Luis Macedo/Câmara Dos Deputados
Revelações da deputada durante CPI na Câmara, com extensa
apresentação de documentos, mostram como funciona rede de difamação
07/12/2019
A deputada
federal Joice Hasselmann (PSL-SP), que presta depoimento na CPI das Fake News
da Câmara nesta quarta-feira (4), apresentou uma série de documentos que
atestam diversas ilegalidades cometidas por bolsonaristas relacionadas à
disseminação de notícias falsas e destruição de reputações em redes sociais.
Antes aliada importante do núcleo de apoio de Jair Bolsonaro (sem partido), ela
agora é enfrentada como inimiga por “milícias digitais” ligadas ao clã do
presidente.
Existe um
padrão nas operações de distribuição de mentiras nas redes sociais, revelou a
parlamentar. O esquema envolve um grande número de assessores de parlamentares
de extrema-direita. Estes, recebem altos salários e têm como função a
construção de narrativas mentirosas para beneficiar a ideologia em torno de
Bolsonaro. Difamações e até ameaças de morte foram apresentadas por Joice,
todas com origem especificada.
Joice
argumentou que todos os documentos que revelam essa grande rede passaram por
perícia e já são objeto de investigação. “Gente já jogou computador fora, até
quebrou o disco do computador com furadeira”, disse, em alusão à suspeita de
que o vereador carioca e filho do presidente Carlos Bolsonaro teria destruído
computador.
TV Câmara
Rede envolve
cerca de oito milhões de pessoas em grupos de WhattsApp, Facebook e outras
redes sociais. Apesar do grande número de pessoas envolvidas, os robôs se fazem
necessários para a disseminação em massa até o destino final
O mecanismo
Uma das
principais origens das mentiras, especialmente nos últimos meses, é o deputado
federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). “As instruções passam muito por Eduardo e
assessores ligados a ele. Eles ativam a militância e, depois, publicadores que
têm muitos perfis falsos para dificultar a responsabilização das fake news.
Para que não haja imputação de crime ou acionamento da Justiça, muitos perfis
são falsos”, explicou.
Depois disso,
vem o uso dos famigerados robôs. “Depois disso, as fake news são disseminadas
em larga escala por robôs. Isso é informação técnica, a polícia já está
envolvida. Tem gente que já jogou computador fora. Quem destruiu provas de
ataques não levou em consideração que os dados estão protegidos na nuvem”,
disse Joice.
Gabinete do ódio
Toda essa rede
envolve cerca de 8 milhões de pessoas em grupos de WhattsApp, Facebook e outras
redes sociais. Apesar do grande número de pessoas envolvidas, os robôs se fazem
necessários para a disseminação em massa até o destino final. Dentro destes 8
milhões, existe uma escala hierárquica bem definida. Muitos dos que tomam as
decisões são pagos com dinheiro público. Especialmente assessores, que formam o
já conhecido “gabinete do ódio”.
“Eles têm uma
tabela para que cada dia, um assessor produza um conteúdo para destruir uma
reputação. Cada um um dia para fazer os ataques coordenados (…) Eles fazem
listas de orientações para difamar. Entre políticos, jornalistas, enfim. Em um
grupo central do WhattsApp eles coordenam e passam para os outros grupos
multiplicadores”, disse Joice.
Farra com dinheiro público
Um dos grupos
mais ativos e violentos é coordenado pelo gabinete do deputado estadual Douglas
Garcia (PSL-SP). O parlamentar possui sob seu domínio uma série de militantes
que coordenam as ações das fake news. Todos eles muito bem remunerados com
dinheiro público.
Douglas Garcia
faz parte de um grupo chamado Movimento Conservador, idealizado por Eduardo
Bolsonaro, que tem como objetivo a disseminação do ódio e a manutenção das
ideologias de extrema-direita. Todos eles também do grupo radical
ultraconservador chamado Direita São Paulo.
“Edson Salomão
ganha 24 mil pra fazer meme e atacar pessoas do gabinete do Douglas Garcia.
Mais de um milhão de reais em dinheiro público por ano em assessores de
gabinetes. Jorge Saldanha, 18 mil reais de salário. Todos eles do Direita São
Paulo. Alexandre da Silva, 9 mil reais.
André Petros, quase 10 mil reais também. Todos eles Direita São Paulo e
Movimento Conservador. Carlos Olímpio, Dylan Dantas, esses 7 mil reais de
dinheiro público para atacar. Jhonatan Valencio, Lilian Goulart, Lucas Reis,
quase 12 mil reais. O gabinete inteiro do Douglas Garcia. Maicon Tropiano,
Matheus Galdino.” Estes são alguns nomes dos militantes centrais de tal teia de
mentiras.
Laranjal
Em seus
documentos, a partir das datas das postagens e atribuições, com muitos prints
de telas de WhatsApp do núcleo bolsonarista, Joice revelou que o método
consiste em iniciar uma mentira ou difamação de forma mais leve e, então,
aprofundar, radicalizar as mentiras e ataques, a partir de sites e blogs de
fachada criados pelos próprios assessores.
Um dos
articuladores, Eduardo Guimarães (Dudu Guimarães), que é secretário parlamentar
de Eduardo Bolsonaro, inicia uma narrativa, por exemplo. “O grupo Bolsofeios é
do Dudu, esse é um dos grupos de organização do gabinete do ódio.
Então, começam
a aprofundar a narrativa. Uma das fake news contra mim começou em um site Click
Cozinha, dizendo que eu teria usado verba pública para difamar filhos do
Bolsonaro. Eles usam esses sites laranjas.”
De mentiras a ameaças
Joice disse
que se incomodou severamente com o esquema quando uma montagem sua em um corpo
de porca e roupas de prostituta chegou no celular de seu filho de 11 anos. Ela
chegou a rastrear a origem da montagem e chegou no esquema de Douglas Garcia.
Mesmo grave a difamação, o cenário ainda pode piorar.
As influências
das fake news criadas pelos grupos bolsonaristas ultrapassam os ataques
pessoais, chegam na esfera da influência direta em articulações políticas e
acabam atingindo a pura ameaça à vida. Em um vídeo do pessoal ligado ao Direita
São Paulo e ao Movimento Conservador, assessores parlamentares armados com
submetralhadoras e outras armas de grosso calibre ameaçam de morte o ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.
Em outro caso,
sugerem articulações para proteger a família Bolsonaro de investigações
criminais. “Tem um grupo chamado Ódio do Bem. Em mensagens desse grupo que
estão já na perícia, afirmam que ‘é importante que travem a Lava Jato. Deltan
deve cair. Augusto Aras deve assumir a PGR. Mendonça assumira o STF. Tem como
blindar o Flávio’, afirma a administração desse grupo.”
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