"Mesmo em cativeiro, sua alma esteve mais livre do que a de
seus algozes. Suas atitudes, a de transformar o negativo em positivo e a de
expressar gratidão permanente, foram os traços marcantes de Lula na
prisão", escreve Leonardo Attuch, em apresentação para a nova edição do
livro "Lula e a Espiritualidade"
28 de dezembro
de 2019, 07:16 h
Leonardo
Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247, além de colunista das
revistas Istoé e Nordeste
(Apresentação
da nova edição do livro "Lula e a espiritualidade") – A obra de Luiz
Inácio Lula da Silva como líder sindical, fundador de partido político e
presidente da República já foi cantada em prosa e verso. Dezenas de milhões de
brasileiros saíram da pobreza, o Brasil viveu seu maior ciclo de crescimento
com inclusão social e passou a ser respeitado no mundo todo como uma das
grandes nações do planeta.
O que não se
poderia antever era o exemplo que Lula viria a dar como preso político,
condição em que foi colocado no dia 7 de abril de 2018 para não disputar uma
eleição presidencial que, segundo todas as pesquisas, venceria com relativa
facilidade.
No cárcere,
Lula suportou os 580 dias de injustiça com altivez e dignidade, mas sobretudo
com uma determinação: a de transformar qualquer emoção negativa em positiva.
Foi isso o que ele nos disse na entrevista que concedeu à TV 247, pouco depois
de deixar a cadeia. “Eu, quando cheguei lá, me dotei da necessidade de não
permitir que a prisão me abalasse. Tudo o que as pessoas diziam que era ruim,
eu transformava em algo positivo. E assim eu fui levando. Isso me fez viver
razoavelmente bem”, disse ele.
Esta afirmação
de Lula carrega profunda sabedoria: a de que é possível transformar toda e
qualquer adversidade num trampolim para o progresso, seja ele material ou
espiritual. Não por acaso, Lula também afirmou em diversas ocasiões que deixava
a prisão melhor do que entrou. Tanto é verdade, que aqueles que o visitaram
relataram entrar tristes na masmorra de Curitiba, mas saírem alegres e
revigorados pela conversa com Lula.
Como no ditado
popular, o ex-presidente soube fazer do limão que lhe entregaram uma doce
limonada – ou mesmo, talvez melhor ainda, uma bela caipirinha. Em vários momentos, Lula expressou o
sentimento de gratidão por todos os homens e mulheres que estiveram ao seu
lado, na Vigília Lula Livre, ao longo desses 580 dias de sequestro pelo estado
brasileiro. Lula não reclamou do destino, jamais choramingou pelos cantos, nem
permitiu que o ódio o dominasse.
De certa
maneira, mesmo em cativeiro, sua alma esteve mais livre do que a de seus
algozes – muitos deles, prisioneiros das mentiras que criaram. Essas duas
atitudes, a de transformar o negativo em positivo e a de expressar gratidão
permanente, são também ações essencialmente religiosas e estão presentes nas
tradições budistas e zen. Não no sentido de seguir dogmas, cumprir rituais ou
obedecer a qualquer ortodoxia, mas simplesmente de saborear a magia do universo
e a beleza de cada dia – mesmo os dias mais feios e terríveis, como aqueles que
o Brasil momentaneamente atravessa, sob o comando do fascismo que nos
envergonha diante do mundo civilizado.
Não fosse a
prisão, não teria havido Vigília – e Lula talvez não tivesse tantos motivos
para agradecer. Não fosse a injustiça, o Brasil não conheceria Lula nesse seu
novo “lugar de fala”: o do preso político, como já foram, em outros tempos,
grandes personagens da História como Nelson Mandela, Pepe Mujica, Gandhi e
Nehru, apenas para citar alguns casos notórios.
Portanto, para
nós, do 247, foi motivo de imensa alegria participar como co-editores, em
companhia da Kotter Editorial, deste livro organizado pelo jornalista e amigo
Mauro Lopes, que reuniu artigos de tantos líderes espirituais que estiveram ao
longo do ex-presidente Lula ao longo desta travessia. Não apenas porque, com
ele, estreamos no mercado editorial de livros, sonho antigo que acalentávamos,
mas porque pudemos oferecer ao público um livro com profundos ensinamentos a
partir das percepções que homens e mulheres de extrema sabedoria tiveram nos
seus encontros com este ser humano singular – e também exemplar – que é Luiz
Inácio Lula da Silva.
Que todos
possam aprender com sua lição: a de que a vida deve ser saboreada em todos os
momentos. São Paulo, 18 de dezembro de
2019
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