(Foto: ADRIANO MACHADO - REUTERS)
"Jair Bolsonaro tem certa razão ao dizer que a imprensa
'envenena a sociedade', porque ele próprio é a consequência de um veneno
inoculado pelos meios de comunicação no Brasil nos últimos anos: o veneno do
antipetismo", diz Leonardo Attuch, editor do 247
7 de janeiro de
2020
Leonardo Attuch
é jornalista e editor-responsável pelo 247, além de colunista das revistas
Istoé e Nordeste
***
A esta altura do
campeonato, todos nós, jornalistas, deveríamos estar nos perguntando: onde foi
que erramos? Como foi possível chegar a este ponto? O que fez com que o Brasil
passasse a ser governado por um ser que, dia sim, dia não, ataca a imprensa,
assim como, provavelmente, vai ao banheiro?
Eu tenho uma
resposta, mas sem a pretensão de que seja a verdade absoluta e definitiva. A
meu ver, Jair Bolsonaro, que ontem disse que a imprensa 'envenena a sociedade'
e que jornalistas são uma 'raça em extinção', é a consequência direta de um
veneno inoculado pelos meios de comunicação corporativos no Brasil nos últimos anos:
o veneno do antipetismo.
Quantas pessoas
hoje, sem o menor conhecimento econômico, repetem a mentira de que 'o PT
quebrou o Brasil', quando todos os dados econômicos mostram exatamente o
contrário? Basta acessar as estatísticas oficiais para se dar conta de que, nos
governos de Lula e Dilma, o Brasil cresceu, reduziu a pobreza, manteve a
inflação sob controle, acumulou US$ 300 bilhões em reservas, e também produziu
superávits fiscais primários superiores aos dos governos que vieram antes e dos
que os sucederam. Pode-se discutir se o modelo de desenvolvimento ancorado no
Estado alcançava seus limites, mas daí a dizer que o 'PT quebrou o Brasil' vai
uma distância oceânica.
Em paralelo à
questão econômica, os veículos de comunicação corporativos também construíram
outra pós-verdade: a de que o PT inventou a corrupção no Brasil, quando
qualquer pessoa minimamente honesta pode se dar conta de que havia um problema
estrutural relacionado ao financiamento empresarial de campanhas políticas, que
atingia todos os partidos. Mais do que isso: qualquer pessoa com honestidade
intelectual também se dá conta de que todos os articuladores da conspiração
política de 2016, como José Serra, Aécio Neves, Aloysio Nunes e Michel Temer,
foram blindados – e continuam a ser – a despeito até de contas milionárias na
Suíça.
Foi a mídia
corporativa, portanto, que envenenou a sociedade brasileira ao criar a
narrativa usada por Bolsonaro e por seu séquito de ignorantes para chegar ao poder. Uma narrativa que parte de
duas grandes pós-verdades: "o PT quebrou o Brasil" e "o PT é
sinônimo de corrupção". Para a massa de desinformados, não importa se
Bolsonaro bate recorde em liberação de emendas parlamentares, com sua
"nova política", e também lota seu governo de nomes ligados ao DEM –
o tradicional partido das oligarquias, que é um dos recordistas em acusações de
corrupção. A mídia o protege porque dele recebe o que seus patrocinadores
pedem: Paulo Guedes e sua política de desmonte do estado e também de direitos
sociais.
De certa maneira,
pode-se até dizer que Bolsonaro é um presidente "zuêro", para usar
uma palavra típica da juventude. Ele pisa na imprensa e esculacha os
jornalistas da mídia corporativa porque sabe que seus verdadeiros donos – os
barões do grande capital – estão satisfeitos com sua política econômica. É uma
dura lição para todos os jornalistas que ajudaram a construir um Brasil
ancorado em mentiras apenas porque se deram conta de que, após vencer a quarta
eleição presidencial em 2014, o PT provavelmente também venceria a quinta, com
Lula em 2018. Foi exatamente por isso que Dilma foi deposta em 2016 por
"pedaladas fiscais", outra grande fake news, e Lula foi impedido de
disputar dois anos depois, em nome de um "combate à corrupção" que
colocou os políticos mais corruptos do Brasil no poder. A mídia corporativa
pariu Bolsonaro e não pode se queixar, nem tem o direito de rejeitar seu
próprio filho. Toma que o filho é seu!
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