"Quando Moro soltou um trecho da delação premiada de
Antônio Palocci faltando pouquíssimo para o segundo turno, ficou mais do que
claro que se tratava de uma jogada cujo único e exclusivo objetivo era ajudar
Bolsonaro na reta final da campanha", diz o colunista Eric Nepomuceno, do
Jornalistas pela Democracia
18 de novembro
de 2019
Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas Pela
Democracia - É verdade que nenhum deles – estou falando de quem cerca Jair
Bolsonaro – vale grande coisa. E isso, na melhor das hipóteses: a imensa
maioria não vale é nada.
Ninguém que
tenha sido chamado para integrar esse governo merece nem verniz de respeito.
Isso vale, é claro, para os militares empijamados.
Ainda assim,
oscila entre o curioso, o engraçado e o extremamente sério o que falam aqueles
que romperam com o destrambelhado clã presidencial. Do ex-ator pornô Alexandre
Frota à robusta plagiadora Joice Hasselman, que do mais que merecido ostracismo
saltaram para o palco graças justamente ao desmiolado candidato que acabou
virando presidente, todos saem dizendo pestes e contando podres da família
miliciana.
Um dos casos
que cabem perfeitamente na categoria do extremamente sério é a revelação feita
por Gustavo Bebianno, defenestrado do vistoso posto de ministro da Secretaria
Geral da Presidência dois meses depois de ter sido nomeado. Sua saída
humilhante ocorreu depois de um embate com Carlos Bolsonaro, o mais hidrófobo
dos muito hidrófobos filhos presidenciais.
Carlos acusou
Bebianno de ter mentido, o acusado provou que o mentiroso era Carlos, e Bolsonaro
apoiou justamente quem mentiu.
Isso aconteceu
em fevereiro, e o primeiro grande medo de Bolsonaro foi que Bebianno, que era
seu advogado, resolvesse cobrar os honorários dos quais tinha aberto mão.
Bobagem de
dimensões olímpicas: devia ter tido é medo daquilo que o cão de guarda que
coordenou sua campanha eleitoral sabia. E, mais que medo, devia ter pavor do
que Bebianno pudesse contar se alguma vez resolvesse abrir a boca e contasse
uma parte milimétrica do que tinha feito.
Ele ainda não
contou um milésimo do que sabe. Mas uma das coisas que contou confirma o que
muitos de nós sabíamos: pelo menos entre o primeiro e o segundo turno, o então
juiz Sérgio Moro foi convidado e aceitou largar a toga para virar ministro de
Justiça do candidato altamente beneficiado por ele e a turma da Lava Jato.
Quando Moro
soltou um trecho da delação premiada de Antônio Palocci faltando pouquíssimo
para o segundo turno, ficou mais do que claro que se tratava de uma jogada cujo
único e exclusivo objetivo era ajudar Bolsonaro na reta final da campanha.
Pois agora
Bebianno, em uma entrevista ao jornalista Fabio Pannunzio, precisou de apenas e
exatos dois minutos e cinco segundos para revelar e comprovar o que eu e
muitíssima gente sabíamos: a cumplicidade do então juiz com o candidato
ultradireitista não se limitou a impedir Lula de ganhar a eleição. Teve seu
prêmio assegurado com antecedência.
Bebbiano foi,
mais que coordenador, o grande articulador da campanha eleitoral e participou
ativamente da estruturação do governo de Bolsonaro. Pretendia ser ministro da
Justiça. E quando foi informado por Paulo Guedes que seu candidato pessoal
tinha sido preferido por Bolsonaro, achou perfeitamente natural.
Num gesto de
lealdade ao passado, na entrevista Bebianno diz que até onde ele saiba,
Bolsonaro e Moro não tinham tido nenhum contato pessoal direto. Tudo foi feito
por Paulo Guedes.
O que ele não
disse, nem precisava, é que Guedes pode ter sido escolhido por Bolsonaro para
as sondagens e negociações com o juizeco que desde sempre se mostrou
absolutamente parcial e manipulador.
Com essa
revelação feita pelo condutor da campanha eleitoral, que ainda por cima
menciona testemunhas da conversa – Onyx Lorenzoni, o empresário Paulo Marinho,
Paulo Guedes – a situação de Moro como ministro fica insustentável.
Quer dizer:
ficaria, se tanto ele como Bolsonaro tivessem uma gota de vergonha na cara e um
mínimo vestígio de dignidade.
Em
compensação, vossas excelências que integram o Supremo Tribunal Federal passam
a ter um motivo a mais – o centésimo – para julgar a conduta do então juiz
Sergio Moro. Uma conduta imoral, indecente, abjeta.
E, além de
motivo, têm uma nova oportunidade para mostrar que não se trata de um tribunal
omisso, cúmplice, poltrão. Oxalá não a desperdicem como desperdiçaram todas as
anteriores.
Também a
Câmara de Deputados tem uma excelente oportunidade de tentar desfazer ao menos
em parte, pequena parte, sua péssima imagem: Moro já compareceu e mentiu aos
deputados.
Por que não
fazer uma convocação ampla, incluindo, além de Moro, Paulo Guedes e Onyx
Lorenzoni, e provocar uma acareação do trio com Gustavo Bebianno?
0 comentários:
[ Deixe-nos seu Comentário ]
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor