(Foto: Antonio
Cruz - ABR)
Avaliação é do sociólogo e diretor do instituto Vox Populi,
Marcos Coimbra. "A mesma grosseria, a mesma mesquinhez, a mesma
incapacidade de qualquer gesto de grandeza, a mesma falta de inteligência e
educação", diz. Para ele, "o que sustenta Bolsonaro é apenas o
tempo"
6 de dezembro
de 2019
Marcos Coimbra
é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Entramos no
12º mês do governo (?) do capitão Bolsonaro. Daqui a alguns dias, seu primeiro
ano estará concluído. Sem foguete, sem retrato e sem bilhete.
Não houve
surpresas na política em 2019. O que se podia esperar de ruim aconteceu. Nada
de bom fez com que tivéssemos que reconsiderar as expectativas sombrias do
início do ano.
Talvez haja
nisso exagero. No lado da ruindade houve, sim, imprevistos. Quem, por exemplo,
conseguiria imaginar que o péssimo ministério do início pudesse piorar? Mas foi
o que aconteceu. Todos os ministros que saíram cederam lugar a gente ainda mais
desqualificada.
No fim de seu
primeiro ano, Bolsonaro está tão Bolsonaro como sempre. A mesma grosseria, a
mesma mesquinhez, a mesma incapacidade de qualquer gesto de grandeza, a mesma
falta de inteligência e educação. Sua equipe é constituída por gente tosca e
despreparada. Há quem suponha que eles se entretêm com um jogo perverso: descobrir
até onde podem descer, até que ponto podem chegar na afronta aos sentimentos e
valores da maioria.
De acordo com
as pesquisas, o capitão lidera o ranking dos piores presidentes que o Brasil
conheceu. Sozinha, a proporção dos que o avaliam assim equivale à soma do
segundo e terceiro colocados, Collor e Dilma. A situação de um cidadão, em
início de mandato, que tem uma rejeição igual à soma de dois presidentes que
foram depostos não pode ser boa.
O tamanho do
núcleo que o apoia na sociedade diminuiu. Bolsonaro não foi apenas incapaz de
atrair novos simpatizantes, mas de preservar o patrimônio que uma vitória
eleitoral costuma assegurar. Perante a opinião pública, chefiar o governo não
somente não o fortaleceu, mas o enfraqueceu.
Resta-lhe a
avaliação efetivamente positiva de algo perto de 15% da população. É essa a
parcela que gosta dele e aprova suas políticas para a saúde, a educação, a
valorização do salário mínimo, a geração de empregos e o meio ambiente. É a
mesma proporção dos que consideram que o governo cuida e projeta uma boa imagem
internacional do País.
No fundo,
haver cerca de uma pessoa em cada dez que aplaude o governo é extraordinário.
Que cabeça é essa, de quem aceita os despropósitos que estão sendo cometidos na
educação, no meio ambiente e na cultura, por exemplo? O que pensa quem não se
envergonha com os fiascos e as declarações estapafúrdias do capitão?
Ao terminar o
ano, o que sustenta Bolsonaro é apenas o tempo. A maioria da população,
indiferente à politica e mal informada, acha que é cedo para decretar que ele
não presta. Se o tempo de governo não fosse ainda pequeno, as cobranças seriam
maiores e menor a paciência. A incompetência não seria desculpada como fruto da
inexperiência ou da “novidade”.
O problema é
que esse tipo de capital decai a cada dia e é impossível renová-lo. O tempo passa e nunca dão certo as tentativas
de ganhar mais algum.
Logo depois da
eleição de 2018, o Datafolha fez uma pesquisa e constatou que a maioria das
pessoas, mesmo as que não haviam votado em Bolsonaro, esperavam melhoras em
dois aspectos: na economia, com a retomada do desenvolvimento, e na segurança,
com a redução da criminalidade. Até agora, nada disso aconteceu.
Melhora na
economia não é algo que precisa ser explicado. Ou é uma constatação que decorre
da experiência concreta das famílias, de seus bons empregos, dinheiro no bolso,
casa própria e comida na geladeira, ou é conversa fiada. Com a politica
econômica do governo, a chance de que uma melhora verdadeira aconteça nos três
próximos anos é perto de zero. Os crédulos, entre os quais a grande imprensa
brasileira, que esperem o improvável futuro em que o modelo dará certo, enquanto vão engolindo os sapos
que o capitão despeja.
Coisa
semelhante vale na segurança pública. Bolsonaro e sua turma engrossam a voz e
fazem arminha, mas não têm a menor capacidade ou vontade de enfrentar a
criminalidade. Só o que podem exibir são fotos de pistolas na cintura e a
imagem desbotada de um ex-juiz que alguns acham respeitável.
Tudo
considerado, que Bolsonaro e seus amigos comemorem 2019, pois os que vêm pela
frente lhes serão mais desfavoráveis. A menos, é claro, que o Exército resolva
dar um golpe e entronize o capitão. É ridículo, mas não impossível.
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