(Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)
"Para dizer, como fez nesta segunda-feira, que “os
jornalistas são uma espécie em extinção, que o Ibama precisa cuidar”, é porque
eles se submetem aos seus desatinos. Se o presidente da Republica não se dá ao
respeito, cabe a nós, profissionais, às empresas e às suas entidades
representativas zelar pela dignidade da nossa profissão", diz Ricardo
Kotscho, do Jornalistas pela Democracia
6 de janeiro de
2020
Por Ricardo
Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia - “O pior é que ele disse a verdade. Isso que
vemos hoje não é jornalismo” (Dilea Frate, jornalista, ex-Globo, em comentário
no meu Facebook).
***
Claro que não
podemos generalizar, minha cara Dilea, porque nem todos os jornalistas se
comportam como sabujos do poder _ e não é de hoje.
Mas a submissão
de boa parte dos profissionais encarregados de fazer a cobertura dos chiliques
diários de Bolsonaro e seus inacreditáveis ministros, sem nenhuma reação, acaba
mesmo dando razão aos que não respeitam mais o nosso trabalho.
Quando a
ofensiva do presidente contra jornalistas e veículos de mídia chegou a um ponto
insuportável, numa escalada de insanidades, nenhuma atitude mais séria foi
tomada para dar um basta a esse esculacho.
Notas de
protesto ou de solidariedade das entidades de classe dos jornalistas e das
empresas são inúteis, palavras jogadas ao vento, porque sabemos que essa gente
não lê nada, e está se lixando para a opinião pública. Eles dão risada.
Eu cheguei a
propor aqui que os jornalistas e suas chefias simplesmente se recusassem a
participar desta pantomina do circo armado com a plataforma de microfones no
chiqueirinho do Palácio da Alvorada.
Fui criticado
por isso, sob a alegação de que é preciso divulgar todas as besteiras que o
capitão fala para a sua claque de seguidores, que fica num chiqueirinho ao
lado, o que já é uma aberração.
Pergunto: custa
exigir que a Presidência da República use a sala de reservada no Palácio do
Planalto, quando eu era secretário de Imprensa, em 2003, para o presidente e
outras autoridades falarem com os jornalistas, civilizadamente, todos sentados,
e seguindo regras pré-estabelecidas?
Hoje, o governo
nem tem mais secretário de Imprensa, cargo vago há vários meses, mas deve ter
alguém autorizado no Palácio do Planalto para receber representantes da ABI, da
Fenaj, da Abert e da ANJ em audiência, porque do jeito que está não pode
continuar.
Se não lêem,
pelo menos poderiam ouvir que não é mais possível colocar os jornalistas ao
relento no Alvorada, hostilizados por “grupos de apoio” do capitão, que
aplaudem e vaiam como se estivessem num programa de auditório. Até os circos
são mais organizados e respeitosos com seu público.
Para dizer, como
fez nesta segunda-feira, que “os jornalistas são uma espécie em extinção, que o
Ibama precisa cuidar”, é porque eles se submetem aos seus desatinos.
Se o presidente
da Republica não se dá ao respeito, cabe a nós, profissionais, às empresas e às
suas entidades representativas zelar pela dignidade da nossa profissão.
Qualquer
presidente de escola de samba ou técnico de futebol consegue conceder
entrevistas coletivas sem a presença de torcidas organizadas.
Por que o
Palácio do Planalto não pode? Por capricho do capitão?
Vida que segue.
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