Para o doutor em Ciências Sociais Robson Sávio Reis Souza, a
pesquisa Datafolha, divulgada neste domingo (8), traz como "a novidade que
se cristaliza" o fato de que "algo em torno de 15% da direita
brasileira é protofascista" e que "a esquerda precisa radicalizar sua
posição para mostrar as contradições brasileiras" caso queira mudar os
retrocessos que estão se avolumando pelo país
8 de dezembro
de 2019
Doutor em Ciências Sociais, professor universitário e membro da Comissão da Verdade de MG
Uma análise da
pesquisa Datafolha de hoje:
1. Não há
polarização: 30% dos eleitores são de direita; 30%, de esquerda e 40%
totalmente voltados a um pragmatismo vivencial: para os excluídos, a melhor promessa
do momento (aqui entram a manipulação midiático-empresarial e, no contexto
atual, as redes de fake news de ultradireita) é que vale. A
"promessa" já foi à esquerda, com Lula/Dilma; agora, à direita.
2. A novidade
que se cristaliza nessa pesquisa: algo em torno de 15% da direita brasileira é
protofascista (fascismo em sua vertente inicial).
2.1. O clã
Bolsonaro e personagens como Olavo de Carvalho atuam para mobilizar essa
parcela da população. São, claramente, antidemocráticos, autoritários e violentos.
Constantemente, insuflam o terrorismo de Estado.
2.2. A direita
tem uma arma poderosa em sociedades capitalistas: o poder do dinheiro - dos que
não têm compromisso com a democracia de fato (empresários, banqueiros,
latifundiários, think tanks...).
2.3. Mas, o
poder dos sentimentos e dos afetos, ou seja, o poder simbólico, é a grande
disputa do momento. Este jogo está em aberto.
3. Parte dos
protofascistas estão a disputar o poder simbólico utilizando o discurso
religioso (o meio mais eficaz de disseminar discursos de ódio). Há um imenso
investimento financeiro no neopentecostalismo.
3.1. A
esquerda, em boa medida, está sem uma bandeira afetiva e mobilizadora. Lula
encarna, em certa medida, esse vácuo.
4. Mesmo
assim, a direita, definitivamente, não é imbatível. Argentina provou que o
ultraliberalismo não responde às demandas de sociedades marcadas pela
desigualdade e injustiça estruturais.
4.1. Mas, a
esquerda precisa radicalizar sua posição para mostrar as contradições
brasileiras. Caso contrário, os 40% dos eleitores "folha de
bananeira" (que vão à onda do vento) continuarão na passividade
(altíssimos índices de absenteísmo eleitoral), na omissão (imobilização social)
ou conivência com os que gritam mais alto.
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