e robôs as informações que lhe interessam, assim como as fakenews, chegam
rapidamente ao povão), já declarou guerra aos veículos que não o apoiam e fará
tudo o que o poder lhe permite para sufocá-los. A poderosa TV Globo, que perdeu
patrocínios governamentais milionários, volta e meia tenta agradá-lo, com
notícias simpáticas ao seu governo, mas não tem obtido êxito e já enfrenta
dificuldades financeiras, com repercussão na sua programação. E ao que tudo
indica a Globo e demais veículos sob o fogo cerrado do capitão terão, também,
de assumir posição mais clara quanto ao atual governo.
A Justiça, em
especial o Supremo Tribunal Federal, precisa urgentemente redimir-se dos erros
que levaram o Brasil a esta situação desastrosa, onde um governo sem programa, conduzido
ao sabor dos acontecimentos e submisso aos Estados Unidos, todo dia improvisa
alguma coisa para manter-se vivo mas completamente divorciado dos interesses do
povo e da nação. Por isso, virou um governo-sanfona, sempre obrigado a recuar
no dia seguinte do que fez na véspera. Não existe planejamento, gerando
notícias com declarações absurdas como a do ministro Paulo Guedes, de que vai
buscar o último bilhão empregado em favor dos mais necessitados. Parece que
estão brincando de governo sem importar-se com as consequências catastróficas
para o país. O Presidente, que não mede suas palavras e agride de maneira
primitiva quem ousa lhe fazer perguntas inconvenientes, estimula com sua
violência verbal os seus seguidores que, como verdadeiros trogloditas, fazem
ameaças e as vezes até atacam fisicamente. Ainda recentemente um cidadão de
cabeça branca, aparentemente maduro e equilibrado mas imbecilizado pelo
discurso de ódio, saiu em defesa de Bolsonaro ameaçando o ciclista que lhe
perguntou pelo paradeiro de Queiroz. “Se meu filho te pega te corta em cinco”,
disse. Por que tanta violência a uma simples pergunta?
Bolsonaro, a
julgar por seu comportamento agressivo e autoritário, parece estar
completamente perdido, sem rumo, buscando blindar-se contra os escândalos do
seu governo. Além de atacar a imprensa que não lhe presta apoio, inclusive com
frases sem nenhum sentido, ele agora briga também com o seu próprio partido, o
PSL, talvez como estratégia para escapar da acusação do seu envolvimento com o
laranjal da legenda, que já provocou o indiciamento do ministro do Turismo.
Aparentemente ele pretenderia deixar tudo nas costas do presidente do partido,
Luciano Bivar, que na sua opinião já está “queimado”. Muitos dos seus aliados,
decepcionados com o seu comportamento, já deixaram a legenda e se transformaram
em seus adversários, o que evidencía a falta de liderança e de lealdade do
capitão. O líder do partido no Senado, Major Olimpio, se declarou perplexo com
as atitudes do Presidente. Não é difícil concluir que se as investigações sobre
o laranjal do PSL forem realizadas com seriedade e imparcialidade, comprovando
o uso de caixa dois na última eleição, Bolsonaro pode ser expelido do Planalto
pelo mesmo partido que o colocou lá. Afinal, caixa dois é crime e, como costumava
dizer o ex-juiz Sergio Moro quando se referia a Lula: “Ninguém está acima da
lei”. Tanto quanto Bolsonaro, Moro também tenta se blindar usando a estrutura
do cargo que ocupa no Ministério da Justiça, que lhe permite o controle da
Policia Federal.
O ex-juiz, na
verdade, sabe que terá, mais cedo ou mais tarde, de prestar contas à Justiça
pelos crimes que praticou à frente da Lava-Jato, inclusive pelos grandes males
causados ao país, conforme revelou o site The Intercept ao divulgar os diálogos
secretos dos integrantes daquela operação de Curitiba. Na Câmara dos Deputados
já existe um documento com assinaturas suficientes para a criação de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a Lava-Jato, mas além
do esforço da base do governo para impedir o seu funcionamento também o
presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia, vem se recusando a promover a sua
instalação com desculpas esfarrapadas.
Maia, que está sempre do lado do poder (impediu o impeachment de Temer e
comandou a rejeição à autorização para sua investigação), parece interessado em
blindar Moro. Por que? Teria o rabo preso com ele? Ou teme que a CPI possa
descobrir alguma coisa que o incrimine. O que diz o Regimento da Câmara? Maia
não é o dono do Parlamento para fazer o que bem entende, pois de outro modo
melhor seria dispensar os 500 deputados, anular o colegiado, e deixa-lo decidir
sozinho sobre tudo o que estiver na alçada do Legislativo. Afinal, do que é que
ele tem medo? E por que será que o Supremo também não toma nenhuma atitude em
relação a Moro e à força-tarefa de Curitiba depois de tudo o que foi revelado?
No chamado
“mensalão” o ex-ministro José Dirceu foi condenado e preso com base apenas na
Teoria do Dominio do Fato, ou seja, em noticias de jornais e revistas, porque
não encontraram nenhuma prova contra ele. Na ocasião ficou famoso o voto da
ministra Rosa Weber, do STF, que reconheceu a inexistência de provas contra
Dirceu mas o condenou “porque a literatura jurídica lhe permitia”. Por conta
disso chegou a ser chamada de “leviana” pelo filósofo Leonardo Boff. Lula
também foi condenado sem provas, baseada numa delação sob medida de Leo
Pinheiro, da OAS, alterada por ele mesmo diversas vezes para atender aos
objetivos do pessoal da Lava- Jato. Contra Aécio Neves havia provas em
abundância, como imagens, áudios e malas de dinheiro, mas ele continua solto
até hoje. Contra Moro e Deltan Dallagnol os jornais e revistas parceiros do
site The Intercept já publicaram uma montanha de notícias sobre os crimes
praticados nas atividades daquela operação, mas até hoje nada mudou e não
surgiu nenhum sinal de que a Justiça ou o Ministério Público pretendam
investiga-los e puni-los. E eles continuam impunes, inclusive dando palestras,
como se fossem cidadãos acima de qualquer suspeita. Quer dizer, a Justiça que
vale para petistas não é a mesma para os outros. Alguma dúvida sobre dois pesos
e duas medidas? Por oportuno, vale lembrar que nada é eterno e, portanto, mais
cedo ou mais tarde todos terão de deixar os cargos que ocupam e prestar contas
dos seus atos. E pelo andar da carruagem parece que isso não está muito
distante.
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