(Foto: Isac Nobrega / PR)
É inacreditável, mas Bolsonaro informou que Ernesto Araújo está
de férias, e que só quando ele voltar irão conversar sobre a cobrança de
explicações do Irã, depois de o Brasil ter sido cobrado pelo país por seu
respaldo eloquente ao ataque de Trump, informa a jornalista Tereza Cruvinel
7 de janeiro de
2020
Colunista do
247, Tereza Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País
O chanceler
Ernesto Araújo fez como o menino que atira uma pedra na vidraça da vizinha, e
no meio do estrondo sai correndo e se esconde. É inacreditável que ele esteja
de férias no exterior numa hora destas. Mas Bolsonaro informou que está, e que
só quando ele voltar (onde estará descansando off-line neste mundo conectado?)
irão conversar sobre a cobrança de explicações do Irã, após o Brasil ter
oferecido respaldo eloquente ao ataque de Trump que matou o general iraniano
Soleimani. Os últimos sinais são de que Bolsonaro, na ausência do chanceler
olavista, agora está confuso, sofrendo pressões internas para que o governo
fique “pianinho”, conforme o colunista Lauro Jardim, de O Globo, disse ter
ouvido de ministro palaciano.
Apesar do
endosso formal do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, à postura
adotada, sabe-se que ela enfrenta oposição de amplos setores das Forças
Armadas, preocupados com a transformação do Brasil em alvo, ao entrar numa
guerra que não lhe diz respeito, imiscuindo-se num conflito do qual sempre se
manteve equidistante. A repulsa
brasileira tem sido ampla e foi externada por todos os veículos de comunicação,
a exemplo do editorial de hoje do jornal O Globo. É sabido também que os barões
do agronegócio, que só falam “pianinho” com o governo que ajudaram a eleger,
também fizeram chegar ao Planalto a contrariedade com uma postura que pode lhes
trazer enormes prejuízos, pois têm no Irã um grande comprador de milho e soja,
principalmente. Daí Bolsonaro ter saído hoje com declaração de que “o comércio
com o Irã vai continuar”. Mas quem determina isso não é o Brasil, é o Irã
comprador.
Os brasileiros
têm o direito de saber o que disseram as autoridades iranianas à encarregada de
negócios em Teerã, Maria Cristina Lopes, que atendeu à convocação no lugar do
embaixador que está de férias no Brasil. Trata-se de assunto de interesse
público, nacional. Mas Bolsonaro também disse hoje que “como estadista”, não
iria fazer revelações. Alguém precisa ensinar a ele que não basta ser chefe de
governo para virar estadista, coisa que ele está longe de ser. Mas é óbvio que
o Irã não vai deixar por isso mesmo, não vai se contentar com meras explicações
de uma interina. Alguma resposta haverá ao Brasil.
A nota em que o
Itamaraty externou apoio a Trump, segundo analistas, foi muito mais afirmativa
e atrevida que a manifestação de outros aliados históricos dos EUA, como a
Inglaterra. Nela o governo brasileiro
justifica o ataque terrorista da maior potência como combate ao terrorismo.
Logo, chama o general morto de terrorista. Chegou a afirmar, sem provas, como
sempre, que Soleimani esteve envolvido no ataque terrorista à sociedade judaica
AMIA, em Buenos Aires, em 1994, no qual
morreram 84 pessoas. O regime de Teerã anotou tudo isso, é claro.
Assim, os sinais
do governo brasileiro agora são contraditórios. Enquanto algumas
autoridades dizem que o Brasil deve
ficar “pianinho”, e pedem que ninguém se manifeste sobre o assunto, mesmo de
longe Araújo continua pilhando o Itamaraty. Os diplomatas locais e os embaixadores
em outros países foram orientados a não assinar livros de condolescências por
Soleimani e a não comparecer a eventos solidários ao Irã. Bolsonaro difama o
general morto mas diz que o comércio com o Irã vai continuar, e hesita em ir ao
encontro de Davos, onde certamente seria
uma figura deslocada entre governantes que adotaram posições mais cautelosas no
conflito.
Alguns analistas
dizem que Trump pode ter cometido um erro, dado um tiro no pé com o ataque.
Terá que retirar suas tropas do Iraque, colheu repulsa interna e pode até ter
alimentado o movimento por seu impeachment, sem falar no revide iraniano, que
deixa o mundo apreensivo. Mas Bolsonaro
e Araújo vão ganhar o quê com a postura subserviente a Trump, que segundo o
editorial do jornal o Globo, deixou de levar em conta os interesses naciois?
Araújo saiu de férias e Bolsonaro dá sinais de que perdeu o rumo. Mas o estrago
já está feito.
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