"É difícil para um estrangeiro entender como Lula,
Bolsonaro, seu ministério e o 'Véio da Havan' possam ter nascido no mesmo
país", escreve o jornalista Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela
Democracia. "Mas esse é o Brasil de hoje, onde convivem um cidadão do
mundo, que está preso, e boçais empoderados, que estão soltos por aí,
destruindo o país"
5 de outubro de
2019
Por Ricardo
Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia
No começo de
2003, pouco depois da posse, acompanhei Lula em sua primeira viagem
internacional ao Fórum Econômico de Davos, na Suíça.
Ali já deu para
ter uma ideia da importância da sua eleição no Brasil.
Os principais
líderes mundiais queriam falar com ele. Lula já conhecia a maioria das muitas
viagens internacionais que fez antes de chegar a presidente.
Por três dias
seguidos, havia fila para encontros bilaterais, almoços e jantares, não houve
um momento de folga.
Na viagem de
volta, ainda no velho Sucatão, paramos na França e na Alemanha.
Em Paris, Lula
manteve longo encontro com Jacques Chirac, que morreu esta semana, um político
conservador com quem ele tinha uma boa relação.
À noite, na
embaixada do Brasil, encontrou os principais líderes da esquerda francesa.
Lula já era
então um cidadão do mundo, que falava de igual para igual com governantes de
qualquer espectro político.
Nesta época, o
ex-capitão Jair Bolsonaro já era um irrelevante deputado do baixo clero, líder
sindical dos militares, figura folclórica que pedia pena de morte para Fernando
Henrique Cardoso, o antecessor de Lula.
Apenas 16 anos
depois, quase nada na vida de um país, Jair Bolsonaro é presidente da
República, após uma eleição fraudada, em que Lula foi impedido de concorrer
pela Justiça da Lava Jato, com a ajuda do STF e do TSE.
E Lula, preso
político há mais de 500 dias na República de Curitiba, continua recebendo em
sua cela personalidades do mundo inteiro, que vêm ao Brasil para lhe prestar
solidariedade.
Nesta
terça-feira, o Conselho de Paris lhe outorgou o título de “cidadão de honra” da
cidade e denunciou a farsa da sua condenação.
Desde 2001,
apenas 17 cidadãos receberam este título, entre eles, Nelson Mandela, nenhum outro
brasileiro.
Nenhuma
autoridade do governo ousou se manifestar, a grande mídia brasileira esnobou
solenemente a notícia, e bolsominions e tucanos descornados piraram nas redes
sociais, desdenhando da honraria.
Um deles, o
bolsominion-padrão chamado Luciano Hang, mais conhecido como “Véio da Havan”,
contrafação de empresário e palhaço, que se veste de verde-amarelo em
cerimonias oficiais, postou no Twitter uma mensagem que sintetiza a estupidez
vigente no país.
O indigitado
chama Paris, uma das mais importantes capitais mundiais de “cidade decadente,
sujeira para todos os lados”, por ter dado a honraria a Lula, “um presidiário
que não pode receber o título”.
É difícil para
um estrangeiro entender como Lula, Bolsonaro, seu ministério e o “Véio da
Havan” possam ter nascido no mesmo país.
Mas esse é o
Brasil de hoje, onde convivem um cidadão do mundo, que está preso, e boçais
empoderados, que estão soltos por aí, destruindo o país.
Em carta ao
Conselho de Paris, Lula afirma que a iniciativa “será mais uma vez de
inestimável valia, para furar o muro de silêncio da mídia brasileira para
denunciar ao mundo os crimes que estão sendo cometidos contra a democracia em
nosso país”.
Tudo é tão
absurdo, tão vergonhoso, tão inacreditável, que me pergunto se este lado do
Brasil inerte e cúmplice não merece ser governado pela aberração bolsonariana,
que leva para o palanque oficial um “Véio da Havan” saltitante, símbolo de um
país que se degradou diante do mundo, na mesma tribuna da ONU onde Lula foi
consagrado líder mundial, faz tão pouco tempo.
Será que vivemos
mesmo todos no mesmo país? Não será um pesadelo? Ninguém merece isso.
Viva Lula, chega
de barbárie!
Vida que segue.
0 comentários:
[ Deixe-nos seu Comentário ]
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor