(Foto: Esq.: EBC / Dir.: Guilherme Santos - Sul 21)
Eric Nepomuceno, Jornalista pela Democracia, avalia que a
resposta de Leonardo Boff a Ernesto Araújo "foi absolutamente cristã:
contundente, tão dura como merecida, mas ao mesmo tempo piedosa. Tanto assim,
que perdeu parte de seu precioso tempo para colocar as coisas em seu
lugar"
3 de janeiro
de 2020
Por Eric
Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia - Conheci Leonardo Boff lá por
1984 ou 85, quando ele foi castigado pelo então cardeal Ratzinger, que das
fileiras da juventude nazista saltou para a igreja e acabou virando Papa. Mas
foi a partir de 1992 que nos aproximamos, e nos tornamos fraternos amigos para
sempre.
Eu, ateu
irremediável, e Leonardo, um cristão absoluto, um católico inoxidável, que traz
com ele e espalha por onde anda a visão de um Cristo admirável até por quem,
como eu, duvida da sua existência...
Com Leonardo
tenho, às vezes, como aliás com meus amigos mais fraternos, divergências.
Por mais,
porém, que eu discorde em pontos específicos, em momento algum deixei de sentir
por ele um respeito absoluto.
Posso
assegurar que é das pessoas mais íntegras que conheci na vida, e conheci muitas
e fui e sou amigo de várias.
Pois nesta
quinta-feira ganhei um motivo a mais para reforçar o orgulho que sinto por essa
nossa amizade: Leonardo foi criticado e ofendido por Ernesto Araújo, o ministro
de Aberrações Exteriores do governo encabeçado por uma figura chamada Jair
Messias.
Fiquei
imaginando qual seria a minha reação se semelhante sacripanta tivesse elogiado
esse meu amigo fraterno.
De verdade, eu
teria de rever os últimos 28 anos da minha vida para tentar entender como é que
consegui gostar, respeitar e admirar tanto alguém que fosse elogiado por
Ernesto Araújo.
Pois a
resposta de Leonardo foi absolutamente cristã: contundente, tão dura como
merecida, mas ao mesmo tempo piedosa. Tanto assim, que perdeu parte de seu
precioso tempo para colocar as coisas em seu lugar.
Pensando bem,
acabo de descobrir uma nova divergência minha com Leonardo Boff: perdeu parte
de seu precioso tempo respondendo a um boçal, um mentecapto desequilibrado e
sem rumo.
Já escrevi e
disse, e repeti e repito, que com Jair Messias e seu ministro de Aberrações
Exteriores o meu país sumiu do mapa do mundo. O que Ernesto Araújo fez o
Itamaraty regredir em um ano levará um tempo enorme para ser reconstruído. Nem
na ditadura militar, que Jair Messias nega ter existido, a imagem brasileira
mundo afora foi tão enxovalhada, tão desprezada, e nunca nossa política externa
causou tamanha preocupação.
Ernesto Araújo
tem características que merecem ser reconhecidas. Por exemplo: dispondo de um
admirável quadro de funcionários altamente qualificados, demonstrou um talento
olímpico para descobrir as piores mediocridades e dar a elas postos
importantes.
Os melhores
quadros da casa foram destinados ao que é chamado, no Itamaraty, de DEC
(Departamento de Escadas e Corredores). Sei, através de amigos diplomatas
aposentados que mantêm contato com colegas mais jovens, que boa parte de
embaixadores com larga folha de bons serviços prestados a este país náufrago
passa o tempo na biblioteca do ministério, lendo e tomando notas, para não
precisar tropeçar com as mulas sem cabeça promovidas por Araújo.
O Brasil teve,
em 2019, o pior resultado de sua balança externa desde 2015, quando as
complicadas aspirações de Aécio Neves desandaram o golpe institucional que se
concretizaria no ano seguinte.
Em parte, esse
resultado se deu pela catástrofe vivida pela Argentina no último ano de
Mauricio Macri, candidato de Jair Messias à reeleição e que foi exemplarmente
catapultado para longe.
Mas em boa
parte, em enorme parte, pela destroçada imagem do país exibida mundo afora por
Jair Messias, seu trio de filhos hidrófobos, seus assessores, a começar por um
certo Filipe Martins, e, claro, por Ernesto Araújo, um ridículo que brilha
entre ridículos.
Que sorte, meu
querido Leonardo, que ele atacou você com a grosseria habitual dos que carecem
de qualquer vestígio de noção.
Imaginou se
ele, em lugar de atacar, tivesse elogiado? Eu perderia o sono...
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