"Lula faz desse Brasil irrespirável, um país novamente
respirável. Ele é o remédio para a depressão social que se alastrou por aqui,
diante de tanto sufocamento ideológico, macetado por apologistas da tortura, do
medo e da vingança", diz o colunista Gustavo Conde sobre as mudanças que
ocorrerão no país após a libertação de Lula
9 de novembro de
2019
Gustavo Conde é
mestre em linguística pela Unicamp, editor e colunista do Brasil 247.
O Brasil viveu
um de seus momentos mais espetaculares nessas últimas horas, em que parte
considerável de sua história voltou à possibilidade plena de disputar a
narrativa política e social.
A prisão de Lula
mudou tudo e a libertação de Lula muda tudo novamente.
A primeira
grande mudança é a da esperança. Lula traz a possibilidade de um futuro de
volta, de uma política possível e de um debate qualificado em torno das
necessidades históricas e urgentes do país.
Lula faz desse
Brasil irrespirável, um país novamente respirável. Ele é o remédio para a
depressão social que se alastrou por aqui, diante de tanto sufocamento
ideológico, macetado por apologistas da tortura, do medo e da vingança.
Só o fato de
Lula estar em cena novamente gera a energia singular das insurreições
subjetivas: ninguém mais ficará só observando.
É preciso ter
até um certo cuidado com essa energia que Lula irá libertar, pois o Chile já
demonstrou que uma população insatisfeita e motivada avança com ferocidade para
garantir suas vidas e seus direitos.
Lula sempre foi
um pacificador e continuará sendo. Mas eu diria: é bom as elites não contarem
tanto com isso desta vez.
Lula está
ferido. Foram-lhe arrancados 580 dias de sua vida. Foi-lhe arrancada sua
companheira de décadas, que sucumbiu diante da violência judicial promovida
pela operação mais criminosa já vista na história deste país.
Ele não vai
querer a forra porque não é adepto da vingança. Mas vai querer justiça – e esse
processo de reparação mal começou.
Por outro lado,
na pletora de novos deslocamentos políticos, o cenário dos sentidos públicos,
com Lula de volta, muda consideravelmente. Bastaram algumas horas de Lula em
cena para que o tema Bolsonaro, filhos e generais evaporasse da cobertura
jornalística.
Convenhamos: é
um alento não ter essa boçalidade nas manchetes.
Eis um efeito
poderoso provocado pela presença de Lula: agora, teremos enunciados 'com sentido'
transitando em nossa rotina de leitura.
É essa mudança
que Lula desencadeia que ainda nem sabemos direito a verdadeira dimensão: Lula
modifica os parâmetros de codificação política do país e, com sua habitual
força simbólica e respectivo apelo popular, recoloca em cena algo que perdemos
ao longo desses anos de golpe e fascismo: o sentido.
Sua presença
organiza o discurso, não apenas da esquerda, mas da sociedade inteira. Ele tem
lastro histórico, político e humano para isso.
Lembro
rapidamente: o sentido das palavras, dos enunciados e dos discursos são
profundamente dependentes do indivíduo que os produz – ente também nomeado, nos
estudos da linguagem, simplesmente como ‘sujeito’.
O Brasil vivia
uma síndrome de abstinência de subjetividade (de sujeito). A onda de robôs de
Bolsonaro, literais ou metafóricos, desumanizou nossos protocolos de
restauração de sentidos. Isso não é brincadeira e nem um 'teaser' retórico.
Com Lula, o
humano volta a fazer parte do mundo simbólico. É por isso que teremos uma queda
brusca nos casos de depressão e de doenças mentais a partir deste momento –
haja vista como eles cresceram diante da ascensão do bolso-morismo.
Lula ainda
recoloca uma pauta econômica para chamarmos de nossa. Os melhores economistas
do país estão ativos, mas absolutamente descartados pelo sistema opressor do
'neoliberalismo AI-5' de Paulo Guedes.
Com Lula, isso
muda, porque Lula sabe organizar o debate sobre economia tão bem quanto sabe
organizar o debate sobre educação, crescimento, soberania e outros tantos temas
que foram abortados da experiência social imposta pelos próceres do neofascismo
de Twitter.
O retorno de
Lula reinstaura oficialmente, ainda, o instituto da oposição. Antes de ser
governo, Lula e o PT sempre foram oposição. Juntos, eles sabem como ninguém
como isso funciona.
Com Lula no
horizonte, Bolsonaro não terá de lidar apenas com as 'cansadas' Globo e Folha,
interpretando mal os vetores de interpelação pública. Ele terá um adversário de
fato, alguém que tem liberdade intelectual e ímpeto político para erodir
falácias, ameaças e blefes.
Lula emerge com
uma fênix investida do desejo de mudança, como uma liderança global, como o
maior cabo eleitoral do Brasil e do mundo, como o protagonista, como o elemento
que completa o quebra-cabeça geopolítico das reaglutinações estratégicas
comerciais, da Ásia até a África, da Europa aos EUA.
Todos esperam
por sua monumentalidade política e pragmática na resolução de conflitos
internacionais e na confecção de projetos transnacionais de combate à miséria.
Lula é a bola da
vez em um mundo que deseja sair do emburrecimento ilícito dos clichês
fascistoides e neoliberaloides.
A saudação que
líderes internacionais lhe dedicaram neste momento de libertação é algo sem
precedentes.
Lula é Mandela,
é Gandhi, É Muhammad Ali, é Mujica, é Dalai Lama. O mundo o quer como exemplo,
o mundo o vê como símbolo, o planeta lhe acena como esperança.
A volta de Lula
significa a volta da realidade.
Que a sociedade
brasileira saiba, agora, aproveitar essa janela de oportunidade para seu futuro
e para seu destino. De alguma maneira, esta sociedade desejou isso: a
proscrição e o retorno de seu maior líder, como empuxo narrativo para aplacar o
normalismo das semidemocracias.
Talvez Lula seja
isso: a nossa possibilidade de uma democracia devidamente significada por
gestos de sacrifício, proscrição e renascimento.
Gestos que só o
amor infinito de um cidadão por seu país foi capaz de gerar.
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