(Foto: Reprodução/TV Globo)
"Do jeito que a Lava Jato foi divulgada, acabou parecendo
que o Brasil é o país mais corrupto do mundo, e que as empresas brasileiras
exportavam corrupção. Não é verdade —nem uma coisa nem outra. Mas nossos
competidores no mundo souberam tirar vantagem disso", diz o empresário
Marcelo Odebrecht, que ficou quatro anos preso
9 de dezembro
de 2019
O empresário
Marcelo Odebrecht concedeu sua primeira entrevista depois que passou quatro
anos preso, à jornalista Bruna Narcizo, da Folha de S. Paulo, e apontou os
danos causados pela Operação Lava Jato à imagem do Brasil e das empresas
brasileiras. "Do jeito que a Lava Jato foi divulgada, acabou parecendo que
o Brasil é o país mais corrupto do mundo, e que as empresas brasileiras
exportavam corrupção. Não é verdade —nem uma coisa nem outra. Mas nossos
competidores no mundo souberam tirar vantagem disso. Vários países culpam a
Odebrecht. Essa é uma questão que vamos ter de superar", disse ele.
Marcelo
Odebrecht também fez uma defesa enfática do BNDES, contra a acusação de que
seria uma caixa-preta, e falou em detalhes do financiamento a Cuba, para a
construção do porto de Mariel. "Até antes da Lava Jato, nenhum projeto
nosso teve default [termo usado na economia como sinônimo descumprimento de
acordo para pagamento]. Nenhum governo que a gente atuava entrou em default.
Era uma coisa que a gente fazia questão de acompanhar, porque sabíamos que
podia matar a galinha dos ovos de ouro. Por isso, a gente acompanhava de perto.
Agora, depois da Lava Jato, com a destruição que foi feita da nossa imagem no
exterior, ficou difícil de a gente ficar no pé dos governos para que os
financiamentos fossem pagos", disse ele.
"Por
exemplo, a questão do porto de Mariel, em Cuba. Estão dizendo que tem um
default de Cuba com o Brasil. Mas veja bem, o que o Brasil tinha que pagar de
Mais Médicos [pelo acordo, o governo brasileiro pagava apenas uma porcentagem
aos profissionais, o restante ia para o governo cubano]. Era menos do que Cuba
tinha que pagar para o Brasil. Agora, o Brasil vai e acaba com o Mais Médicos.
Quer dizer: o Brasil acabou com a fonte de recurso que ajudava Cuba a pagar o
financiamento.
Se a gente
fosse a Odebrecht de antes da Lava Jato, no momento em que a gente percebesse
que o governo está ameaçando o Mais Médicos, nós teríamos usado de nossa
influência para tentar manter o programa. Não em cima de nada ilícito, mas
provando ao governo que o Mais Médicos é que iria pagar o financiamento que
Cuba pegou do Brasil. Essa capacidade de negociar, de certo modo, a gente
perdeu. A gente ajudava para que a geopolítica dos países fosse bastante fluída",
afirmou.
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