"A Globo tratou o escândalo como um 'não-acontecimento'. O
assunto não foi mencionado nem por um milésimo de segundo", escreve o
colunista Jeferson Miola, após a denúncia de que o chefe de Comunicação da
Presidência, Fabio Wajngarten, recebeu dinheiro de emissoras de TV. "A
Globo está na origem do bolsonarismo; é sócia-fundadora dessa etapa de terror
do Brasil"
16 de janeiro de
2020
Integrante do
Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi
coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial
A Folha de São
Paulo [15/1] denunciou que Fabio Wajngarten, chefe da Secretaria de Comunicação
da Presidência [SECOM], é proprietário da empresa FW Comunicação e Marketing.
Segundo a reportagem, através desta empresa Fabio “recebe dinheiro de emissoras
de TV e de agências de publicidade contratadas pela própria secretaria,
ministérios e estatais do governo Jair Bolsonaro”.
É um caso
enciclopédico de violação do código de ética do serviço público, de conflito de
interesses e de improbidade administrativa. Em outros tempos que não os atuais,
cinicamente denominados como de “normalidade institucional”, isso daria até
cadeia.
A Folha
“confirmou que a FW tem contratos com ao menos cinco empresas que recebem do
governo, entre elas a Band e a Record [e a SBT], cujas participações na verba
publicitária da Secom vêm crescendo” às custas da diminuição das verbas que a
Globo recebia, que desabaram de 48,52% em 2017 para 16,38% do total em 2019.
Mas o escândalo,
contudo, não cessa aí.
O chefe de
Comunicação do Bolsonaro escolheu Samy Liberman para ser seu chefe-adjunto na
Secretaria. Samy, por sua vez, é irmão de Fabio Liberman, que Fabio Wajngarten
escolheu para ser o administrador da sua empresa, a FW Comunicação e Marketing.
Ou seja, montaram uma maçaroca no gabinete ao lado do gabinete do Bolsonaro
para operar negócios ilícitos.
É desnecessário
descrever o que a Globo teria feito se ocorresse apenas uma milionésima parte
desse escândalo impensável em algum governo petista.
Mesmo sendo
prejudicada pela redução de 2/3 das verbas publicitárias por Bolsonaro, no
Jornal Nacional desta quarta-feira [15/1] a Globo tratou o escândalo como um
“não-acontecimento”. O assunto não foi mencionado nem por um milésimo de
segundo.
Pode-se aventar
muitas hipóteses para explicar a atitude omissa da Globo – menos a de que tenha
praticado jornalismo que faça jus à concessão pública e à autorização que uma
emissora de TV recebe para funcionar.
É razoável, por
exemplo, especular-se que a cumplicidade da Globo serve como elemento de
chantagem para engordar suas contas bancárias [várias delas em paraísos
fiscais] mediante a recuperação de dinheiro público gasto em publicidade.
A conivência da
Globo, assim, pode ser uma arma para recuperar e aumentar sua participação no
butim de guerra; no roubo brutal das riquezas e da renda nacional que a
burguesia promove desde o golpe de 2016.
Com seu
anti-jornalismo – também conhecido como jornalismo-lixo, jornalismo de guerra
ou Globo-lixo – a Globo deu uma tremenda aula sobre o que é ser bolsonarista.
Bolsonarismo não
é só o clã psicopata, não é só o PSL e as figuras escatológicas que saíram do
esgoto com a eleição de Bolsonaro. Bolsonarismo também não são somente os
milicianos e o Escritório do Crime; os parlamentares deploráveis, os ministros
e militantes horrorosos e fascistas; os extremistas religiosos, os terroristas
de extrema-direita ou os lavajatistas que corromperam o sistema de justiça para
viabilizar o projeto de poder da extrema-direita.
Bolsonarismo é a
forma que o ultraliberalismo assumiu no Brasil. Bolsonarismo é o pacto de
dominação firmado entre a oligarquia, o establishment estadunidense e as
finanças internacionais para promover a mais terrível e profunda destruição da
soberania e devastação das riquezas do país.
Bolsonarismo,
enfim, é a expressão da alma genuína da classe dominante. Bolsonaristas
disfarçados, como FHC e os golpistas dessa estirpe, que abandonaram qualquer
compromisso com a democracia, proclamam com ódio: o PT não! Mas, ao mesmo
tempo, esses canalhas jamais dizem não! ao Bolsonaro – como não disseram na
eleição de 2018, mesmo escutando o monstro fascista fazer da louvação da
tortura, do estupro, da violência, da morte, do ódio e dos torturadores seu
programa de governo.
No bolsonarismo
não existe probidade, decência, dignidade, ética pública, transparência,
republicanismo, liberdade, democracia e imprensa livre e decente.
A Globo está na
origem do bolsonarismo; é sócia-fundadora dessa etapa de terror do Brasil. Sem
a Globo não teria sido pavimentado o caminho que conduziu Bolsonaro ao poder.
A Globo, agora,
quer sua retribuição, sua compensação; a Globo, enfim, busca seu butim na
guerra de ocupação devastadora que a classe dominante promove contra o Brasil,
contra o mundo do trabalho e contra todo povo brasileiro.
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