"A ação terrorista de Trump é um acontecimento de altíssimo
significado geopolítico e militar que vergonhosamente não mereceu a condenação
enérgica da ONU e tampouco dos governos satélites e capachos dos EUA, como os
do miliciano Jair Bolsonaro e os de muitos países europeus", diz o
colunista Jeferson Miola
4 de janeiro
de 2020
Integrante do
Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi
coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial
A ação
terrorista de Donald Trump que culminou no assassinato do general iraniano
Qasem Soleimani abre um capítulo imponderável de tensões, incertezas e
insegurança no mundo.
É preciso se
certificar se existe na história mundial um acontecimento de tamanho valor
semiótico, em que o comandante da hiperpotência imperial tenha ordenado o
assassinato do mais alto comandante militar de um Estado soberano para ser
executado no território dum terceiro Estado!
Nunca é demais
lembrar que os EUA jamais ousariam incursionar pelo território iraniano, nação
que possui poder nuclear suficiente para dissuadir aventuras invasoras.
A ação
terrorista de Trump é um acontecimento de altíssimo significado geopolítico e
militar que vergonhosamente não mereceu a condenação enérgica da ONU e tampouco
dos governos satélites e capachos dos EUA, como os do miliciano Jair Bolsonaro
e os de muitos países europeus.
A Rússia, a
China e a França, países que integram o Conselho de Segurança da ONU,
condenaram o terrorismo estadunidense e alertaram para os riscos que o
banditismo imperial representa para o mundo.
É difícil,
neste momento, predizer o que poderá acontecer, inclusive porque a vingança
prometida pelo Irã deverá acontecer de modo planejado e estratégico; não será
uma reação passional, atabalhoada ou improvisada.
O Irã sabe
que, dependendo de sua reação, poderá favorecer a reeleição do fascista que o
trata como inimigo capital. Por isso a inteligência do país planeja
diligentemente o quê fazer.
O certo, de
qualquer modo, é que haverá uma resposta. E deverá ser uma resposta
contundente, sistemática e duradoura a este ataque que corresponde a uma
declaração de guerra permanente.
As alegações
para o ato terrorista – a principal delas, a de que Soleimani programava ações
contra os EUA – são falsas, como eram falsas as alegações de Bush-filho em
relação às armas químicas do Sadam Houssein. O petróleo também não é, em
definitivo, o fator essencial para este empreendimento terrorista do Trump e da
elite estadunidense.
São farsas
escritas num release ditado por Trump para ser reproduzido pela mídia
hegemônica e pelos governos servis aos EUA mundo afora. A ação terrorista do
Trump foi motivada por cálculos domésticos da política estadunidense em ano
eleitoral, não por fatores de segurança nacional ou de qualquer outra índole.
Trump não é o
primeiro nem será o último ditador imperial a declarar guerras com objetivos
re-eleitorais. Antes de Trump, nas últimas décadas Reagan, os Bush [pai e
filho], Clinton e Obama também provocaram guerras contra inimigos imaginários
para alavancar seus planos re-eleitorais.
Bush-pai foi o
único deles que não conseguiu se reeleger, apesar da mobilização de guerra
contra o Iraque em 1991 [aliás, o Iraque e o Oriente Médio estão sempre
presentes como textos e pretextos das eleições dos EUA].
Na política
doméstica, Trump enfrenta o impeachment aprovado pela Câmara dos Deputados, de
maioria do Partido Democrata.
O discurso do
combate ao “inimigo externo”, por isso, é extremamente funcional e eficaz para
neutralizar a opinião como a da deputada democrata Nancy Pelosi, presidente da
Câmara dos Representantes [deputados], que diz que Trump declarou guerra sem
aprovação prévia do Congresso dos EUA.
Nunca houve,
em toda história dos EUA, presidente que tenha sido impedido estando em guerra
contra um “inimigo”. E não será desta vez que isso acontecerá.
Com a economia
dos EUA controlada, Trump precisaria estancar os danos que a ameaça do
impeachment poderiam representar ao seu plano de reeleição.
Com sua ação
terrorista, Trump poderá fortalecer seu plano de reeleição. Ele poderá colher
fruto re-eleitoral no curto prazo, mas deverá jogar os EUA e o mundo no
inferno.
Trump é um
criminoso que deveria responder no Tribunal Penal Internacional de Haia.
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