"Devido ao apoio cego ao ultraneoliberalismo irresponsável
de Paulo Guedes, Globo e Folha, no máximo, respondem aos ataques com um morde e
assopra, limitando-se a denunciar as seguidas ameaças de Bolsonaro à
democracia, sua proverbial grosseria e falta de educação, bem como os males
causados ao país pela filhocracia no poder", escreve o jornalista Bepe
Damasco sobre o ataque de Jair Bolsonaro à Folha de S. Paulo
30 de novembro
de 2019
Jornalista,
editor do Blog do Bepe
“Jair
Bolsonaro não entende nem nunca entenderá os limites que a República impõe ao
exercício da presidência. Trata-se de uma personalidade que combina leviandade
e autoritarismo.”
Este é apenas
o primeiro parágrafo do editorial do jornal Folha de São Paulo do último dia
29. Sob o título “Fantasia de imperador: Bolsonaro é incapaz de compreender a
impessoalidade da administração republicana”, o jornal paulista, sem dúvida,
bate duro na postura e na forma antidemocrática e totalitária como Bolsonaro
trata as questões de governo.
No entanto,
parece-me equivocada a conclusão de que a Folha se pintou, finalmente, para a
guerra contra Bolsonaro.
E importante
ressalvar que a Folha tem feito um esforço para aproximar sua linha editorial
de sua fase de ouro, que se deu durante a luta pela redemocratização do país,
nos estertores da ditadura militar, e nisso não se compara com o Globo.
Mas o problema
para o oligopólio midiático é que a vingança da história, no que se refere a
Bolsonaro, veio bem mais cedo que se imaginava.
A avenida que
se abriu para a passagem do fascismo bolsonarista contou com a pavimentação da
imprensa. Da desmoralização da política ao jornalismo de guerra contra o
governo Dilma, do apoio ao golpe de 2016 ao papel destacado na caçada e prisão
de Lula, Globo, Folha, Estadão, Veja e congêneres não pouparam esforços para
tonar viável eleitoralmente um deputado patético, do baixíssimo clero.
Vem a campanha
eleitoral de 2018 e a mídia não vê nada demais no racismo de Bolsonaro, na sua
apologia ao estupro e à tortura, na sua promessa de exterminar adversários
políticos. Também naturalizou sua negativa de comparecer aos debates,
classificando como mera “tática eleitoral” uma afronta aos valores
republicanos.
E ainda não
teve a coragem de jogar luz sobre o episódio para lá de estranho da facada,
justamente porque sabe que implicaria no
desmoronamento do governo, levando de roldão o programa de Guedes. Valia e vale
tudo para derrotar o PT, até mesmo disseminar a tese desonesta, mentirosa e
canalha de que o partido é uma ameaça à democracia tanto quando Bolsonaro.
O presidente
xinga a Globo, ameaça cassar sua concessão, cancela as assinaturas da Folha nos
órgãos de governo e boicota as empresas que anunciam no jornal. Mas a reação
dos dois veículos, além de tímida, escancara um sabujismo típico dos que têm o
rabo preso. E, no caso, o rabo preso tem tudo a ver com a economia.
Devido ao
apoio cego ao ultraneoliberalismo irresponsável de Paulo Guedes, Globo e Folha,
no máximo, respondem aos ataques com um morde e assopra, limitando-se a
denunciar as seguidas ameaças de Bolsonaro à democracia, sua proverbial
grosseria e falta de educação, bem como os males causados ao país pela
filhocracia no poder.
Porta-voz do
sistema financeiro e das grandes corporações, o oligopólio midiático concebe um
país para, no máximo, 30 milhões de pessoas.
Então, como
enfrentar Bolsonaro à altura se ele premia o mercado com uma reforma da
previdência que faz a festa dos fundos privados de previdência, controlados
pelos bancos?
Como responder
as ofensas com artilharia pesada, se o governo está vendendo a preços de xepa
de feira o patrimônio nacional e a riqueza estratégica da nação, que é o
pré-sal, e beneficiando com isso os grandes anunciantes dos grupos Folha e
Globo?
A moderação
desses jornalões também pode ser explicada pela marcha batida de Bolsonaro para
acabar com os direitos sociais previstos na Constituição de 1988, destinando
cada vez mais recursos do erário para pagar os papéis da dívida pública em
poder do sistema financeiro, senhor da imprensa brasileira.
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