(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
"A única pessoa, hoje, capaz de puni-lo [Moro], mesmo sem
essa intenção, é o presidente Bolsonaro, que não deverá mantê-lo durante muito
tempo no Ministério da Justiça porque sabe que, além de Lula, Moro é o único
que pode derrotá-lo nas próximas eleições, conforme revelam as pesquisas",
avalia o colunista Ribamar Fonseca
15 de dezembro
de 2019
Jornalista e
escritor
Graças à
Globo, instalou-se no Brasil um câncer
que há cinco anos vem corroendo as entranhas da Nação: a Lava-Jato. A pretexto
de combater a corrupção, a Lava-Jato manipulou a mídia tradicional, em especial
a Globo, com vazamentos selecionados; jogou na lama centenas de reputações;
destruiu a indústria pesada da construção civil brasileira, desempregando
milhares de trabalhadores; fragilizou a Petrobrás, facilitando o seu
esquartejamento para a sua privatização aos pedaços; e interferiu no processo
eleitoral, impedindo Lula de ser candidato e abrindo caminho para a eleição de
Bolsonaro. E de quebra fez as suas próprias leis que, embora não escritas e não
aprovadas pelo Congresso Nacional, valem mais do que a própria Constituição,
sendo observadas por magistrados de todos os níveis: extinguiu a exigência de
provas, condenando o réu com base apenas
na convicção de quem julga. Foi estribado nisso que Lula foi condenado mesmo
sem ser proprietário do triplex do Guarujá e do sitio de Atibaia. No seu voto
em que aumentou a pena do ex-presidente de 12 para 17 anos, no processo de
Atibaia, o desembargador Gebran Neto, relator da Lava-Jato no TRF-4,
disse: pouco importa se Lula é o dono do
sítio, mas “o que me parece relevante é que ele usou o imóvel”. Precisa desenhar?
A Lava-Jato,
na verdade, foi uma armação concebida nos porões do Departamento de Justiça
norte-americano com um objetivo político: tirar do poder no Brasil a Esquerda,
representada pelo PT, para eleger um representante da Direita sintonizado com o
governo dos Estados Unidos. Embora praticamente desconhecido da grande maioria
da população, apesar de contabilizar 28
anos de mandato na Câmara Federal, o
deputado Jair Bolsonaro foi o ungido não apenas por sua idolatria por Donald
Trump mas, também, por suas origens e ligações militares. E como os tempos
atuais não mais comportam golpes militares, os americanos optaram pelo lawfare,
o uso da Justiça para dar a aparência de legalidade, estratégia adotada no
Brasil e em outros países da América do Sul para afastar governantes e líderes
populares de Esquerda. Para o êxito do projeto, que incluiu a derrubada da
presidenta Dilma Roussef e a prisão de Lula, foi decisiva a participação da
mídia, de magistrados, de empresários e do uso do WattsApp, hoje o mais eficiente
meio de comunicação do planeta, através do qual promoveu-se uma verdadeira
lavagem cerebral em grande parte da população, por meio de fakenews.
A força-tarefa
de Curitiba ganhou status de tribunal de
inquisição, com jurisdição em todo o território nacional, e seus chefes, o então juiz Sergio Moro e o
procurador Deltan Dallagnol, foram transformados pela Globo em super-heróis,
porque estavam fazendo exatamente o que os irmãos Marinho queriam: eliminar
Lula e o petismo do cenário político nacional, o que casou com os interesses
norte-americanos e com o motivo da criação da Lava-Jato. E para pegar o
ex-presidente, o verdadeiro alvo da operação desde a sua instalação, foram
deixando um rastro de destruição por onde passavam: prenderam um monte de gente
considerada “importante”, acabaram com centenas de reputações e destruiram a indústria da construção civil, quebrando as
maiores empresas do país e abrindo espaço para empresas estrangeiras. O combate à corrupção, até hoje o estandarte
que levantam todas as vezes em que cresce o tom das críticas aos estragos
causados à economia do país, na verdade sempre foi uma cortina de fumaça para
esconder o verdadeiro objetivo da
força-tarefa: impedir Lula de voltar ao Planalto. Afinal, onde estão os
corruptos confessos? Com raras exceções, curtindo em casa o dinheiro que
roubaram.
Além das
grandes empresas da construção civil, a Petrobrás , espionada durante anos
pelos Estados Unidos, foi uma das maiores prejudicadas pela Lava-Jato, que
promoveu uma verdadeira caça às bruxas dentro da estatal e deixou a empresa à
mercê da sanha dos que querem entrega-la para os americanos, um velho sonho
dos entreguistas, entre eles Fernando
Henrique Cardoso e José Serra. O presidente da empresa, Roberto Castello
Branco, recentemente reconheceu os danos que aquela operação causou à estatal e
seus funcionários, inclusive enviando
carta a eles com pedido de desculpas. Em
nota, disse Castello: “Em vez de investigar e punir as pessoas que
realmente cometiam atos dolosos, inocentes foram perseguidos. Resultado disso é
que estamos entregando cerca de duas mil cartas pedindo desculpas às pessoas
envolvidas e a seus familiares pelos danos causados. Por isso, aproveito esta
oportunidade para pedir desculpas pessoalmente, como presidente da companhia,
em nome da Petrobras a todos aqueles que foram injustiçados e seus familiares”.
Existe melhor prova do que essa para convencer os fanáticos de que a Lava-Jato
causou mais danos ao Brasil do que benefícios? Quem vai ser responsabilizado pelos
prejuízos causados aos funcionários da estatal?
O então
juiz Sergio Moro, que volta e meia viajava aos Estados Unidos para receber
instruções do pessoal do Departamento de Justiça e da própria CIA, como
recompensa por ter assegurado a eleição de Bolsonaro ao tirar Lula do páreo foi
nomeado para o Ministério da Justiça, o que não apenas o manteve no foco dos
holofotes como, também, garantiu a sua blindagem contra os processos. Além
disso, ele conseguiu aliados no Congresso e nos tribunais superiores, especialmente
no Supremo Tribunal Federal, onde conta com o apoio irrestrito dos ministros
Edson Fachin, Roberto Barroso e Luiz Fux. Este último, considerado homem de
confiança da Lava-Jato, até já declarou publicamente o seu voto contra o pedido
de suspeição de Moro, que tramita na Corte Suprema e que já deveria ter sido
votado pelo plenário, mas até hoje continua dormindo na gaveta do seu
presidente, Dias Tóffoli, que vem adiando seguidamente a sua inclusão na pauta.
Tóffoli, pelo visto, quer deixar a decisão para
Fux, que dentro em breve assumirá a presidência da Corte. Em recente
palestra no Conselho Nacional do Ministério Público, Fux defendeu Moro,
classificando-o como “um grande brasileiro”, e criticou a imprensa por ter
publicado as revelações do site The Intercept.
O ex-juiz, na
verdade o principal responsável pelo desastre Bolsonaro, provavelmente não será
punido pelos seus abusos, pois todas as ações contra ele foram arquivadas pelo
Conselho Nacional de Justiça, a exemplo do que o CNMP fez com as ações contra
Deltan Dallagnol, órgãos de controle que
se tornaram corporativistas. A única pessoa, hoje, capaz de puni-lo, mesmo sem
essa intenção, é o presidente Bolsonaro,
que não deverá mantê-lo durante muito tempo no Ministério da Justiça porque
sabe que, além de Lula, Moro é o único que pode derrotá-lo nas próximas
eleições, conforme revelam as pesquisas.
Por enquanto ele está bem no conceito do
povo, que ainda o avalia pelo seu suposto combate à corrupção na Lava-Jato.
Como, porém, em um ano no Ministério da Justiça ele não fez absolutamente
nada contra a corrupção (cadê o
Queiroz?) ou para melhorar a segurança no país, tudo indica que será esquecido
quando deixar o cargo e, consequentemente, sair do foco dos holofotes, assim
como aconteceu com o ministro aposentado Joaquim Barbosa, que a Veja
classificou como “o menino pobre que mudou o Brasil”. A partir daí o capitão
não precisará mais se preocupar com a sua concorrência, pois o ex-juiz, tal
como Barbosa, sumirá do cenário político. Se Bolsonaro, portanto, pretende
mesmo concorrer à reeleição, sua primeira providência será eliminar o concorrente que está mais próximo
com uma única canetada: Moro. E o sonho do atual ministro de chegar à
Presidência da República ou ao STF terá sido apenas um sonho.
Brasil 247
1 comentários:
Texto primoroso, a sequência dos fatos nos proporciona melhor apreensão dos fatos. É doloroso ler tudo isso, mas precisamos ter os pé no chão
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