"Bolsonaro sabe que a Globo é a maior ameaça ao seu governo
e à sua reeleição, porque o telhado do presidente é de vidro e a emissora da
família Marinho é poderosa o suficiente para quebrá-lo", escreve Alex
Solnik, do Jornalistas pela Democracia
2 de janeiro
de 2020
Alex Solnik é
jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor,
Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais
"Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A
guerra do apagão" e "O domador de sonhos"
Eu considerava
a história de Luciano Huck se candidatar a presidente da República uma aventura
juvenil e inconsequente até ler agora há pouco, aqui no 247, que ele já se
encontrou duas vezes com o governador Flávio Dino para tratar de uma suposta e
improvável chapa presidencial, com Dino de vice.
Passei, então,
a considerar que Huck não está brincando, nem está sozinho nessa empreitada e a
fazer algumas reflexões.
A ameaça feita
por Bolsonaro de não renovar a concessão da maior emissora do país e da América
do Sul e a quinta do mundo, quando ela vencer, em 2022 tem que ser levada a
sério.
Destruir a
Globo interessa tanto a ele quanto ao seu grande aliado, o “bispo” Edir Macedo,
dono da maior concorrente, a TV Record.
Bolsonaro sabe
que a Globo é a maior ameaça ao seu governo e à sua reeleição, porque o telhado
do presidente é de vidro e a emissora da família Marinho é poderosa o
suficiente para quebrá-lo, o que ficou demonstrado na reportagem a respeito do
porteiro que envolveu Bolsonaro no assassinato de Marielle Franco.
É óbvio,
também, que se ele consumar o fechamento da Globo, Edir lhe será eternamente
agradecido, redobrando seu empenho junto ao eleitorado evangélico a favor dele,
tanto na sua reeleição quanto na continuidade do esquema bolsonarista no poder,
por meio de seu filho ou outro aliado.
Nesse
contexto, a Globo, que nos tempos de seu fundador, Roberto Marinho, ficou com
fama de eleger e destruir presidentes, poderá ter de retomar a estratégia.
Além de usar o
poder do seu departamento de Jornalismo para trazer à luz a podridão que se
esconde nos porões bolsonaristas, e assim jogá-lo aos leões, ou seja, a um
processo de impeachment, não é absurdo imaginar que ela esteja preparando um
candidato para enfrentar Bolsonaro em 22.
Apesar de ser
novato na política, Huck tem um grande apelo popular em razão de seu programa
semanal ter uma forte penetração junto ao povão de todo o Brasil e a sua
inexperiência política e administrativa poderá ser superada com a inclusão na
sua chapa de alguém como Flávio Dino, um dos governadores mais bem avaliados do
país, mas que não tem a popularidade de Huck.
Nada será
definido a curto prazo, mesmo porque ele próprio, Dino, já demonstrou interesse
em ser candidato a presidente. Mas, para se viabilizar, ele terá de se aliar ao
PT, já que seu partido, o PCdoB não tem
envergadura para uma disputa nacional e o PT não tem a menor intenção de
desistir de emplacar Lula em 22. O máximo que o PT lhe oferecerá é o posto de
vice.
Também não
será fácil Dino convencer seu partido a se aliar ao Cidadania, ao qual Huck
está filiado, pois, além de ser de centro, é descendente do PCB, que sempre foi
inimigo do PCdoB no campo da esquerda.
Entendo,
assim, que, se Dino de fato quiser levar a sério a chapa com Huck terá de mudar
de partido.
Noblat também
revelou que o padrinho dessas escaramuças é o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, o que mostra que, apesar de elogiar Doria publicamente, vê-lo no
Planalto em 22 não é o seu sonho de consumo.
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